Falta de espaço…

Ângelo Alves

O pas­sado fim-de-se­mana foi mar­cado por essa «grande» ini­ci­a­tiva cha­mada «Con­gresso do PSD». E se­jamos justos, foi uma ini­ci­a­tiva co­roada de su­cesso. É que o que ali se passou foi acima de tudo uma bem mon­tada sessão de pro­pa­ganda do Go­verno, do PSD e de en­tro­ni­zação do seu líder, que contou com a co­la­bo­ração, até à exaustão, da co­mu­ni­cação so­cial do­mi­nante e claro dos ditos «de­le­gados» ao Con­gresso, cujo «bom com­por­ta­mento» é di­rec­ta­mente pro­por­ci­onal às am­bi­ções car­rei­ristas.

Aliás, se dú­vidas hou­vesse sobre o que foi aquilo, elas fi­caram dis­si­padas quando Passos Co­elho subiu ao palco para dizer aos fi­gu­rantes – perdão, de­le­gados – que não ti­nham per­ce­bido bem a pro­posta da JSD (que os ditos de­le­gados ti­nham aca­bado de votar a favor) de re­tirar ao Con­gresso a com­pe­tência de eleger os ór­gãos na­ci­o­nais do PSD. A vo­tação foi re­pe­tida porque Passos assim o quis e de se­guida já todos vo­taram «bem». E porquê? Porque o «chefe» uti­lizou um ar­gu­mento de­mo­lidor: se essa pro­posta fosse apro­vada es­va­zi­aria por com­pleto os con­gressos. Ou seja, os de­le­gados do PSD não só aceitam que se lhes diga que não per­cebem nada do que lêem (se é que leram) como estão de acordo que um Con­gresso do PSD só serve para eleger os «chefes» e não para dis­cutir e de­finir po­lí­ticas.

Per­cebe-se porquê. É que é o chefe que de­ter­mina as po­lí­ticas. E em al­guns as­pectos o «chefe» foi muito claro. Por exemplo, na jura de fi­de­li­dade eterna ao pacto de agressão; na in­tenção de apro­fundar as me­didas anti-so­ciais ou ainda na von­tade de amarrar o País à di­ta­dura do dé­fice por via da regra de ouro re­for­çada. Já o mesmo não se pode dizer da sua afir­mação de que vai «acabar com os pri­vi­lé­gios». É que num pri­meiro mo­mento po­deria pa­recer que fa­lava do ca­pital… Mas não! A sempre ex­pe­dita JSD en­car­regou-se de es­cla­recer e pu­blicou na sua pá­gina do Fa­ce­book uma imagem ma­ni­pu­lada de uma ma­ni­fes­tação em se podia ver uma faixa com a se­guinte frase: «[JSD] em luta contra os di­reitos ad­qui­ridos». E para que não res­tassem dú­vidas os «jotas» adi­ci­o­naram: «contra a di­ta­dura do mer­cado la­boral fe­chado». Mais claro não há! E até existem ad­jec­tivos para qua­li­ficar gente como esta… Não temos é es­paço!



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