A única esperança está na luta do povo

Grécia pára amanhã

«Não temos outra es­colha. Ou nos ajo­e­lhamos e acei­tamos tra­ba­lhar por 300 ou 500 euros para sempre (…) ou tra­vamos novas ba­ta­lhas para der­rubar a brutal po­lí­tica an­ti­po­pular».

Po­lí­ticas do ca­pital afundam Grécia na re­cessão

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O apelo da Frente Sin­dical de Todos os Tra­ba­lha­dores (PAME) é claro: «No dia 1 de De­zembro nin­guém vai tra­ba­lhar. As fá­bricas, es­cri­tó­rios, portos devem ficar de­sertos. As má­quinas devem parar».

«Os tra­ba­lha­dores, as ca­madas po­pu­lares», sa­li­enta a PAME, «nada têm a es­perar do novo go­verno. Pelo con­trário, de­vemos afirmar a pa­lavra de ordem: “Abaixo o go­verno e os par­tidos da plu­to­cracia. Elei­ções já».

Aler­tando que o ob­jec­tivo do go­verno da «frente negra», cons­ti­tuído pelo PASOK (so­ciais-de­mo­cratas), ND (con­ser­va­dores) e Laos (na­ci­o­na­listas), é aplicar novas bru­tais me­didas para re­duzir ainda mais os sa­lá­rios e pen­sões, fle­xi­bi­lizar as re­la­ções la­bo­rais e co­brar novos im­postos ao povo, a PAME apela a uma «luta mais de­ci­siva, mais in­tensa e ainda mais mas­siva».

Tal como a greve geral de 48 horas, em 19 e 20 de Ou­tubro, co­locou o go­verno do PASOK em di­fi­cul­dades, aca­bando por pro­vocar a sua queda, a PAME con­si­dera que a greve de amanhã «não é apenas mais uma greve», mas a «con­ti­nu­ação e a in­ten­si­fi­cação do com­bate na guerra que a plu­to­cracia nos de­clarou».

O dia de pa­ra­li­sação será mar­cado por ma­ni­fes­ta­ções na ca­pital grega em vá­rias ci­dades. Tanto o prin­cipal sin­di­cato grego do sector pri­vado, GSEE, como a fe­de­ração dos fun­ci­o­ná­rios pú­blicos, ADEDY anun­ci­aram a sua adesão à greve geral, a sé­tima con­vo­cada desde o início do ano.

Os fun­ci­o­ná­rios pú­blicos re­cusam o plano que in­clui o corte de 300 mil fun­ci­o­ná­rios do quadro de pes­soal até 2015. O pro­testo geral ocorre numa al­tura em que o par­la­mento grego de­bate o Or­ça­mento do Es­tado para 2012, cuja pro­posta prevê um acen­tuado agra­va­mento dos im­postos, num mon­tante de 3600 mi­lhões de euros.

 

Re­cusar a mi­séria

 

A gra­vís­sima crise que se abateu sobre largas ca­madas da po­pu­lação é tes­te­mu­nhada por um re­la­tório ofi­cial, pu­bli­cado pelo jornal Ethnos, se­gundo o qual é cada vez maior o nú­mero de fa­mí­lias que en­tregam os seus fi­lhos a ins­ti­tui­ções so­ciais, pú­blicas ou pri­vadas, de modo a as­se­gurar-lhes a as­sis­tência e ali­men­tação diária que já não podem ofe­recer-lhes.

O diário, ci­tado pela Prensa La­tina (21.11), re­fere que estas si­tu­a­ções de po­breza ex­trema so­freram um au­mento de 65 por cento em com­pa­ração com o ano pas­sado, acres­cen­tando que, em oito de cada dez casos, as fa­mí­lias são gregas e as res­tantes imi­grantes.

A agência de in­for­mação cu­bana re­fere ainda dados do Banco da Grécia in­di­cando que 12,9 por cento das fa­mí­lias gregas não têm ac­tu­al­mente qual­quer tipo de ren­di­mento, nem sa­la­rial nem pres­ta­ções so­ciais.

Ao fim de ano e meio de in­ter­venção da troika, a eco­nomia está mo­ri­bunda, como re­co­nheceu, dia 23, o Banco da Grécia, avi­sando que o país en­frenta o risco de uma saída de­sor­de­nada da zona do euro.

A au­to­ri­dade ban­cária con­si­derou igual­mente que a dí­vida pú­blica se tornou in­sus­ten­tável, e prevê que o Pro­duto In­terno Bruto di­minua 5,5 por cento ou mais neste ano, de­vendo con­tinua a cair em 2012.

Por seu turno, o Mi­nis­tério das Fi­nanças grego prevê que a taxa ofi­cial de de­sem­prego atin­girá, este ano, os 15,4 por cento. Para 2012, as pre­vi­sões go­ver­na­men­tais apontam desde já para uma taxa de 17,1 por cento.

 

PAME so­li­dária com a greve geral

 

Um grupo de ac­ti­vistas sin­di­cais da Frente Mi­li­tantes de Todos os Tra­ba­lha­dores (PAME) con­cen­trou-se no dia 24 frente à em­bai­xada de Por­tugal em Atenas, onde en­tregou uma re­so­lução ex­pres­sando so­li­da­ri­e­dade e apoio aos tra­ba­lha­dores por­tu­gueses por oca­sião da greve geral.

No do­cu­mento, a di­recção da es­tru­tura sin­dical sa­li­enta que a ofen­siva an­ti­po­pular na Grécia, em Por­tugal e nou­tros países da União Eu­ro­peia, que se traduz em su­ces­sivas me­didas de aus­te­ri­dade, está a trans­formar a vida das fa­mí­lias tra­ba­lha­doras num in­ferno.

Neste mo­mento de im­passe co­lo­cado pela crise, o ca­pital pro­cura obter van­tagem, au­men­tando a taxa de ex­plo­ração, ace­le­rando os pro­cessos de re­es­tru­tu­ração e pri­va­ti­za­ções para ga­rantir novos mer­cados de ca­pital que pro­por­ci­onem taxas de lucro sa­tis­fa­tó­rias.

A PAME sa­li­enta que estes de­sen­vol­vi­mentos con­firmam a aná­lise do mo­vi­mento sin­dical sobre as causas e pro­fun­di­dade da crise do ca­pi­ta­lismo, as suas con­sequên­cias para os tra­ba­lha­dores e o povo, e a na­tu­reza re­ac­ci­o­nária da UE en­quanto bloco im­pe­ri­a­lista.



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