Defender o sistema público
As medidas inscritas no Orçamento do Estado para 2012 terão profundos impactos no sistema público de Segurança Social, alertou o PCP numa conferência de imprensa realizada no sábado.
O sistema público tem mostrado as suas capacidades e potencialidades
Como lembrou Fernanda Mateus, da Comissão Política, consta da proposta de Orçamento do Estado –
Mas não é tudo. O processo de redução de despesas com prestações sociais no âmbito do regime não contributivo prosseguirá em 2012, ampliando assim os «efeitos devastadores dos cortes registados em 2011 pelo governo PS aos abonos de família, subsídio social de desemprego, rendimento social de inserção, entre outros». Assim se remeterá «milhares de cidadãos em situação de carência económica e social» para medidas de carácter assistencialista e caritativo, mantendo-os assim numa «espiral de pobreza e de exclusão social».
A dirigente comunista realçou ainda que o aumento das verbas para a acção social, tendo como eixo central o Programa de Emergência Social, «representa não a expressão de preocupação social do Governo PSD/CDS-PP pelas situações de pobreza, mas um processo que tem como horizonte a criação de um sistema com objectivos assistencialistas». Para Fernanda Mateus, em causa está ainda a agudização dos problemas existentes nos centros regionais de Segurança Social face à redução dos meios técnicos e humanos, o ataque às condições de trabalho e aos direitos dos seus trabalhadores. Isto aprofundará a fragilização da capacidade de resposta dos serviços.
Para a dirigente do Partido, é «inaceitável» que os cortes com as despesas sociais no pagamento de prestações sociais do regime contributivo sejam a resposta do Governo face à perspectiva de redução de receitas para a Segurança Social, por via de menores contribuições dos trabalhadores e das entidades patronais. Tal perspectiva, afirmou, «não é uma fatalidade, antes o resultado da aplicação do programa de agressão e do Orçamento do Estado».
Em marcha está, para o PCP, a «liquidação do sistema público de Segurança Social enquanto instrumento de redistribuição do rendimento nacional», minando o princípio de solidariedade que o alicerça. Trata-se, denunciou Fernanda Mateus, de usar a «crise» e o «défice» para colocar a Segurança Social ao serviço dos interesses do grande capital, «através de uma mais profunda redução dos custos do trabalho libertando-o das suas obrigações para com a protecção social dos trabalhadores em diversas eventualidades e situações de risco».
As reformas não são uma dádiva
Lembrando que o sistema público de Segurança Social, criado na sequência da Revolução de Abril, «tem mostrado as suas capacidades e potencialidades enquanto instrumento de protecção social de todos os portugueses», Fernanda Mateus realçou que a subversão dos seus objectivos e finalidades representa um «regresso ao passado, um inaceitável retrocesso social e civilizacional contra o qual é preciso lutar».
Acusando o Governo de procurar «criar a ilusão de que a redução das despesas com o pagamento das reformas e pensões afectará especialmente os reformados com pensões ditas mais altas», apresentando-a assim como uma medida justa, a dirigente do PCP realçou que uma coisa «são as pensões milionárias que não decorrem de descontos, outra são pensões mais elevadas que resultam de descontos de trabalhadores ao longo de uma vida de trabalho». Estas, para além de garantirem os direitos dos próprios, «geram receitas para o pagamento das pensões de quem tem salários mais baixos».
O pagamento de reformas, lembrou Fernanda Mateus, «não é uma dádiva, mas um direito dos trabalhadores que lhes advém dos descontos feitos ao longo de uma vida de trabalho». A base de receita para este pagamento a cada geração de reformados é feita pelos descontos de cada geração de trabalhadores: «Esta é a essência do modelo de repartição assente num esquema solidário.»
Assim, afirmou, os problemas da Segurança Social não residem nas pensões elevadas, mas nas consequências de uma política «assente nos baixos salários, nos reduzidos períodos contributivos, no elevado volume de evasão e dívida à Segurança Social e num sistema de financiamento que deixa de lado os lucros das grandes empresas».