Jovens trabalhadores manifestaram-se no sábado em Lisboa

Este País também é para jovens!

Gustavo Carneiro (texto)
Inês Seixas e Rui Henriques (fotos)

O ob­jec­tivo de en­cher o Largo Ca­mões, em Lisboa, es­ta­be­le­cido pela In­ter­jovem/​CGTP-IN para a ma­ni­fes­tação na­ci­onal de jo­vens tra­ba­lha­dores re­a­li­zada no sá­bado, foi cum­prido. Vindos de todo o País e dos mais va­ri­ados sec­tores de ac­ti­vi­dade, mi­lhares de jo­vens per­cor­reram as ruas da Baixa lis­boeta di­zendo bem alto que re­jeitam o con­vite do Go­verno para emi­grar e que não de­sistem de viver e tra­ba­lhar no seu País – com di­reitos e com sa­lá­rios dignos.

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De todas as pa­la­vras de ordem en­to­adas pelos ma­ni­fes­tantes ou ins­critas em car­tazes, uma re­sumia na per­feição as prin­ci­pais exi­gên­cias dos jo­vens tra­ba­lha­dores por­tu­gueses: Que­remos tra­balho, exi­gimos di­reitos. Fossem do sector fer­ro­viário ou da ho­te­laria, en­fer­meiros ou ope­ra­dores de call-cen­ters, ti­vessem ou não em­prego, os ma­ni­fes­tantes re­cla­maram tra­balho com di­reitos e dei­xaram bem claro que não de­sis­tirão destes ob­jec­tivos. A luta é a nossa arma, quem tra­balha não de­sarma, re­pe­tiram.

Du­rante a marcha, que se ini­ciou na Praça da Fi­gueira e ter­minou no Largo Ca­mões, pas­sando pelo Rossio e pelas prin­ci­pais ruas do Chiado, os jo­vens não dei­xaram nin­guém in­di­fe­rente à sua com­ba­ti­vi­dade e ale­gria. Muitos, vendo-os passar, não con­ti­veram as pa­la­vras de in­cen­tivo e apoio. Quem sabe se os seus pró­prios fi­lhos ou netos não so­frem dos mesmos pro­blemas dos jo­vens que ali se ma­ni­fes­tavam? O que é bem pro­vável, sa­bendo-se que meio mi­lhão de jo­vens até aos 35 anos estão de­sem­pre­gados e que a pre­ca­ri­e­dade afecta mais de um mi­lhão e 200 mil tra­ba­lha­dores, jo­vens na sua mai­oria.

No início da Rua Gar­rett, Je­ró­nimo de Sousa sau­dava os jo­vens ma­ni­fes­tantes, que de­vol­viam o cum­pri­mento, num sinal claro de re­co­nhe­ci­mento do papel ímpar do PCP na luta pelos di­reitos de quem tra­balha. In­te­grado na marcha vinha Ar­ménio Carlos, se­cre­tário-geral da In­ter­sin­dical.

 

Não de­sar­mamos

 

Che­gados ao Largo Ca­mões, que ra­pi­da­mente ficou re­pleto, os ma­ni­fes­tantes ou­viram as in­ter­ven­ções da co­or­de­na­dora da In­ter­jovem, Ana­bela La­ran­jeira, e de Ar­ménio Carlos. Fa­lando em nome dos jo­vens tra­ba­lha­dores, a jovem sin­di­ca­lista co­meçou por ga­rantir que «es­tamos em luta e não de­sar­mamos». De­pois de uma greve geral em que «par­ti­ci­pámos em força, re­jei­tando as al­te­ra­ções à le­gis­lação la­boral que nos re­tiram di­reitos e au­mentam o de­sem­prego, vol­támos à rua, não só porque es­tamos des­con­tentes e não po­demos aceitar a si­tu­ação em que nos en­con­tramos mas porque temos so­lu­ções e exi­gên­cias que têm de ser ou­vidas».

E de­sen­gane-se quem pensar que a luta ter­mina aqui. Como deixou bem claro Ana­bela La­ran­jeira, «vol­ta­remos à rua e vol­ta­remos aos nossos lo­cais de tra­balho para lutar e para mos­trar que é pos­sível com­bater o de­sâ­nimo, que é pos­sível re­sistir, sin­di­ca­lizar mais com­pa­nheiros de tra­balho, trazer à luta mais amigos». Ainda se­gundo a di­ri­gente sin­dical, «há mi­lhares de jo­vens no nosso País, muitos deles hoje aqui pre­sentes, com dis­po­ni­bi­li­dade, ca­pa­ci­dade e cri­a­ti­vi­dade su­fi­ci­ente para cons­truir um fu­turo me­lhor».

Pelo mesmo di­a­pasão afinou Ar­ménio Carlos, va­lo­ri­zando a «grande par­ti­ci­pação ju­venil» na greve geral de 22 de Março, apesar da pre­ca­ri­e­dade em que tra­ba­lham muitos dos que a ela ade­riram. De­pois da greve e do seu im­pacto, o fun­da­mental é con­ti­nuar a luta nos lo­cais de tra­balho pela pas­sagem a efec­tivos dos tra­ba­lha­dores com vín­culos pre­cá­rios e pelo au­mento dos sa­lá­rios, acres­centou.

O se­cre­tário-geral da CGTP-IN, após ex­pli­citar o con­teúdo ne­ga­tivo das al­te­ra­ções à le­gis­lação la­boral (co­zi­nhadas pelo Go­verno, pa­tro­nato e UGT e apro­vadas na ge­ne­ra­li­dade pela troika PS, PSD e CDS), ga­rantiu que a luta vai pros­se­guir contra a sua apli­cação nos lo­cais de tra­balho.

O Hino da In­ter­sin­dical, A In­ter­na­ci­onal e A Por­tu­guesa mar­caram o fim de mais esta grande acção de luta, com a pro­messa de que no 25 de Abril e no 1.º de Maio os jo­vens tra­ba­lha­dores es­tarão no­va­mente na rua a exigir di­reitos. Até lá, como re­pe­tiram em unís­sono por di­versas vezes, a luta con­tinua nas em­presas e na rua.

 

Ser jovem em Por­tugal...

 

Meio mi­lhão de jo­vens estão no de­sem­prego, re­pre­sen­tando 59 por cento do total dos de­sem­pre­gados.

A mai­oria dos 400 mil tra­ba­lha­dores que ga­nham o sa­lário mí­nimo são jo­vens ou mu­lheres. De­pois dos des­contos, o que levam para casa co­loca-os abaixo do li­miar de po­breza.

Mais de um mi­lhão e 200 mil tra­ba­lha­dores têm vín­culos pre­cá­rios. A mai­oria é jovem.

Mais de 60 por cento dos jo­vens vivem em casa dos pais por não terem con­di­ções para ini­ciar uma vida in­de­pen­dente.

 

Tra­balho com di­reitos!

 

Na moção apro­vada pelos ma­ni­fes­tantes no Largo Ca­mões, a In­ter­jovem/​CGTP-IN re­a­firmou as suas prin­ci­pais exi­gên­cias: um forte com­bate à pre­ca­ri­e­dade e ao de­sem­prego, pelo tra­balho digno com di­reitos; a exi­gência de que a um posto de tra­balho per­ma­nente cor­res­ponda um vín­culo de tra­balho efec­tivo, re­jei­tando as pro­postas do Go­verno que pro­movem a pre­ca­ri­e­dade ao in­cen­ti­varem a con­tra­tação a prazo através do fi­nan­ci­a­mento dos sa­lá­rios com di­nheiros pú­blicos.

A moção exige ainda ho­rá­rios de tra­balho dignos que per­mitam aos jo­vens ter uma vida pes­soal, re­jei­tando a im­po­sição do banco de horas, o tra­balho gra­tuito du­rante os dias de folga e os fe­ri­ados, a re­dução em 50% do pa­ga­mento do tra­balho ex­tra­or­di­nário e a eli­mi­nação dos des­cansos com­pen­sa­tó­rios. Re­clama-se ainda o au­mento real dos sa­lá­rios, no­me­a­da­mente a ac­tu­a­li­zação do sa­lário mí­nimo na­ci­onal, co­me­çando com a pro­posta de au­mento de um euro por dia.

A es­tru­tura ju­venil da CGTP-IN re­jeita ainda a li­mi­tação do acesso a di­reitos ele­men­tares como o tra­balho, a edu­cação, a saúde, a ha­bi­tação e a cul­tura.



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