CONSTRUIR A GREVE GERAL

«Só com a luta é pos­sível de­fender os in­te­resses de quem tra­balha.

É muito grande a força dos tra­ba­lha­dores quando unidos, or­ga­ni­zados e cons­ci­entes do seu papel.

A de­monstrá-lo estão as re­centes lutas dos tra­ba­lha­dores dos Trans­portes e da Ad­mi­nis­tração Pú­blica: os pri­meiros, er­guendo uma greve que, pela adesão em massa dos tra­ba­lha­dores do sector, cons­ti­tuiu um êxito as­si­na­lável; os se­gundos, con­cre­ti­zando uma das mai­ores ma­ni­fes­ta­ções dos úl­timos tempos, um imenso mar de gente que trouxe às ruas de Lisboa, vindas de todo o País, mais de 180 mil pes­soas.

Trata-se de duas po­de­rosas mo­vi­men­ta­ções de massas que ex­pressam bem, quer a de­ter­mi­nação de luta dos tra­ba­lha­dores que as pro­ta­go­ni­zaram, quer a am­pli­tude do des­con­ten­ta­mento ge­rado pela po­lí­tica de­vas­ta­dora das troikas, quer, ainda, a von­tade de mu­dança, a von­tade de pôr termo à po­lí­tica de di­reita e anti-pa­trió­tica que há trinta e cinco anos afunda o País e de a subs­ti­tuir por uma po­lí­tica pa­trió­tica e de es­querda.

A estas im­por­tantes ac­ções de massas há que acres­centar as muitas ini­ci­a­tivas pro­mo­vidas por todo o País pelas di­versas co­mis­sões de utentes, mo­bi­li­zando mi­lhares de pes­soas na luta contra as por­ta­gens, em de­fesa do Ser­viço Na­ci­onal de Saúde e dos ser­viços pú­blicos es­sen­ciais e por ou­tras rei­vin­di­ca­ções de ca­rácter local.

Todas estas lutas cons­ti­tuem inequí­vocos si­nais in­di­ci­a­dores das grandes pos­si­bi­li­dades de êxito para a greve geral de 24 de No­vembro.

Im­por­tante, pela vasta par­ti­ci­pação e pelo sig­ni­fi­cado de que se re­veste, foi igual­mente a ma­ni­fes­tação de mi­li­tares, no sá­bado pas­sado: mi­lhares de mi­li­tares, em nú­mero que sur­pre­endeu os pró­prios or­ga­ni­za­dores da ini­ci­a­tiva, des­fi­laram do Rossio para o Mi­nis­tério das Fi­nanças, afir­mando fron­tal­mente a sua de­ter­mi­nação de de­fender a con­dição mi­litar e a dig­ni­dade e dig­ni­fi­cação da ins­ti­tuição, ma­ni­fes­tando a sua opo­sição à po­lí­tica de con­ge­la­mentos que fere a co­esão e a dis­ci­plina e pro­cla­mando a sua in­tenção de de­fender os prin­cí­pios e os va­lores cons­ti­tu­ci­o­nais que a po­lí­tica em curso afronta e tru­cida.

 

Os co­men­ta­dores de ser­viço nos media do­mi­nantes cum­priram a ta­refa que lhes com­petia: des­va­lo­ri­zaram e me­no­ri­zaram as lutas re­a­li­zadas.

Fi­zeram-no, no en­tanto, em moldes que si­na­lizam o re­ceio do grande ca­pital pelo de­sen­vol­vi­mento da luta em geral e pelas pers­pec­tivas que as lutas re­centes abrem – e o re­ceio par­ti­cu­lar­mente, e para já, da grande greve geral de 24 de No­vembro. Fi­zeram-no igual­mente tendo cons­ci­ência de que as jor­nadas de luta da úl­tima se­mana cons­ti­tuíram, não apenas po­de­rosas ac­ções de massas, mas também a de­mons­tração de que a ofen­siva ide­o­ló­gica pre­gando a re­sig­nação, a pas­si­vi­dade e o con­for­mismo – bem como as chan­ta­gens, pres­sões e ame­aças ge­ra­doras de medos – está ser re­jei­tada por cada vez mais tra­ba­lha­dores.

E esse re­ceio e essa cons­ci­ência estão pre­sentes também nos co­men­tá­rios do pri­meiro-mi­nistro às lutas dos tra­ba­lha­dores, exi­bindo uma «com­pre­ensão» car­re­gada de hi­po­crisia, já que, como é sa­bido, ao mesmo tempo que leva por di­ante uma po­lí­tica de afronta aos in­te­resses dos tra­ba­lha­dores, vai pre­pa­rando me­didas re­pres­sivas.

E quanto a vir dizer que os tra­ba­lha­dores têm o di­reito de se ma­ni­festar… obri­gado, mas já cá se sabia… e sabia-se também que esse di­reito foi con­quis­tado por muitas e ár­duas lutas das massas tra­ba­lha­doras, quer no tempo do re­gime fas­cista, quer nesta de­mo­cracia bur­guesa em que vi­vemos – uma de­mo­cracia cada vez mais ca­ren­ciada de con­teúdo de­mo­crá­tico, como a po­lí­tica do Go­verno todos dias faz questão de de­mons­trar.

Veja-se o Or­ça­mento do Es­tado, já apro­vado na ge­ne­ra­li­dade pelo PSD e pelo CDS, com a cum­pli­ci­dade do PS: ele cons­titui o mais vi­o­lento ataque de sempre aos in­te­resses dos tra­ba­lha­dores, do povo e do País. Filho do pacto das troikas – esse si­nistro pacto de agressão cuja re­jeição se co­loca com um im­pe­ra­tivo na­ci­onal – este OE para 2012 vai mais longe do que todos os an­te­ri­ores no ataque à de­mo­cracia e aos seus va­lores e prin­cí­pios fun­da­men­tais.

 

Sendo evi­dentes as con­di­ções para o su­cesso da greve geral, é também evi­dente que muito e muito tra­balho há a fazer daqui até lá.

O es­cla­re­ci­mento dos tra­ba­lha­dores – lem­brando as causas e os cau­sa­dores da dra­má­tica si­tu­ação em que se en­contra o País; as causas e os cau­sa­dores do de­sem­prego e da pre­ca­ri­e­dade, dos baixos sa­lá­rios, dos roubos nos sa­lá­rios e nos sub­sí­dios de Natal e de fé­rias, da des­truição de ser­viços pú­blicos es­sen­ciais… – e a de­mons­tração de que só com a luta é pos­sível de­fender os in­te­resses de quem tra­balha, são fun­da­men­tais para ga­nhar para a adesão à greve os mais in­de­cisos, porque mais in­flu­en­ci­ados pela ofen­siva ide­o­ló­gica le­vada a cabo pelos pro­pa­gan­distas do grande ca­pital nos jor­nais, rá­dios e te­le­vi­sões de que este é pro­pri­e­tário – e são fun­da­men­tais também para ver na greve geral do dia 24, não um mo­mento para parar e des­cansar, mas um ponto de pas­sagem para as in­dis­pen­sá­veis lutas do fu­turo ime­diato.

Para os mi­li­tantes co­mu­nistas – quer os que de­sem­pe­nham ta­refas como de­le­gados e di­ri­gentes sin­di­cais, quer os que estão or­ga­ni­zados nas cé­lulas de em­presa e de local de tra­balho, quer os que ac­tuam nas or­ga­ni­za­ções de local de re­si­dência – para todo o co­lec­tivo par­ti­dário, dar o con­tri­buto para a cons­trução da greve geral é a ta­refa prin­cipal do mo­mento.

Como muitas vezes tem sido su­bli­nhado pelo Se­cre­tário-geral do Par­tido, o PCP não se li­mita a dar o seu apoio à greve geral: ele par­ti­cipa ac­tiva e in­ten­sa­mente na sua pre­pa­ração e afirma-se como seu em­pe­nhado cons­trutor – con­tri­buindo assim, de forma de­ter­mi­nante, para o seu êxito.