A luta é por Abril

José Casanova

Do Por­tugal de Abril já pouco resta: o que os tra­ba­lha­dores e o povo con­quis­taram nos dois anos do pro­cesso re­vo­lu­ci­o­nário tem vindo a ser sis­te­ma­ti­ca­mente li­qui­dado por 35 anos de po­lí­tica de di­reita exe­cu­tada por su­ces­sivos go­vernos PS, PSD, CDS.

À de­mo­cracia avan­çada de Abril – eco­nó­mica, so­cial, po­lí­tica, cul­tural, am­pla­mente par­ti­ci­pada e tendo a in­de­pen­dência na­ci­onal como re­fe­rência bá­sica fun­da­mental – su­cedeu-se esta di­ta­dura do grande ca­pital que hoje do­mina Por­tugal e em que os grandes grupos eco­nó­micos e fi­nan­ceiros  - os que foram sus­ten­tá­culo do fas­cismo  mais os que en­tre­tanto nas­ceram - se afirmam como donos disto tudo e, na si­tu­ação ac­tual, de­legam a de­fesa dos seus in­te­resses na troika ocu­pante e na troika co­la­bo­ra­ci­o­nista, as quais, em ser­viço com­bi­nado, pros­se­guem di­li­gen­te­mente a ta­refa de afundar Por­tugal.

 Os ní­veis de ex­plo­ração, com as de­si­gual­dades so­ciais que lhe são ine­rentes, acen­tuam-se de tal modo que só en­con­tram pa­ra­lelo nos tempos do fas­cismo – e o res­peito pelas li­ber­dades, di­reitos e ga­ran­tias dos tra­ba­lha­dores e dos ci­da­dãos está cada vez mais dis­tante de Abril e cada vez mais pró­ximo do an­ti­ga­mente.

A in­de­pen­dência e a so­be­rania na­ci­o­nais têm vindo a ser tra­tadas como lixo que se deita para o res­pec­tivo cai­xote – o mesmo cai­xote para onde tem sido dei­tada a Cons­ti­tuição da Re­pú­blica Por­tu­guesa, Lei Fun­da­mental do País.

E «o pior está para vir», dizem os cul­pados, todos sa­cu­dindo a água do ca­pote em re­lação às res­pon­sa­bi­li­dades reais que têm – e todos re­me­tendo uns para os ou­tros as culpas no car­tório.

 Um deles, por sinal o prin­cipal res­pon­sável disto tudo – Mário So­ares – diz-se, até, vejam bem!, muito pre­o­cu­pado com as «de­si­gual­dades e as in­jus­tiças so­ciais», muito pre­o­cu­pado com o «fu­turo da de­mo­cracia», e blá-blá-blá... ele que foi o pai da contra-re­vo­lução; ele que é pai da po­lí­tica de di­reita; ele que é pai da di­ta­dura do grande ca­pital hoje do­mi­nante...

Para a po­lí­tica de di­reita e para a cam­bada que a exe­cuta, só há uma res­posta: a luta de massas - que, por tudo o que acima fica dito, é sempre e acima de tudo uma luta por Abril.



Mais artigos de: Opinião

Patriótico e de esquerda

Vasco Pulido Valente (VPL), nome artístico de um escriba do «Público», que foi Sec. Estado de Sá Carneiro e apoiante de Mário Soares e deu em ex-deputado PSD «desiludido», cujas crónicas trucidam a história da humanidade, à deriva dos seus...

De cimeira em cimeira

Nos media «de referência» as notícias sobre economia começam a adquirir uma dimensão mística. Veja-se o «Público» (11.12.2012): «Comerciantes à espera de um milagre no Natal». Este título, aliás, faz todo o sentido se...

Inadmissível

Ignacio Ramonet, director do Le Monde Diplomatique, afirmou numa edição deste mês que «por ano, a economia real (empresas de bens e de serviços) cria em todo o mundo uma riqueza (PIB) estimada em 45 biliões de euros (45 milhões de milhões). Concomitantemente,...

Um roubo, mas não só

A de­cisão do Go­verno do PSD/​CDS-PP de au­mentar as taxas mo­de­ra­doras, com au­mentos que chegam a tri­plicar o valor ac­tual para assim ob­terem uma re­ceita de 200 mi­lhões de euros, re­flecte bem o des­prezo deste Go­verno pelas pes­soas, num mo­mento em que as fa­mí­lias passam por grandes di­fi­cul­dades eco­nó­micas.

O Conselho Europeu, contradições e luta

As decisões do Conselho Europeu de 8 e 9 de Dezembro são particularmente graves para o nosso País. A sua consumação tornaria Portugal um país tutelado. Trata-se de uma situação inaceitável que o PCP combaterá com energia, procurando unir e mobilizar...