Sim, é possível os comunistas vencerem eleições burguesas

Manuel Gouveia

Este do­mingo trava-se im­por­tantes ba­ta­lhas elei­to­rais na Grécia e em França, onde a 6 de Maio os povos re­jei­taram o ca­minho que lhes está a ser im­posto (que este pros­siga, me­ra­mente re­cau­chu­tado, expõe mais uma vez que o sis­tema elei­toral bur­guês se des­tina a pre­servar a di­ta­dura da bur­guesia e nunca a co­locá-la em causa).

Num e noutro país, é in­fin­dável a lista de can­di­datos a gerir de forma mais eficaz (à di­reita) ou mais hu­mana (à es­querda) o mesmo sis­tema ca­pi­ta­lista cuja fa­lência se torna dia a dia mais evi­dente. Fazem fila in­diana para vender ao povo as mesmas ilu­sões – es­co­lham-nos a nós, que sa­be­remos salvar o ca­pi­ta­lismo fa­zendo-o fun­ci­onar de forma mais eficaz/​hu­mana – es­con­dendo nas artes da ora­tória que apenas as­piram a ad­mi­nis­trar a ex­plo­ração e co­mandar a opressão do povo.

Mi­lhões de tra­ba­lha­dores, en­fren­tando uma si­tu­ação so­cial in­sus­ten­tável, so­frem ainda o ataque de tenaz des­ti­nado a fazê-los optar entre um e outro «mal menor»: entre a chan­tagem da «aus­te­ri­dade ou caos»; e as pro­messas de re­tirar umas gramas ao peso da canga e al­mo­fadar as gri­lhetas, com as aus­te­ri­dades in­te­li­gentes.

Para tornar mais di­fícil o es­cla­re­ci­mento e mo­bi­li­zação po­pular, à «es­querda», bandos de opor­tu­nistas de todos os ma­tizes (e de in­gé­nuos e bem-in­ten­ci­o­nados con­su­mi­dores de banha da cobra) cha­pi­nham ale­gre­mente no pân­tano, rein­ven­tando todas as ilu­sões sobre o papel da so­cial-de­mo­cracia, sobre a pos­si­bi­li­dade de re­forma da UE e do pró­prio ca­pi­ta­lismo.

Só os co­mu­nistas re­sistem – e por isso são fe­roz­mente ata­cados. Porque apontam o dedo ao sis­tema ca­pi­ta­lista, à sua es­sência, às suas con­tra­di­ções in­sa­ná­veis, às suas taras. Porque co­locam como ta­refa dos tra­ba­lha­dores e dos povos a li­ber­tação na­ci­onal do im­pe­ri­a­lismo, a su­pe­ração re­vo­lu­ci­o­nária do ca­pi­ta­lismo e a cons­trução do so­ci­a­lismo – o poder dos tra­ba­lha­dores, a so­ci­a­li­zação dos meios de pro­dução. Porque apesar de ad­mi­tirem todas as etapas, todas as con­quistas in­ter­mé­dias, todas as re­formas que mi­norem o so­fri­mento po­pular, só as con­cebem como con­quistas e se re­cusam a fazer con­ces­sões ao sis­tema, se re­cusam a se­mear ilu­sões sobre um utó­pico ca­pi­ta­lismo ci­vi­li­zado.

Do­mingo, os co­mu­nistas ven­cerão mais umas elei­ções. Re­sis­tindo!



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