Oficiais, sargentos e praças dos três ramos das Forças Armadas usaram palavras duras para mostrarem a sua indignação e decidiram convocar uma concentração para 12 de Novembro.
Pouco depois das 15 horas de sábado, com o «grande auditório» do ISCTE já cheio, estavam ainda à entrada do edifício centenas de militares. O presidente da Associação Nacional de Sargentos (ANS) foi falar-lhes do que ia estar em debate no interior.
As mais recentes medidas de «austeridade» agravaram um descontentamento, de que as associações profissionais têm vindo a dar conta, mas que no encontro nacional foi visível, na grande afluência, e audível, no tom muito crítico das intervenções. Primeiro, falaram os dirigentes da ANS, da Associação dos Oficiais (AOFA) e da Associação dos Praças; depois, pela tribuna passaram rostos mais ou menos conhecidos, mas igualmente cáusticos para com o Governo e a política que está a prosseguir.
O resultado ficou plasmado numa breve moção, que deixou às direcções associativas um mandato dos militares, «para levarem a cabo as iniciativas necessárias para a defesa dos seus interesses socioprofissionais e das Forças Armadas», e a decisão de «promover uma concentração, no Rossio, em Lisboa, a partir das 15 horas do próximo dia 12 de Novembro, seguida de desfile, terminando no Terreiro do Paço, em frente ao Ministério das Finanças».
No documento, rejeita-se qualquer responsabilidade dos militares na actual situação, pois estes «encontram-se até entre os mais penalizados pelas duríssimas medidas que estão a ser impostas ao País, mas de que alguns se encontram estranhamente dispensados». Como motivos que justificam as deliberações, refere-se: «a campanha pública que visa denegrir a imagem dos militares e das Forças Armadas»; «a degradação da Saúde militar, sob a capa de uma suposta reforma»; «a descaracterização das Forças Armadas, ao arrepio dos princípios constitucionais»; «um violento ataque às condições de vida dos portugueses»; a redução das remunerações e o aumento generalizado dos impostos, que estão «a atirar muitos de nós para o limiar da impossibilidade de cumprir os compromissos financeiros assumidos»; e «os militares portugueses juraram, perante a Bandeira Nacional e o Povo Português, defender a Pátria, a Constituição da República e demais leis, mesmo com o sacrifício da própria vida».