CIA e SIS – provocação e repressão

Carlos Gonçalves (Membro da Comissão Política)

Nos últimos dias vieram a público elementos de apreciação sobre a realidade social e, supostamente, sobre a segurança interna, produzidos pela CIA e pelo SIS, que não constituindo novidade – são instrumentos vulgares da provocação organizada e recorrente contra o regime democrático para acentuar a sua degenerescência – , assumem, no contexto do saque ao País pelo capital financeiro, a coberto do pacto de agressão, uma gravidade acrescida, porque visam o condicionamento e a repressão ideológica do nosso povo, para abrir caminho a novas medidas autoritárias e de repressão política no curto/médio prazo.

A provocação visa abrir caminho à repressão

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A CIA, no seu site, a coberto de alguns elementos de diversão, classifica em concreto a CGTP-IN e a Associação de Oficiais das Forças Armadas (AOFA) como principais «grupos de pressão» em Portugal. A agência de espionagem USA, com uma arrogância imperial, recorrente e acintosa, assume assim uma intromissão ilegítima e inaceitável nos assuntos internos do nosso País, que absolutamente repudiamos.

Incubadora e braço executor de inumeráveis crimes do imperialismo contra a humanidade nos últimos sessenta e cinco anos, e cujas operações recentes mais conhecidas são o rapto e tráfico internacional de alegados «terroristas» – com passagem pelo território nacional e conivência dos governos do PSD e do PS –, para serem torturados em prisões secretas, na Polónia e algures, os assassínios sistemáticos e mesmo indiscriminados no Paquistão e Irão, e a subversão, terrorismo de Estado e guerra não declarada contra os povos soberanos da Líbia e da Síria, a CIA não tem qualquer sombra de autoridade para se pronunciar sobre os que, no nosso País, intervêm em defesa de direitos fundamentais, legal e constitucionalmente consagrados.

Mas se relativamente à CGTP-IN não há novidade na perseguição imperialista, no que respeita ao movimento associativo dos militares, e não só à AOFA, do que se trata é de fazer o caminho da intoxicação e da repressão ideológica, da caracterização como «grupo de pressão», parente próximo do «inimigo interno», visando condicionar e mesmo proibir a sua actividade, como aliás defendem os sectores mais reaccionários no Governo.

Quanto ao SIS, uma vez mais, a pretexto da greve geral de 22 de Março, elaborou um «relatório» de «antecipação de riscos e ameaças expectáveis» para esse dia, em termos de segurança interna e, mais tarde, na decorrência dos acontecimentos de que o dito relatório foi instrumento de instigação e provocação, providenciou a sua publicação na comunicação social conveniente para o efeito, visando levar mais longe o «alarmismo» e justificar as medidas repressivas.

Facto é que, embora o MAI e mesmo o «relatório» façam a destrinça entre os grupelhos de provocadores, parasitas da luta de classe e de massas, e a CGTP-IN e as suas acções na greve geral, os acontecimentos do Chiado estavam convenientemente prontos para ser filmados e projectados à exaustão, interna e externamente, e serviram minuciosamente para o encaixe ideológico há muitos dias pré definido pelo capital financeiro e pela central de comando do Governo - «greve geral fraca e marcada pela violência» – assim mentiu o figurão de serviço na abertura do Telejornal e assim, ou com mais «molho», foi repetido à exaustão pelos media dominantes.

Facto é que, apesar do muito cuidado para não se exporem, é o Governo e especificamente o primeiro-ministro que comanda o SIS e os «relatórios», que depois implicam o dispositivo operacional das forças de segurança e suscitam o ambiente em que se desenvolveu em concreto esta provocação, e em que o «polícia que se excedeu» e os repórteres brutalmente agredidos não passam de «trocos».

Facto é que assim se constrói um quadro ideológico de intimidação e repressão das lutas de massas, para suscitar o medo e a resignação e criar condições futuras à sua limitação progressiva, sob o pretexto de acontecimentos que são preparados pelos próprios serviços de informações e os seus agentes nesses grupelhos.

 

Defender e cumprir Abril

 

O pacto de agressão, firmado e executado pelo PS/PSD/CDS, é um ataque brutal contra a soberania nacional, contra os trabalhadores e o povo, a quem visa expropriar a democracia económica, social, cultural e política, em benefício do capital financeiro. E as provocações da CIA e do SIS, a intimidação e repressão ideológica são um instrumento maior de subversão do regime democrático, para retirar e reprimir direitos fundamentais.

Exercer os direitos, rechaçar as provocações, intervir e lutar, acumular forças e reforçar o PCP é este o caminho para derrotar o pacto de agressão e para defender e cumprir Abril.

 



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