Mais de 180 mil contra Orçamento do empobrecimento

Inevitável é a luta

Mo­bi­li­zados para a greve geral, mais de 180 mil tra­ba­lha­dores da Ad­mi­nistração Pública re­pu­di­aram, sábado, em Lisboa, o pacto de agressão e o Orçamento do em­po­bre­ci­mento.

«Con­ti­nuar a luta para im­pedir a re­pe­tição do que está a acon­tecer na Grécia»

Image 9099

Na ma­ni­fes­tação na­ci­onal con­vo­cada pela Frente Comum dos Sin­di­catos da Ad­mi­nis­tração Pú­blica e que ob­teve a con­ver­gência dos sin­di­catos da UGT e in­de­pen­dentes, os tra­ba­lha­dores des­fi­laram da Praça do Marquês de Pombal aos Res­tau­ra­dores, en­chendo de pro­testos a Ave­nida da Li­ber­dade.
Com pa­la­vras de ordem, panos, pla­cards e ban­deiras – as­si­na­lando-se a pre­sença de muitas ban­deiras ne­gras além das sin­di­cais – ga­ran­tiram tudo ir fazer, em cada re­gião, lo­ca­li­dade e local de tra­balho, até ao dia da greve geral, para um grande su­cesso desta luta.

Avi­saram que pros­se­guirão o com­bate até der­ro­tarem o pacto de agressão do Go­verno ao povo por­tu­guês e o Or­ça­mento do Es­tado de em­po­bre­ci­mento dos tra­ba­lha­dores, de au­toria do Go­verno PSD/​CDS-PP, do PS e da troika es­tran­geira.

Fun­ci­o­ná­rios pú­blicos do poder cen­tral e local, jo­vens com con­tratos pre­cá­rios e efec­tivos, iden­ti­fi­cados com a In­ter­jovem/​CGTP-IN, tra­ba­lha­dores civis das Forças Ar­madas e das in­dús­trias de De­fesa, pro­fes­sores, en­fer­meiros, mé­dicos, muitos re­for­mados, apo­sen­tados e pen­si­o­nistas, de­sem­pre­gados, au­xi­li­ares da Saúde e da acção edu­ca­tiva, in­ves­ti­ga­dores, agentes da PSP e GNR, fun­ci­o­ná­rios ju­di­ciais, da ASAE e do SEF, vindos de todas as re­giões, in­cluindo as au­tó­nomas, vai­aram a po­lí­tica de di­reita e o Or­ça­mento do Es­tado, exi­gindo uma mu­dança de po­lí­tica que im­peça perdas sa­la­riais e pi­ores con­di­ções de vida e de tra­balho. 

 

Re­gres­saram os «vam­piros»

 

«Este ataque tem como ob­jec­tivo es­tra­té­gico atingir pi­lares do Es­tado so­cial con­sa­grados na Cons­ti­tuição da Re­pú­blica Por­tu­guesa, como a Se­gu­rança So­cial, a Saúde, a Edu­cação, a Jus­tiça, a ha­bi­tação, os trans­portes, a energia, a água e ou­tros sec­tores que dão res­postas in­dis­pen­sá­veis a ne­ces­si­dades bá­sicas de po­pu­la­ções e das suas fa­mí­lias», avisou Ana Avoila, co­or­de­na­dora da Frente Comum, na in­ter­venção que en­cerrou o pro­testo geral, exor­tando os tra­ba­lha­dores a lutar. «Se ti­vermos medo, se não re­sis­tirmos, se não lu­tarmos, fi­ca­remos cada vez pior, porque eles são como os vam­piros, querem sugar-nos o sangue todo», su­bli­nhou.

«Fica claro que os úl­timos go­vernos e este estão fora da lei e co­metem crimes de abuso de poder, quando fazem ter­ro­rismo le­gis­la­tivo ao apro­varem leis que re­tiram ou roubam nos sa­lá­rios, nas pen­sões, con­gelam as car­reiras e as re­formas, e não res­peitam os di­reitos ad­qui­ridos», acusou a di­ri­gente.

 

Feroz ataque


Lem­brando que o ac­tual «ataque feroz aos tra­ba­lha­dores da Ad­mi­nis­tração Pú­blica tem como alvo prin­cipal a des­truição do ser­viço pú­blico em todas as suas di­men­sões e a en­trega de grandes áreas de ne­gócio aos se­nhores do grande ca­pital, para en­ri­quecer sempre os mesmos», Ana Avoila lem­brou o au­mento das taxas mo­de­ra­doras na Saúde, os cortes em sub­sí­dios e em pres­ta­ções da Se­gu­rança So­cial, os au­mentos dos custos com a Edu­cação, a re­dução de todos os di­reitos so­ciais e a des­truição de di­reitos la­bo­rais.

«Os tra­ba­lha­dores da Ad­mi­nis­tração Pú­blica são in­dis­pen­sá­veis para ga­rantir a efec­ti­vação das fun­ções so­ciais do Es­tado na Saúde, Edu­cação, nos tri­bu­nais, na se­gu­rança pú­blica e po­li­ci­a­mento, e sem eles essas fun­ções não existem», ex­plicou, su­bli­nhando que os fun­ci­o­ná­rios pú­blicos não são os res­pon­sá­veis pelos bu­racos fi­nan­ceiros e que «os cul­pados – PS, PSD e CDS-PP – são quem tem go­ver­nado Por­tugal».
Re­cordou como os par­tidos que se têm re­ve­zado no poder «pro­me­teram me­lhores con­di­ções de vida, aquando da en­trada na Co­mu­ni­dade Eu­ro­peia», e de­pois pros­se­guiram uma po­lí­tica de des­truição da pro­dução, das pescas, da agri­cul­tura e do te­cido in­dus­trial, «tendo-se li­mi­tado a gerir fundos que foram para as suas cli­en­telas, em troca da des­truição do apa­relho pro­du­tivo».
Afir­mando que «hoje temos os sa­lá­rios mais baixos da União Eu­ro­peia», re­cordou como «os tra­ba­lha­dores têm re­sis­tido e lu­tado contra tudo isto em grandes ma­ni­fes­ta­ções e greves, e têm de con­ti­nuar a luta para im­pedir que se re­pita o que está a passar-se na Grécia».


Cortes bru­tais

 

Ana Avolia sa­li­entou os cortes nos sa­lá­rios, nos sub­sí­dios de fé­rias e de Natal; nas re­formas e pen­sões; o au­mento dos ho­rá­rios de tra­balho sem mais re­mu­ne­ração; a re­cusa do pa­ga­mento do tra­balho ex­tra­or­di­nário; o con­ge­la­mento da pro­gressão nas car­reiras bem como de ad­mis­sões e mu­danças de po­sição re­mu­ne­ra­tória obri­ga­tó­rias; a mo­bi­li­dade es­pe­cial e as quotas na ava­li­ação de de­sem­penho; as me­didas para re­duzir «bru­tal­mente áreas fun­da­men­tais como a Edu­cação, a Saúde, a Se­gu­rança So­cial e o Poder Local». Con­fir­mando-se estas in­ten­ções, «um quarto do nosso poder de compra terá sido re­du­zido em 2012», avisou, ex­pli­cando que ocor­rerá «uma di­mi­nuição sig­ni­fi­ca­tiva e brutal dos sa­lá­rios e das pen­sões».

A di­ri­gente sin­dical acusou o an­te­rior Go­verno PS – que me­receu tantas vaias dos ma­ni­fes­tantes como o ac­tual – por ter con­ti­nuado e acen­tuado a po­lí­tica de di­reita, e os par­tidos que acor­daram o pacto de agressão com a troika es­tran­geira, por aca­barem «sempre por se en­tender».

 

Avisar toda a gente


«É pre­ciso avisar toda a gente de que não vamos mais em can­tigas, não acei­tamos roubos do que é nosso», pros­se­guiu Ana Avoila, sa­li­en­tando que se os tra­ba­lha­dores não tra­varem esta po­lí­tica, «mais à frente irão tentar roubar-nos outra vez, através do au­mento dos im­postos ou do custo de vida, da elec­tri­ci­dade, do gás, dos trans­portes, das rendas de casa».

Avoila con­denou ainda a fa­ci­li­tação do des­pe­di­mento sem justa causa, a re­dução das in­dem­ni­za­ções e os des­pe­di­mentos mais ba­ratos, su­bli­nhando que «o em­prego está ame­a­çado», es­tando mais gra­ve­mente ame­a­çados os tra­ba­lha­dores «que en­traram para a Função Pú­blica em re­gime de Con­trato de Tra­balho em Fun­ções Pú­blicas, desde 2008, ou em re­gime de con­trato in­di­vi­dual nos hos­pi­tais EPE, em todos os or­ga­nismos de re­gime ju­rí­dico EPE e também os tra­ba­lha­dores das IPSS e das mi­se­ri­cór­dias».
Após a in­ter­venção, An­tónio da Costa e Rui Curto in­ter­pre­taram «Os vam­piros», de José Afonso e ou­tras can­ções de Abril, antes do en­cer­ra­mento ofi­cial da jor­nada de luta ao som do Hino da CGTP-IN, «A In­ter­na­ci­onal» e «Ven­ce­remos».

 

Magnífica res­posta à re­signação

 

Pre­sente na ma­ni­fes­tação com uma de­le­gação da di­recção do Par­tido, em so­li­da­ri­e­dade com esta luta, o Se­cre­tário-geral do PCP, con­si­derou que esta foi «uma mag­ní­fica res­posta dos tra­ba­lha­dores à ide­o­logia das ine­vi­ta­bi­li­dades, do con­for­mismo e da re­sig­nação, e é já uma grande de­mons­tração da grande greve geral que vamos ter no dia 24».  

Je­ró­nimo de Sousa, em de­cla­ra­ções aos jor­na­listas, lem­brou que os tra­ba­lha­dores da Ad­mi­nis­tração Pú­blica têm sido alvo de ofensas à sua dig­ni­dade e aos seus di­reitos, «mas não podem ser tra­tados se­pa­ra­da­mente dos tra­ba­lha­dores do sector pri­vado, porque, com o seu pacto de agressão, este Go­verno pro­cura atingir todos os que vivem do ren­di­mento do seu tra­balho». Por isso mesmo, o Se­cre­tário-geral do PCP exortou toda a po­pu­lação tra­ba­lha­dora a par­ti­cipar na greve geral de 24 de No­vembro e em todas as lutas que se se­guirem.


Mais artigos de: Em Foco

Histórica manifestação de militares

A maior ma­ni­festação de mi­li­tares dos três ramos das Forças Ar­madas e fa­mi­li­ares teve lugar no sábado, em Lisboa, contra a aus­te­ri­dade, pela dig­ni­ficação da sua condição.

Vozes unidas para prosseguir a luta

Que a luta não pode e não vai ficar por aqui terá sido a mensagem mais forte da grande manifestação de 12 de Novembro, que a Frente Comum de Sindicatos começou por convocar e que acabou por congregar a adesão das estruturas mais representativas...