CONSCIÊNCIA DE CLASSE E CORAGEM

«A greve geral cons­ti­tuiu uma im­por­tante vi­tória dos tra­ba­lha­dores e da sua cen­tral sin­dical de classe»

A se­mana que passou ficou im­pres­si­va­mente mar­cada pela po­de­rosa greve geral con­vo­cada pela CGTP-IN e er­guida a pulso pelos tra­ba­lha­dores por­tu­gueses.

Tratou-se de uma jor­nada de luta ao nível das grandes ac­ções de massas le­vadas a cabo pelos tra­ba­lha­dores ao longo do longo com­bate tra­vado na de­fesa dos seus di­reitos e in­te­resses, contra a po­lí­tica anti-pa­trió­tica e de di­reita e por uma po­lí­tica pa­trió­tica e de es­querda.

Tratou-se de uma greve geral con­vo­cada e con­cre­ti­zada na al­tura pró­pria: após a dis­cussão pú­blica e antes do de­bate na As­sem­bleia da Re­pú­blica sobre as al­te­ra­ções à le­gis­lação la­boral – al­te­ra­ções com as quais o Go­verno PSD/​CDS pre­tende, ao ar­repio da Cons­ti­tuição da Re­pú­blica Por­tu­guesa, roubar im­por­tantes di­reitos con­quis­tados através da luta por su­ces­sivas ge­ra­ções de tra­ba­lha­dores; al­te­ra­ções que, a serem apli­cadas, se tra­du­zi­riam em mais des­pe­di­mentos, mais de­sem­prego, mais pre­ca­ri­e­dade, mais re­dução no valor dos sa­lá­rios e re­formas, mais de­gra­dação das con­di­ções de tra­balho, mais re­tro­cesso so­cial e ci­vi­li­za­ci­onal; al­te­ra­ções contra as quais os tra­ba­lha­dores con­ti­nu­arão a bater-se, in­clu­sive, se as cir­cuns­tân­cias o exi­girem, contra a sua apli­cação nas em­presas e lo­cais de tra­balho.

O sig­ni­fi­cado desta forte jor­nada de luta é tanto mais pro­fundo quanto, como sa­bemos, ela foi cons­truída num con­texto par­ti­cu­lar­mente di­fícil para os tra­ba­lha­dores.

 

Assim, a jor­nada de luta do dia 22 cons­ti­tuiu uma im­por­tante vi­tória dos tra­ba­lha­dores por­tu­gueses e da sua cen­tral sin­dical de classe. Foi a vi­tória da de­ter­mi­nação face às vi­o­la­ções da lei da greve, às ame­aças, às chan­ta­gens, à re­pressão no in­te­rior das em­presas. Foi a vi­tória sobre a ofen­siva ide­o­ló­gica da pre­gação do con­for­mismo, da acei­tação pas­siva das cha­madas ine­vi­ta­bi­li­dades, do não-vale-a-pena, dos medos. Foi uma etapa maior da luta dos de­sem­pre­gados e dos que, tendo em­prego, são ví­timas da pre­ca­ri­e­dade, da imi­nência do de­sem­prego, dos sa­lá­rios em atraso, dos roubos nos sa­lá­rios e nos di­reitos, dos bru­tais au­mentos dos bens de con­sumo es­sen­ciais – e para os quais a perda de um dia de sa­lário cons­ti­tuía um pe­sa­dís­simo sa­cri­fício. Foi, enfim, uma po­de­rosa de­mons­tração de força, de com­ba­ti­vi­dade, de dis­po­ni­bi­li­dade para a luta, uma clara afir­mação de des­con­ten­ta­mento e pro­testo, de exi­gência de mu­dança e de um novo rumo para Por­tugal.

Os tra­ba­lha­dores que no dia 22 ade­riram à greve geral, deram provas de uma ele­vada cons­ci­ência de classe e de uma pro­funda com­pre­ensão da si­tu­ação po­lí­tica ac­tual. Deram provas, acima de tudo, de uma imensa co­ragem.

 

À greve geral jun­taram-se – de­sig­na­da­mente nas con­cen­tra­ções re­a­li­zadas em de­zenas de lo­ca­li­dades – mi­lhares e mi­lhares de tra­ba­lha­dores de­sem­pre­gados, de re­for­mados e pen­si­o­nistas, de pe­quenos e mé­dios em­pre­sá­rios, de jo­vens es­tu­dantes, de ho­mens e mu­lheres que lutam nas suas co­mis­sões de utentes contra a des­truição do Ser­viço Na­ci­onal de Saúde e da Es­cola Pú­blica, de eleitos au­tár­quicos que se batem em de­fesa do Poder Local De­mo­crá­tico – mi­lhares de pes­soas que le­varam a sua so­li­da­ri­e­dade ac­tiva aos tra­ba­lha­dores em greve, dando mais força à forte jor­nada de luta, tor­nando mais clara e inequí­voca a re­jeição do pacto de agressão as­si­nado pelo PS, o PSD e o CDS com o FMI, a UE e o BCE e aplau­dido pelo Pre­si­dente da Re­pú­blica.

Para ava­liar a im­por­tância e o êxito da greve geral po­demos re­correr a um outro meio de in­fa­lível afe­rição: os co­men­tá­rios e aná­lises dos ha­bi­tuais co­men­ta­dores e ana­listas com lugar ca­tivo nos media do grande ca­pital. Com a cer­teza de que, lendo-os ou ou­vindo-os e con­cluindo o con­trário do que eles con­cluíram, con­clui­remos certo...

 

Cons­ci­ência de classe e co­ragem são duas ideias que se im­põem a quem quer que seja que, com ob­jec­ti­vi­dade e sem pre­con­ceitos, ana­lise a im­por­tante jor­nada de luta de quinta-feira pas­sada.

Dela emerge, com igual ni­tidez, a dis­po­sição das massas tra­ba­lha­doras de pros­se­guir a luta, de a in­ten­si­ficar, de a tornar cada vez mais par­ti­ci­pada e mais forte na pro­cura do ca­minho que con­duza à re­so­lução dos muitos e graves pro­blemas que se abatem sobre os tra­ba­lha­dores, o povo e o País.

Porque, como afirmou o Se­cre­tário-geral do PCP na de­cla­ração pro­fe­rida no pró­prio dia da greve geral, há um ca­minho para ul­tra­passar a crise, um ca­minho que passa pela re­jeição do pacto de agressão; pela re­ne­go­ci­ação da dí­vida nos mon­tantes, nos prazos e nos juros; pela rup­tura com a po­lí­tica de di­reita e pela sua subs­ti­tuição por uma po­lí­tica pa­trió­tica e de es­querda; por uma aposta de­ci­dida no sector pro­du­tivo e na pro­dução na­ci­onal; pelo con­trolo pú­blico dos sec­tores es­tra­té­gicos; pela va­lo­ri­zação do tra­balho e dos tra­ba­lha­dores, de­sig­na­da­mente au­men­tando os sa­lá­rios e as pen­sões, ga­ran­tindo os apoios so­ciais e os ser­viços pú­blicos, apoi­ando os micro, pe­quenos e mé­dios em­pre­sá­rios e afir­mando a so­be­rania e a in­de­pen­dência de Por­tugal. É esse o único ca­minho capaz de as­se­gurar um Por­tugal mais de­sen­vol­vido e mais justo. E esse ca­minho é o ca­minho da luta, o ca­minho de que a greve geral do dia 22 foi mais um passo, tal como fora, antes, a ma­ni­fes­tação de 11 de Fe­ve­reiro e as mil e uma lutas no in­te­rior das em­presas e lo­cais de tra­balho, nos lo­cais de ha­bi­tação, nos campos e nas es­colas. Tal como o serão as lutas que aí vêm, a co­meçar já com a ma­ni­fes­tação de jo­vens tra­ba­lha­dores con­vo­cada para o pró­ximo sá­bado e a acção em de­fesa do Poder Local De­mo­crá­tico, no mesmo dia 31 de Março.

É pela luta que lá vamos. Com a luta lá che­ga­remos.