Defesa Nacional e Forças Armadas

Questão de sempre, para a resposta de sempre e fuga ao essencial

Rui Fernandes

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A Ins­ti­tuição Mi­litar tem vi­vido e vive dias con­tur­bados. Grassam o mal-estar e a des­mo­ti­vação. Em vá­rios as­pectos está blo­queada. E não se pense que esta é uma si­tu­ação re­sul­tante da de­no­mi­nada crise. Não! Há muito que as Forças Ar­madas têm vindo a ser me­tidas nesse beco. A si­tu­ação ac­tual do País só torna mais ní­tida a re­a­li­dade exis­tente.

Desde os go­vernos de Ca­vaco Silva que aquilo a que se as­siste é ao acu­mular de en­torses ao fun­ci­o­na­mento das Forças Ar­madas, no­me­a­da­mente com o ataque sis­te­má­tico aos di­reitos dos mi­li­tares. Tal acon­tece, ao con­trário do que é re­cor­rente ser dito no co­men­tário po­lí­tico sobre a si­tu­ação nesta área, não por falta de ha­bi­li­dade, peso político, inex­periência, falta de jeito, de su­ces­sivos go­vernos e mi­nis­tros, mas por opção do PS, PSD e CDS-PP no quadro do acordo que há muito mantêm nesta área da go­ver­nação.

Hoje, pe­rante o mal-estar exis­tente, apa­rece a per­gunta de sempre: é pre­ciso saber se o País quer Forças Ar­madas. A re­tó­rica per­gunta terá, como sempre, a mesma res­posta: o País não pode dis­pensar ter Forças Ar­madas. Pre­cisa é de as adaptar às novas cir­cunstâncias. Há 25 anos, pelo menos, que de tempos a tempos se as­siste a esta rá­bula. A se­guir já se sabe o que aí vem.

Já se sabe que o mi­nistro Aguiar-Branco que­brará o seu período de silêncio, de­pois de polémicas afirmações que ge­raram legítimos sen­ti­mentos de re­pulsa, e anun­ciará a con­cre­tização de um con­junto de ini­ci­a­tivas ao longo dos próximos dois ou três meses: – sur­girá um novo (mais um) con­ceito es­tra­té­gico que as­su­mirá de forma mais aberta o pri­mado da Se­gu­rança e De­fesa ao ar­repio da Cons­ti­tuição da Re­pú­blica. Sur­girá a há muito atra­sada re­visão da Lei de Pro­gra­mação Mi­litar, com a res­pec­tiva «des­pro­gra­mação», cortes e pro­te­la­mentos. Uma Lei que qual­quer aná­lise às su­ces­sivas ver­sões não dei­xará de pôr em evi­dência o seu de­sa­juste com as ne­ces­si­dades e pos­si­bi­li­dades na­ci­o­nais e cuja re­visão con­tri­buirá para agravar a dra­má­tica si­tu­ação da nossa in­dús­tria naval.

– sur­girá mais uma de re­or­ga­ni­zação, com al­te­ração de leis or­gâ­nicas da Ins­ti­tuição Mi­litar que ainda não ab­sorveu ple­na­mente as al­te­ra­ções le­gis­la­tivas de 2009, com mais fu­sões e ex­tin­ções que, em vir­tude de não re­sul­tarem de ne­nhuma opção es­tra­té­gica, mas apenas de uma es­treita visão eco­no­mi­cista, po­derão vir a cons­ti­tuir um novo foco de pro­blemas.

– sur­girá a «re­so­lução» do pro­blema do con­ge­la­mento das pro­mo­ções (só o co­locar a questão deste modo já dá bem conta do ponto aonde se chegou) numa Ins­ti­tuição onde quase todos os meses há pro­mo­ções. Aliás, se a «re­solução» tiver mais uma vez como exigência única a visão curta do eco­no­mi­cismo tecto para promoções ou seja, a «fun­ci­o­na­lização» dos mi­li­tares e a des­con­fi­guração fun­ci­onal e, tal como acon­teceu com o sis­tema re­tri­bu­tivo, não tiver em conta a es­tru­tura hi­e­rar­qui­zada a que se des­tina, não re­solverá ne­nhum pro­blema antes agravará ou­tros já exis­tentes.

– sur­girá o com­ple­mento le­gis­la­tivo que falta no que res­peita à saúde mi­litar, na­quilo a que se pode chamar «ope­ração saúde», onde o que pontua é a re­ti­rada de di­reitos aos mi­li­tares e fa­mí­lias, e onde a com­po­nente da saúde ope­ra­ci­onal não está ga­ran­tida.

Estas e ou­tras me­didas sur­girão na linha de um dis­curso idên­tico (pro­va­vel­mente com o mesmo re­sul­tado) ao do seu par­ceiro de Go­verno Álvaro Silva Pe­reira «nós fa­zemos, não anun­ci­amos».

Mas a questão cen­tral não está ex­clu­si­va­mente na acção go­ver­na­tiva e da troika mas sim num pro­grama cuja es­tratégia visa mais longe e mais fundo. Um pro­grama que visa ade­quar a es­tru­tura le­gis­la­tiva e ad­mi­nis­tra­tiva a um fu­turo de plena in­te­gração numa po­lí­tica mi­litar eu­ro­peia de gé­nese fe­deral em ar­ti­cu­lação com a NATO.

Um mo­delo que tem pu­xado ao Mi­nis­tério e ao mi­nistro o papel po­lí­tico-es­tra­té­gico e aos chefes mi­li­tares a in­cum­bência de ter mi­li­tares prontos para partir. É o mo­delo de «forças de in­ter­venção» em pleno.

Um mo­delo as­sente na par­tilha de meios e de poder, no­me­a­da­mente em áreas ope­ra­ci­o­nais, na dou­trina, no en­sino e na formação, com a es­pe­ci­a­lização do nosso País em apenas duas ou três ca­pa­ci­dades. Por isso, pouco im­portará, por exemplo, ter na­vios pa­rados, al­guns a ne­ces­si­tarem de grandes re­vi­sões, ou não as­se­gurar o mí­nimo de horas de voo aos pi­lotos da FAP.

Um mo­delo sus­ten­tado na nossa par­ti­ci­pação nas forças mul­ti­na­ci­o­nais, em que nunca fal­tará di­nheiro para mandar 50 ou 100 mi­li­tares al­gures para uma qual­quer zona de in­ter­venção, mesmo que seja com ma­te­rial em­pres­tado.

Em suma, um mo­delo em que Por­tugal põe e a NATO dispõe, li­mi­tando a nossa acção e pondo em causa a so­be­rania na­ci­onal.



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