Bem aventurados os mais ricos da Terra! (1)

Jorge Messias

«Di­nheiro é poder. O poder en­laçou-se com a po­lí­tica. A partir deste ponto, os pro­blemas po­lí­ticos fundem-se com a in­fluência fi­nan­ceira do Va­ti­cano na ad­mi­nis­tração mo­ne­tária» (Es­tebam Torres/​In­ternet).

«A Igreja está a tornar-se para muitos no prin­cipal obs­tá­culo à fé. Nela não con­se­guem ver mais que a am­bição hu­mana pelo poder... » (Jo­seph Rat­zinger, 1977, como Pre­feito do ex-Tri­bunal do Santo Ofício), antes de ser papa.

«A cons­ti­tuição de uma Au­to­ri­dade Pú­blica Mun­dial ao ser­viço do bem comum é o único ho­ri­zonte com­pa­tível com as re­a­li­dades glo­bais… dando vida a al­guma forma de con­trolo mo­ne­tário para gerir o mer­cado fi­nan­ceiro… mesmo que à custa da trans­fe­rência gra­dual e equi­li­brada de uma parte das atri­bui­ções (de so­be­rania) na­ci­o­nais» («Nota sobre a re­forma do sis­tema fi­nan­ceiro e mo­ne­tário mun­dial», Co­missão Pon­ti­fícia Jus­tiça e Paz, Ou­tubro 2011).

O Va­ti­cano aban­donou o seu si­lêncio «de chumbo» para mos­trar como está atento à crise geral do ca­pi­ta­lismo e como se em­penha em salvar o sis­tema. Não é sem razão de ser que isto acon­tece. A Igreja ca­tó­lica é ac­tu­al­mente o mais po­de­roso grupo fi­nan­ceiro mun­dial. Em­bora seja im­pos­sível dar se­quer uma ideia apro­xi­mada das di­men­sões reais do seu po­derio – so­bre­tudo po­lí­tico, eco­nó­mico e fi­nan­ceiro – fa­çamos no en­tanto uma in­cursão no que é pra­ti­ca­mente des­co­nhe­cido.

Temos visto pelos jor­nais como o preço dos me­tais pre­ci­osos, no­me­a­da­mente o oiro, tem cres­cido em flecha nos re­centes tempos da crise. Pois a Igreja mun­dial, re­co­nhe­cida como a mais im­por­tante de­ten­tora de me­tais pre­ci­osos, tem re­co­lhido a maior parte dos lu­cros destas os­ci­la­ções cam­biais. Nos anos 80 do sé­culo vinte, antes da ga­lo­pada dos preços co­meçar, cal­cu­lava-se que em todo o mundo o Va­ti­cano de­ti­vesse nos seus co­fres lin­gotes num valor su­pe­rior a 6 mil mi­lhões de dó­lares. Isso, só em «oiro só­lido» (oiro em barras, com ex­clusão de ou­tros me­tais pre­ci­osos tra­ba­lhados ou não (pe­pitas, ob­jectos de oiro, mo­edas, peças in­crus­tadas em al­tares, etc.).

Também, tanto quanto se sabe, por al­turas dos fi­nais do sé­culo XX e só nos bancos suíços e in­gleses o Va­ti­cano de­tinha em ac­ções, pe­dras pre­ci­osas, ob­jectos de arte, etc., etc., re­servas su­pe­ri­ores a 11 bi­liões de dó­lares. Os poucos dados co­nhe­cidos per­mitem, igual­mente, cal­cular que os bens ecle­siás­ticos num só país – os EUA – con­si­de­rado es­pelho da pros­pe­ri­dade ca­pi­ta­lista, a Igreja ad­mi­nis­trava va­lores em bens imo­bi­liá­rios, ac­ções, de­pó­sitos fi­nan­ceiros e ou­tros in­ves­ti­mentos que ex­ce­diam a soma dos ca­pi­tais so­ciais dos dez prin­ci­pais grupos eco­nó­micos norte-ame­ri­canos.

Na de­cla­ração da «Co­missão Pon­ti­fícia Jus­tiça e Paz» a que à margem deste texto se alude, re­co­nhece-se que ac­tu­al­mente, em todo o mundo, um tri­lião de seres hu­manos so­bre­vive com um ren­di­mento de 1 dólar por dia. Por outro lado, ad­mite-se que uma tal si­tu­ação re­sulta de de­fi­ci­ên­cias da gestão po­lí­tica e da prá­tica de um li­be­ra­lismo «tec­no­crá­tico». Mas não se fala no papel ac­tivo que o Va­ti­cano tem de­sem­pe­nhado na cons­trução deste quadro po­lí­tico e so­cial.

A com­plexa rede fi­nan­ceira di­ri­gida pela Santa Sé de­pende di­rec­ta­mente do Papa, da Cúria Ro­mana e do IOR – Ins­ti­tuto para Obras Re­li­gi­osas, cor­ren­te­mente co­nhe­cido como Banco do Va­ti­cano. Apa­ren­te­mente, de­sem­penha as fun­ções que são co­muns a qual­quer banco. Na re­a­li­dade, a rede vai muito mais além e é a sede da mais im­por­tante cen­tral fi­nan­ceira mun­dial. Giram na sua ór­bita bancos ex­tre­ma­mente po­de­rosos como o Pax, o J.P. Morgan ou o Deutsch Bank. Do­mina ex­tensos im­pé­rios ban­cá­rios, através da compra di­recta de grandes lotes de ac­ções. Do­mina, por in­ter­venção de ter­ceiros, in­te­resses que de­ter­minam as ori­en­ta­ções dos ver­da­deiros cen­tros de de­cisão mun­dial, tais como o G20, o Clube de Bil­der­berg,o Fo­reign Council norte-ame­ri­cano ou os Il­lu­mi­nati. De­sen­volve cons­tantes ac­ti­vi­dades cri­mi­nosas, no­me­a­da­mente as la­va­gens de di­nheiros, os des­fal­ques, o con­tra­bando e a cor­rupção, como está de­mons­trado pelos per­ma­nentes es­cân­dalos que en­volvem o IOR (Am­bro­siano, P2, falsas fun­da­ções, IPSS ou Fundos de Ca­ri­dade, desvio de sub­sí­dios do Es­tado, ope­ração «Mãos Limpas», etc., etc.).

Em Itália, como em Por­tugal, aos res­pon­sá­veis por estes crimes nada acon­tece.
Estão pro­te­gidos pelos es­cudos in­vi­sí­veis das «Con­cor­datas».
É o prin­cípio de uma longa his­tória. Mas, por hoje, temos de ficar por aqui
.



Mais artigos de: Argumentos

Engels a Walther Borgius (1)<br>[em Breslau (2)]

Londres, 25 de Janeiro de 1894 122, Regent’s Park Road. N. W.   Muito estimado Senhor,   Aqui [vai] a resposta às suas perguntas! 1. Por relações económicas [ökonomische Verhältnisse] – que nós encaramos como base [Basis]...

Os isentos

Nesta quadra do Natal, antes, durante e depois, a televisão encheu-nos olhos e ouvidos com notícias tristes de dois tipos, digamos assim. Isto para além das tristezas de carácter permanente, não relacionadas directamente com qualquer tempo por tradição dito festivo. As...