Urgente

Vasco Cardoso

É preciso baixar salários! A máxima vai-se repetindo até à exaustão, seja sob a forma de apelo, seja em jeito de ameaça. É a perversa lógica de maximização do lucro patente no processo de agravamento da exploração que está a ser imposta a milhões de trabalhadores no nosso País.

E de facto os nossos salários, que já eram dos mais baixos da União Europeia, estão a baixar todos os dias: baixam quando aumentam os preços dos bens e serviços essenciais – transportes, taxas moderadoras, alimentos, electricidade, gás, combustíveis ou portagens; baixam quando parte do subsídio de Natal de 2011 foi roubado à esmagadora maioria dos trabalhadores, ou quando os subsídios de férias e de Natal vão à vida este ano para muitos dos pensionista e trabalhadores da administração pública; baixam quando são congelados os valores do salário mínimo nacional ou os vencimentos na administração pública ao mesmo tempo que a inflação vai disparando (mais de 3,3% em 2011); baixam quando aumentam os impostos sobre o consumo (IVA) ou sobre os rendimentos do trabalho (IRS).

O aumento do custo de vida, dos impostos e o roubo directo aos rendimentos do trabalho está de facto a produzir uma degradação acelerada do valor real dos salários, a empurrar milhares de pessoas para a pobreza, a estrangular a economia e a criar mais desemprego.

Esta semana foi António Borges que deu o mote. Essa sinistra criatura, onde o currículo se confunde com cadastro, desde o alto quadro da toda poderosa Goldman Sachs ou director do FMI que foi, ao membro dos conselhos de administração da Jerónimo Martins ou da Fundação Champalimaud que agora é, António Borges é um dos indivíduos colocados pelo grande capital na sombra deste Governo para, entre outros obscuros assuntos, conduzir o criminoso processo de privatizações que PS, PSD e CDS acertaram com a troika.

«Não é política, é uma urgência» diz António Borges sobre a redução de salários. Aliás a mesma «urgência» que está na base da decisão de colocar nas próximas semanas mais de cinco mil milhões de euros de recursos públicos no BCP e no BPI sob o eufemismo da «recapitalização» da banca, mantendo intocáveis os lucros acumulados pelos seus accionistas ao longo de anos.

Urgente, urgente é pôr a andar esta gente!



Mais artigos de: Opinião

O aviso

Quem ouviu Passos Coelho afirmar esta segunda-feira que «os portugueses já não estão perante o abismo com que nos defrontámos há praticamente um ano» deve ter-se lembrado – se para tanto tiver memória – da conhecida frase do antigo presidente brasileiro...

Sistema privado de propaganda

Falar de manipulação da e na comunicação social dominante não é, infelizmente, coisa pouco habitual. No plano nacional temos como mais recente exemplo o vergonhoso silenciamento das acções de luta do PCP contra o pacto de agressão que mobilizaram dezenas de...

Vozes ao alto!

A «benemérita» troika «emprestou-nos» 78 mil milhões de euros. Essa «desinteressada ajuda» vai custar-nos de juros 34,4 milhões de euros e uma austeridade que nos vai matando todos os dias um pouco mais. Desse dinheiro 25% vai para a Banca – 12 mil...

Massacres

O presidente do país reúne «todas as terças-feiras com cerca de duas dúzias de oficiais da segurança» para analisar a lista de alvos «a serem mortos ou capturados, sendo que a opção da captura se tornou em grande medida meramente teórica»....

Rio +20<br>Encontrar soluções ou pintar o capitalismo de verde?

Aproxima-se a realização da Cimeira Rio+20, a chamada Cimeira da Terra. Não se tendo iniciado os trabalhos da cimeira propriamente dita, várias organizações e governos posicionam-se, sendo já conhecida uma série de documentos da Comissão Europeia, do Conselho e do Parlamento Europeu assim como da própria ONU, entre outros.