A TAREFA: MOBILIZAR PARA DIA 11

«É na po­lí­tica de di­reita que se si­tuam as causas da si­tu­ação ac­tual do País»

O caso dos sa­cri­fí­cios so­fridos pelo Pre­si­dente da Re­pú­blica de­vido à sua re­forma de mi­séria tem sido tema des­ta­cado nos media do­mi­nantes – por ra­zões nem sempre as mesmas, como é óbvio.

E se é ver­dade que, por um lado, a vaga de no­tí­cias, opi­niões e po­lé­micas sobre esse facto desvia aten­ções da si­tu­ação dra­má­tica a que a po­lí­tica de di­reita con­duziu os tra­ba­lha­dores, o povo e o País, e da res­posta a dar-lhe, também é certo que, por outro lado, o caso, pelo sig­ni­fi­cado de que se re­veste, é digno de re­gisto.

Por isso, aqui o re­gis­tamos.

Ca­vaco Silva ficou vi­si­vel­mente per­tur­bado pelas re­ac­ções que o seu auto-ates­tado de sa­cri­fi­cado gerou. Tanto que sentiu ne­ces­si­dade de vir a pú­blico es­cla­recer que o que disse, foi apenas para ilus­trar, com o seu exemplo, a si­tu­ação dos por­tu­gueses que passam di­fi­cul­dades

E é caso para dizer que foi pior a emenda do que o so­neto, já que o «exemplo» de Ca­vaco Silva está nos an­tí­podas da si­tu­ação vi­vida pela imensa mai­oria dos por­tu­gueses, de­sig­na­da­mente: os de­sem­pre­gados (a mai­oria dos quais sem sub­sídio); os que, tendo tra­balho, em muitos casos ga­nham num mês o que a re­forma do Pre­si­dente da Re­pú­blica lhe dá num dia; os que so­frem o fla­gelo dos su­ces­sivos sa­lá­rios em atraso; os que so­bre­vivem com re­formas de cerca de sete euros por dia – e que são mais de um mi­lhão; e muitos ou­tros que têm re­formas um pouco mai­ores mas muito, muito, muito aquém da re­forma de Ca­vaco Silva.

Assim, para mi­lhões de por­tu­gueses, as hi­pó­critas de­cla­ra­ções cons­ti­tuem um ver­da­deiro in­sulto, tanto mais que vêm de um sa­cri­fi­cado que goza de uma re­forma de mais de 10 mil euros e que, em 2010, de­clarou um mi­lhão de euros em ren­di­mentos e pou­panças.

Um cên­timo de sen­si­bi­li­dade hu­mana e po­lí­tica teria che­gado para que Ca­vaco Silva não ti­vesse tra­zido a sua opu­lenta re­forma à baila.

 

Todavia, mais im­por­tante e mais grave do que o valor da re­forma e as de­cla­ra­ções pro­fe­ridas é o facto de Ca­vaco Silva ser um dos prin­ci­pais res­pon­sá­veis pela si­tu­ação dra­má­tica a que che­garam Por­tugal e os por­tu­gueses. Essa, sim, é a grande culpa, sem des­culpa, do ac­tual Pre­si­dente da Re­pú­blica, culpa da qual ele sempre sa­code a água do ca­pote, mas pela qual os por­tu­gueses não dei­xarão de, mais cedo ou mais tarde, lhe pedir contas.

Como per­ti­nen­te­mente su­bli­nhou o di­ri­gente co­mu­nista Fran­cisco Lopes, no co­men­tário ao pri­meiro ano do ac­tual man­dato pre­si­den­cial, o País está mais pobre, mais de­pen­dente e menos so­be­rano, por efeito de uma po­lí­tica da qual Ca­vaco Silva, en­quanto pri­meiro-mi­nistro, foi exe­cu­tante di­recto du­rante mais de dez anos, e da qual tem sido, en­quanto Pre­si­dente da Re­pú­blica, o mais fiel apoi­ante e cúm­plice, não he­si­tando, quando os ob­jec­tivos dessa po­lí­tica o exigem, em des­res­peitar a Cons­ti­tuição da Re­pú­blica Por­tu­guesa –

E é nessa po­lí­tica de di­reita, pra­ti­cada ao longo de quase 36 anos con­se­cu­tivos por su­ces­sivos go­vernos PS/​PSD/​CDS, que se si­tuam as causas fun­da­men­tais da si­tu­ação ac­tual do País.

Foi essa po­lí­tica, pra­ti­cada, em ser­viço com­bi­nado, pela troika par­ti­dária na­ci­onal, que es­can­carou as portas à troika ocu­pante, man­da­tária do grande ca­pital in­ter­na­ci­onal.

E foi essa troika na­ci­onal que, de có­coras e aplau­dida pelo Pre­si­dente da Re­pú­blica na mesma po­sição, aceitou e as­sinou o imenso pa­cote de me­didas im­posto pela troika in­va­sora. Me­didas cujas con­sequên­cias bru­tais de­sabam todos os dias sobre os tra­ba­lha­dores, o povo e o País, numa ofen­siva que – rou­bando di­reitos hu­manos fun­da­men­tais e es­pa­lhando a po­breza, a mi­séria e a fome; rou­bando in­de­pen­dência e so­be­rania na­ci­onal e en­tre­gando Por­tugal nas garras do grande ca­pital – cons­titui um au­tên­tico acto de ter­ro­rismo so­cial e po­lí­tico.

 

É neste quadro, e num ce­nário de muitas e fortes lutas dos tra­ba­lha­dores e das po­pu­la­ções – com a vi­brante ma­ni­fes­tação dos tra­ba­lha­dores têx­teis, em Gui­ma­rães, a con­firmar como a luta é im­por­tante; e com as greves mar­cadas para o sector dos trans­portes a mos­trarem que a luta con­tinua – que os di­ri­gentes e ac­ti­vistas sin­di­cais da CGTP-IN juntam à de­ci­siva ta­refa de cons­truir o seu XII Con­gresso a de pre­parar in­ten­sa­mente a ma­ni­fes­tação na­ci­onal de 11 de Fe­ve­reiro.

Trata-se, por isso, de uma jor­nada de luta de ex­tra­or­di­nária re­le­vância, de um mo­mento de­ci­sivo para vi­brar uma forte ma­cha­dada na ofen­siva em curso contra os di­reitos dos tra­ba­lha­dores, ofen­siva na qual o si­nistro pacto as­si­nado pela si­nistra troika Pa­tro­nato/​Go­verno/​UGT, ocupa lugar des­ta­cado.

Trata-se, por tudo isso, de uma acção para a qual é ne­ces­sário mo­bi­lizar todos os que são alvos dessa ofen­siva: tra­ba­lha­dores no ac­tivo e no pas­sivo, aí in­cluídos os tra­ba­lha­dores fi­li­ados em sin­di­catos da UGT, atin­gidos, como todos os ou­tros, pelas me­didas do pacto anti-so­cial, e que é ne­ces­sário mo­bi­lizar para a luta em de­fesa dos in­te­resses de todos; po­pu­la­ções que lutam, nas suas co­mis­sões de utentes, pelo di­reito à saúde, à edu­cação, aos trans­portes, aos ser­viços pú­blicos es­sen­ciais; ho­mens, mu­lheres e jo­vens que, tendo Abril como re­fe­rência maior das suas vidas e das suas me­mó­rias, por Abril hão-de lutar sempre.

Fazer da ma­ni­fes­tação de 11 de Fe­ve­reiro uma gi­gan­tesca e po­de­rosa acção de massas, capaz de travar e der­rotar a ofen­siva do grande ca­pital e dos seus ho­mens de mão no Go­verno, é a ta­refa pri­o­ri­tária e fun­da­mental dos tra­ba­lha­dores e do povo por­tu­guês no mo­mento ac­tual.