Mais fortes para a luta que continua!

João Frazão (Membro da Comissão Política)

Se há lição que se pode tirar das gran­di­osas ac­ções do pas­sado sá­bado, é a de que elas con­firmam a ori­en­tação de­fi­nida pelo Co­mité Cen­tral do Par­tido na sua úl­tima reu­nião. Re­cor­demos que, após apre­ciar o de­sen­vol­vi­mento da acção po­lí­tica e das pri­meiras me­didas e in­ten­ções do Go­verno PSD/​CDS, o Co­mité Cen­tral apontou o ca­minho da luta como a res­posta ne­ces­sária ao quadro negro da ofen­siva que se an­te­ci­pava.

Há que mul­ti­plicar o 1 de Ou­tubro por cem, por mil

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Afir­mámos na al­tura que «cada uma das me­didas do ex­tenso pro­grama de agressão que o Go­verno e o grande ca­pital as­piram impor está de­pen­dente da apro­vação e con­cre­ti­zação», pelo que, su­bli­nhava-se, «no quadro da pro­lon­gada luta que se­gu­ra­mente se in­ten­si­fi­cará ao longo dos pró­ximos meses e anos, é da maior im­por­tância as­se­gurar desde já uma forte in­ter­venção no plano da acção po­lí­tica e da luta de massas».

Para além disso, si­tuou-se onde es­tava o co­ração da res­posta. «A luta de massas em que tem papel de­ter­mi­nante a luta da classe ope­rária e de todos os tra­ba­lha­dores di­na­mi­zada pela CGTP-IN e o mo­vi­mento sin­dical uni­tário, as­sume uma im­por­tância de­ci­siva.»

A di­mensão e a com­ba­ti­vi­dade das ma­ni­fes­ta­ções de 1 de Ou­tubro são disso a prova mais cabal. Não apenas porque as ave­nidas de Lisboa e Porto trans­bor­daram com a luta dos tra­ba­lha­dores de cen­tenas de em­presas e lo­cais de tra­balho e de todos os sec­tores de ac­ti­vi­dade, pú­blico e pri­vado, que ali trou­xeram a sua si­tu­ação e a sua rei­vin­di­cação con­creta (o re­gisto fo­to­grá­fico destas ac­ções dará por certo um ca­derno rei­vin­di­ca­tivo que o ca­pital não quer ver). Mas também porque à con­vo­ca­tória da CGTP-IN se jun­taram as po­pu­la­ções que deram voz às suas di­versas rei­vin­di­ca­ções, e pe­quenos e mé­dios em­pre­sá­rios e a agri­cul­tura fa­mi­liar, que qui­seram também acres­centar as suas ra­zões às muitas ra­zões de pro­testo.

Mas ainda porque todas as justas ra­zões con­cretas, rei­vin­di­ca­ções e pro­testos par­ti­cu­lares, mo­ti­va­ções das mais va­ri­adas que trou­xeram às ruas as quase du­zentas mil pes­soas no pas­sado sá­bado, en­gros­savam o caudal da re­cusa e re­jeição de uma po­lí­tica de mais de 35 anos, po­lí­tica de di­reita de re­cons­ti­tuição do poder do ca­pital, de acen­tu­ação da ex­plo­ração de quem tra­balha, de acu­mu­lação e con­cen­tração de ri­queza, que agora tem a forma do pro­grama de agressão aceite pela troika PS, PSD e CDS.

 

Mola im­pul­si­o­na­dora

 

Mas a acção de 1 Ou­tubro não se ficou por aqui. Como afirmou o Se­cre­tário-geral do Par­tido, o seu mag­ní­fico êxito «não é um ponto de che­gada», nem nos sa­tisfaz por si. As duas grandes ac­ções de Lisboa e Porto são, isso sim, uma mola im­pul­si­o­na­dora para a luta que con­tinua.

Não se es­tranha, por isso, o apoio e en­tu­si­asmo com que foi apro­vada a re­a­li­zação da se­mana de luta, de 20 a 27 de Ou­tubro, com greves e pa­ra­li­sa­ções nos lo­cais de tra­balho dos sec­tores pú­blico e pri­vado, com uma forte di­nâ­mica rei­vin­di­ca­tiva, e com ac­ções com ex­pressão de rua, contra a des­truição dos di­reitos la­bo­rais e so­ciais; contra o em­po­bre­ci­mento e as in­jus­tiças; contra o pro­grama de agressão aos tra­ba­lha­dores, ao povo e ao País; pelo em­prego, sa­lá­rios, pen­sões e di­reitos so­ciais; numa luta que tem de ser cada vez mais geral.

A 1 de Ou­tubro, uma vez mais se fez ouvir o grito dos que dizem Basta! E esse grito, ali­men­tado pelos que estão desde sempre na luta, foi agora acom­pa­nhado por muitos ou­tros mi­lhares, que vi­eram de novo, ou que há muito tempo não vi­nham e per­ce­beram que calar é con­denar o País ao bu­raco, ao abismo.

Nem se es­tranha também que, no seu se­gui­mento, te­nham apa­re­cido as já cos­tu­meiras ma­no­bras de di­versão, com os prin­ci­pais ór­gãos de co­mu­ni­cação so­cial a agitar o fan­tasma dos tu­multos e das ar­ru­aças, ba­se­ados em fontes po­li­ciais que de­pressa se apressam a des­mentir o que quer que seja.

Não por acaso – vol­temos à úl­tima reu­nião do Co­mité Cen­tral – se afir­mava que «a in­ten­si­fi­cação da luta, com ac­ções de maior ou menor di­mensão, or­ga­ni­zando e de­sen­vol­vendo a ini­ci­a­tiva e a ca­pa­ci­dade de re­sis­tência à pressão e à in­ti­mi­dação ide­o­ló­gica e re­pres­siva e si­mul­ta­ne­a­mente pre­ve­nindo e com­ba­tendo ac­ções pro­vo­ca­tó­rias que visam a sua des­cre­di­bi­li­zação e iso­la­mento, co­loca-se como questão cen­tral de ori­en­tação e de acção prá­tica».

A questão, pois, que agora está co­lo­cada aos co­mu­nistas e a todos os que não se re­signam, aos tra­ba­lha­dores que vêem ame­a­çados os seus di­reitos, aos jo­vens a quem é ne­gado o di­reito ao pre­sente e ao fu­turo, às po­pu­la­ções a quem querem roubar os ser­viços pú­blicos, aos pe­quenos e mé­dios em­pre­sá­rios a quem a banca suga todos os dias, aos agri­cul­tores que em­po­brecem a ama­nhar a terra, enfim, às ví­timas desta po­lí­tica, é, com as forças re­do­bradas das mag­ni­ficas ac­ções de sá­bado pas­sado, mul­ti­plicar o 1 de Ou­tubro por cem, por mil.



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