- Nº 1999 (2012/03/21)
Reunião Nacional do PCP sobre Saúde

Defender o SNS geral, universal e gratuito

PCP

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Encerrando a Reunião Nacional de Quadros que, ao longo do dia de sábado, reuniu na Casa do Alentejo, em Lisboa, médicos, enfermeiros, auxiliares, funcionários administrativos, utentes e outros militantes comunistas que de uma forma ou de outra intervêm no sector, o Secretário-geral do PCP garantiu que sem um Serviço Nacional de Saúde (SNS) universal, geral e gratuito, o «acesso de todos os portugueses aos cuidados de Saúde, independentemente da sua situação económica e social, não será garantido».

Como frisou Jerónimo de Sousa, o SNS é o «instrumento do Estado para garantir o direito constitucional de acesso aos cuidados de saúde» e, apesar dos ataques que tem sofrido, «atingiu níveis de cobertura e qualidade que fizeram dele um dos melhores do mundo» – o 12.º melhor, segundo a Organização Mundial de Saúde.

O dirigente comunista enumerou em seguida os ataques de que o Serviço Nacional de Saúde está a ser alvo: sistemático subfinanciamento, aumento dos custos para as famílias, sucessivas alterações no regime jurídico dos hospitais, alargamento das subvenções com os privados, adopção de uma estratégia centrada na política hospitalar e o abandono dos cuidados primários, a concretização das Parcerias Público Privadas e uma política de recursos humanos que desvaloriza profissional e socialmente os profissionais de saúde, facilitando a saída de muitos deles para o sector privado e até para o estrangeiro. Na abertura da reunião, Jorge Pires, da Comissão Política, tinha já acusado o actual Governo de estar a levar a cabo a maior ofensiva de sempre contra o SNS, com o aumento das taxas moderadoras, as novas regras para atribuição de isenções, o corte no transporte de doentes não urgentes ou o anúncio da alteração do regime de comparticipações nos medicamentos.

 

Destruição e privatização

 

O financiamento recuou este ano a valores de 2003, o que provoca situações impensáveis no século XXI, como é a de um hospital ter de pedir compressas emprestadas a outro por não ter dinheiro para as comprar. Ao mesmo tempo, foram encerrados centenas de serviços de proximidade, o que leva a que hoje haja centenas de milhares de portugueses a viver a 50 quilómetros ou mais de uma urgência, «sem transporte individual, com uma rede de transportes públicos cada vez mais restrita e cara, que não têm outra solução que não seja aguardar em casa que o infortúnio não lhes bata à porta».

A reforma dos cuidados de saúde primários esboçada pelo governo PSD/CDS de Durão Barroso e Santana Lopes e desenvolvida pelo governo do PS «tem sido parte integrante dos processos de privatização da prestação de cuidados, tal como o PCP denunciou desde o início.

Para Jerónimo de Sousa, é «inaceitável que gente que não tem qualquer sentido do ridículo vir hoje dizer que estão com o SNS», como é o caso do secretário-geral do PS, que se referiu às dificuldades no acesso aos cuidados de saúde, associando-as à existência de taxas moderadoras. Mas na altura em que foram criadas as taxas o PS considerava que a sua existência visava a moderação do acesso e também criar as condições para a gratuitidade.

O PS pode muito bem dizer que é o pai do SNS que não se livra de ter estado «com a direita mais retrógrada na decisão de criar as taxas, decisão que hoje é uma das principais causas do condicionamento criado a milhões de portugueses no acesso aos cuidados de saúde» e de ter criado, quando no governo, mais de duas centenas de novas taxas. «Com um pai assim, o filho não vai longe», ironizou.

 

Acesso é questão central

 

O principal problema da Saúde em Portugal decorre, para o PCP, das crescentes limitações colocadas ao acesso dos utentes. Limitações que resultam, em grande medida, de uma política «profundamente desumanizada» que corta de forma cega o financiamento aos serviços e decide medidas com implicações clínicas a partir de decisões orçamentais.

Rejeitando que as medidas em curso contra o SNS resultem da falta de dinheiro e das elevadas dívidas, Jerónimo de Sousa constatou serem os que difundem esta tese exactamente os mesmos que desenvolvem a tese de que o privado «faz melhor e mais barato» e escondem que é no alargamento das convenções com privados, na criação das PPP e na contratação de serviços a empresas exteriores ao SNS que estão as «grandes derrapagens nos orçamentos dos serviços».

Como afirmou Jerónimo de Sousa – e outros participantes esmiuçaram nas suas intervenções –, uma das linhas de ataque ao SNS passa pelo ataque às condições de trabalho dos profissionais de Saúde. Isto tem levado à desmotivação e ao gorar de expectativas e à ida de muitos destes profissionais para o estrangeiro ou para o privado. O novo pacote legislativo que está em preparação para os trabalhadores da Função Pública agravará a situação.


Desmontar mitos

Na reunião nacional de sábado, vários participantes denunciaram as mentiras que se escondem por detrás da política de destruição do Serviço Nacional de Saúde levada a cabo de forma concertada desde há anos por PS, PSD e CDS. Eis alguns exemplos:

 

 

É preciso um Plano de Emergência

Os comunistas consideram ser necessário adoptar um plano de emergência para defender e reforçar o Serviço Nacional de Saúde num momento em que ele é mais importante do que nunca. Como adiantou o médico Joaquim Judas, tal plano deverá integrar o «reforço da dotação financeira para o SNS para que este possa atender aos seus compromissos com os doentes na fase crítica em que nos encontramos e assegurar a sua sustentabilidade».

A eliminação total, geral e universal das taxas moderadoras para todas as consultas e exames é outra medida a aplicar, a par da retoma do regime de comparticipação especial ou mesmo de isenções para doentes crónicos e pessoas de mais baixos rendimentos.

Os comunistas propõem ainda o reforço da rede de assistência pré-hospitalar e a promoção do serviço telefónico de atendimento e encaminhamento, a manutenção e capacitação dos serviços de prevenção e atendimento de toxicodependentes ou a criação de condições para um efectivo acompanhamento e tratamento ambulatório em saúde mental.

Considerando fundamental que o Estado garanta o direito à Saúde e a manutenção dos ganhos conseguidos com a criação do SNS, o PCP propõe ainda a «renegociação ou denúncia das Parcerias Público Privadas e a integração de toda a rede hospitalar no quadro do Sector Público Administrativo». Assim se poria fim ao «desgoverno originado pela experiência aventureirista dos estatutos SA, EPE e de gestão privada».

O restabelecimento dos concelhos como base da organização administrativa dos cuidados de saúde primários e a dotação do SNS de uma rede eficaz e integrada de informação e comunicação, «acabando com a actual situação de caos, ineficiência e desperdício», são outras das propostas dos comunistas.

Quanto à forma de aplicar estas medidas, o debate travado ao longo do dia na reunião nacional de quadros do PCP foi esclarecedor: há que intensificar a luta dos profissionais e dos utentes em defesa do Serviço Nacional de Saúde e integrá-la na luta mais geral contra o pacto de agressão e por um Portugal com futuro.