A guerra final pelo poder monopolista

Jorge Messias

«Na so­ci­e­dade ca­pi­ta­lista … a pro­pri­e­dade pri­vada dos meios de pro­dução é a ordem que per­mite a ex­plo­ração da mai­oria pela mi­noria. A classe do­mi­nante tem nas suas mãos os ór­gãos do poder – a po­lícia, o exér­cito, os tri­bu­nais, as pri­sões, etc. Todos estes ór­gãos formam o apa­relho po­lí­tico, a má­quina de di­recção – o Es­tado» (O ABC da Po­lí­tica, Edi­to­rial “Es­tampa”).

 

 

«Há meio sé­culo, quando Marx es­creveu O Ca­pital, a livre con­cor­rência era con­si­de­rada “uma lei na­tural”. A “ci­ência” ofi­cial pro­curou, então, ani­quilar, por meio da “cons­pi­ração do si­lêncio”, a obra de Marx que tinha de­mons­trado com uma aná­lise teó­rica e his­tó­rica do ca­pi­ta­lismo que a livre con­cor­rência gera a con­cen­tração da pro­dução e que esta, em certo passo do seu de­sen­vol­vi­mento, conduz aos mo­no­pó­lios» (Le­nine, “O Im­pe­ri­a­lismo, fase su­prema do ca­pi­ta­lismo”).



«Ri­chard Sennet (2003) iden­ti­ficou as li­ga­ções entre as mu­danças de pro­dução e o que ele de­no­minou como “cor­rosão do ca­rácter”. A do­mi­nação ca­pi­ta­lista que antes se lo­ca­li­zava num lugar – a fá­brica – hoje re­side numa exi­gência im­pla­cável: a fle­xi­bi­li­dade. Ser “fle­xível” tornou-se si­nó­nimo de ser com­pe­tente, de adaptar-se a novos pro­jectos que exigem longos pe­ríodos de tra­balho e a acei­tação de con­di­ções de la­bo­ração em si­tu­a­ções de con­tínua mu­dança, bem como a ca­pa­ci­dade de tra­ba­lhar em rede com in­te­resses es­tra­nhos» (de “A Cor­rosão do ca­rácter”, R. Sennet).



No Livro Negro dos Ilu­mi­natti há pro­cessos de acção e pre­visão de es­tra­té­gias que fa­cil­mente se ade­quam aos acon­te­ci­mentos mun­diais cujas sín­teses nos chegam dia-a-dia. Não se trata sim­ples­mente de fo­mentar guerras de in­te­resses com dis­cursos de­ma­gó­gicos; há sis­temas sec­to­riais mi­nu­ci­o­sa­mente pre­pa­rados que de­se­nham si­tu­a­ções bé­licas e eco­nó­micas sem saída entre grupos de na­ções e con­duzem ra­pi­da­mente à ine­vi­ta­bi­li­dade de um novo grande con­flito mun­dial. Nesta fase, o ob­jec­tivo cen­tral é a ins­ta­lação, a curto prazo, da ocu­pação mi­litar e po­lí­tica das re­giões ricas em ma­té­rias-primas vi­tais onde se lo­ca­lizam mer­cados que des­pontam e passam vias de co­mu­ni­cação de grande in­te­resse es­tra­té­gico. Não se trata de de­sen­ca­dear pre­ci­pi­ta­da­mente uma III Guerra Mun­dial, mas de es­ta­be­lecer e di­rigir planos par­ciais em rede que virão a ser a base de um imenso e ca­tas­tró­fico con­flito pla­ne­tário. As classes do­mi­nantes ac­tuais pensam ter con­di­ções para cri­arem em todo o mundo, nesta pri­meira me­tade do sé­culo XXI, um clima de pavor que venha a re­sultar num caos ge­ne­ra­li­zado. O Livro Negro dos ilu­mi­natti não es­conde as ta­refas que há a cum­prir gra­du­al­mente: agi­tação e guerras nas terras do pe­tróleo, in­ter­ven­ções hu­ma­ni­tá­rias por forças mi­li­tares agres­soras dos es­tados fortes nos es­tados mais fracos, con­flitos re­li­gi­osos, des­cré­dito dos par­tidos po­lí­ticos, apro­fun­da­mento do fosso entre ricos e po­bres, ter­ro­rismo, des­prezo pelos textos cons­ti­tu­ci­o­nais, con­trolo cres­cente das bolsas, da moeda e do ca­pital es­pe­cu­la­tivo, ruína das eco­no­mias na­ci­o­nais, es­tí­mulo do de­sem­prego e da po­breza.

É evi­dente, to­davia, que com as leis da his­tória não se acaba por de­creto. A luta de classes re­sulta das di­fe­rentes fases do ca­pi­ta­lismo e, assim, não cessa de se re­forçar e de ga­nhar novas formas. E há que ter em conta que no plano do ini­migo isto nunca acon­te­cerá. Por vezes, mudam-se os tempos, mudam-se as von­tades e... nada aca­bará por mudar. O dogma mas­cara-se mas so­bre­vive. So­bre­tudo, na área po­lí­tica e re­li­giosa das so­ci­e­dades clas­sistas, sempre será assim.

Os ilu­mi­nati do­minam todas as es­tru­turas do poder re­li­gioso. O Va­ti­cano diz-se cris­ta­lino mas é dele que brotam quase todas as so­ci­e­dades se­cretas oci­den­tais. O Papa de­clara-se a imagem de Deus na Terra en­quanto se en­volve na pro­tecção dos mais hor­rendos crimes. Vai ao Mé­xico con­denar al­guns pa­dres pe­dó­filos me­xi­canos e omitir as res­pon­sa­bi­li­dades que a toda a Igreja tem nos aten­tados do clero con­tras as cri­anças do resto do mundo. Prega a mo­ra­li­dade e es­quece-se de re­ferir o caudal de es­cân­dalos que man­cham as fi­nanças da Igreja e es­capam à pu­nição dos tri­bu­nais. O Va­ti­cano nunca de­cretou o en­cer­ra­mento dos offshores ca­tó­licos ou a dis­so­lução dos seus grupos que fi­nan­ciam ne­gó­cios se­cretos como a por­no­grafia, o ar­ma­men­tismo ou a usura.

O povo ca­tó­lico bem po­deria re­cusar o es­tigma de ca­pi­ta­lista e negar-se a falar de Igreja como ins­ti­tuição acima de toda a sus­peita! So­bre­tudo, quando pa­tro­ci­na­dora de mor­ti­cí­nios apo­ca­líp­ticos.



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