Questão nuclear

Num mo­mento em que se aperta o cerco ao Irão por causa do seu ale­gado pro­grama nu­clear com fins mi­li­tares – sempre des­men­tido por Te­erão – as­sume par­ti­cular re­levo um re­cente es­tudo onde se dá conta de que a in­dús­tria mun­dial de armas nu­cle­ares é fi­nan­ciada por mais de três cen­tenas de bancos, fundos de pen­sões, com­pa­nhias de se­guros e ges­tores de ac­tivos.

 O es­tudo – di­vul­gado pela Cam­panha In­ter­na­ci­onal para Abolir as Armas Nu­cle­ares (ICAN, na sigla in­glesa) – aponta com­pa­nhias como a BAE Sys­tems e a Babcok In­ter­na­ti­onal na In­gla­terra, a Lockheed Martin e a Northrop Grumman nos Es­tados Unidos, a Thales e a Sa­fran em França, e a Larsen & Toubro na Índia como exemplo de em­presas que se de­dicam ao lu­cra­tivo ne­gócio do ar­ma­mento nu­clear.

«Ins­ti­tui­ções fi­nan­ceiras in­vestem nessas com­pa­nhias for­ne­cendo-lhes em­prés­timos e com­prando ac­ções e tí­tulos», re­fere o do­cu­mento, que for­nece de­ta­lhes das tran­sac­ções fi­nan­ceiras de 20 com­pa­nhias pro­fun­da­mente en­vol­vidas no fa­brico, ma­nu­tenção e mo­der­ni­zação das armas ató­micas norte-ame­ri­canas, bri­tâ­nicas, fran­cesas e in­di­anas.

É cu­rioso re­gistar que, das 322 ins­ti­tui­ções fi­nan­ceiras iden­ti­fi­cadas no es­tudo, cerca de me­tade têm sede nos EUA e um terço na Eu­ropa. As mais pro­fun­da­mente en­vol­vidas com a in­dús­tria de ar­ma­mento são – se­gundo o do­cu­mento – Bank of Ame­rica, Blac­kRock e JP Morgan Chase nos Es­tados Unidos, BNP Pa­ribas em França, Al­lianz e Deutsche Bank na Ale­manha, Mis­tu­bishi UJF Fi­nan­cial no Japão, BBVA e Banco San­tander em Es­panha, Credit Suisse e UBS na Suíça, e Bar­clays, HSBC, Lloyds e Royal Bank of Sco­tland na Grã-Bre­tanha.

Tendo em conta que se trata de «con­cei­tu­adas» ins­ti­tui­ções de «con­cei­tu­ados» países que se ro­tulam de muito de­mo­crá­ticos, for­çoso se torna con­cluir que a dita questão nu­clear no caso do Irão não tem nada a ver com o com­bate ao nu­clear pro­pri­a­mente dito, mas sim à de­fesa dos su­premos in­te­resses ge­o­po­lí­ticos e ge­o­es­tra­té­gicos do im­pe­ri­a­lismo.

 

Ideias ra­di­cais


Os blo­quistas Fran­cisco Louçã e a Ma­riana Mor­tágua ti­veram uma ideia ra­dical: con­vidar para a apre­sen­tação do seu livro A Di­vi­da­dura – Por­tugal na crise de euro, o ex-líder do PSD Mar­celo Re­belo de Sousa. O pro­fessor/​co­men­tador não se fez ro­gado e fez as des­pesas da con­versa, con­fes­sando ser contra a ideia «ra­dical» de se de­fender a re­es­tru­tu­ração da dí­vida por­tu­guesa e propor aos cre­dores a eli­mi­nação da dí­vida ile­gí­tima, por con­si­derar que o «ber­bi­cacho» da Grécia não é de molde a fazer so­prar ventos fa­vo­rá­veis a Por­tugal e, por ven­tura mais im­por­tante ainda, porque não faz dis­tinção entre dí­vida le­gí­tima e ile­gí­tima, con­si­de­rando que esse será «um de­bate longo e in­te­res­sante» mas di­fícil de «ex­plicar» aos cre­dores. Com o fino humor que se lhe co­nhece, o pro­fessor foi dei­xando as suas al­fi­ne­tadas, che­gando mesmo a dizer que quem propõe ideias ra­di­cais fica sempre em van­tagem, já que «a pro­ba­bi­li­dade de serem adop­tadas é muito re­mota», en­quanto os que apre­sentam pro­postas re­a­listas ou prag­má­ticas «têm de lidar com a re­a­li­dade». Louçã não pa­receu in­co­mo­dado. Afinal, o pro­fessor abri­lhan­tava o acto e já tinha feito o favor de rever as provas da obra «ra­dical» como o pró­prio fez questão de contar.



Mais artigos de: Argumentos

O império contra-ataca

No passado domingo aconteceu na Rússia aquela eleição presidencial cujo resultado estava desde há muito previsto: Vladimir Putin seria eleito com maioria absoluta, o que naturalmente se confirmou. O Ocidente euroatlântico não gostou, o seu candidato não era Putin mas sim um...

Cantar de amiga

O ar triste que aparenta tem que se lhe diga. A vida deu-lhe muitas voltas, tentando ela dar-lhe, à vida, as, no seu entender, melhores voltas que soube. Pequena no mensurar do tamanho físico, passará despercebida nas ruas que calcorreia, sendo o Pragal...

Pensar o Passado é construir o Futuro (10)

«As SS nazis foram criadas ao abrigo da Concordata com o III Reich, em 1933. Era Comandante em Chefe, ou Reichfuherer SS, Heinrich Himmler, da Sociedade Jesuíta que, nos termos concordatários, passou a ser reconhecido pelo Vaticano como Cardeal Católico Romano jubilado» (Wikipedia...