Nuclear no Japão, não!
Um ano e meio após a catástrofe em Fukushima, pelo menos 170 mil japoneses manifestaram-se contra o uso da energia nuclear no país. A principal exigência é que o governo não ceda aos interesses privados.
Os japoneses exigem ao governo que não ceda aos privados
O protesto realizado segunda-feira, em Tóquio, foi uma das maiores acções promovidas pelo movimento anti-nuclear nipónico (que todas as sextas-feiras se concentra no centro da capital) e ocorreu quando o executivo liderado pelo primeiro-ministro Yoshihiko Noda tarda em decidir o encerramento de todos os reactores no país.
«O governo coloca os interesses económicos à frente da saúde das populações», considerou um dos manifestantes ouvido pela AFP. Outro participante na marcha admitiu que o acidente de Fukushima contribuiu fortemente para que a causa anti-nuclear garantisse uma simpatia crescente entre a população do arquipélago, cuja intensa actividade sísmica desaconselha a que as centrais nucleares sejam um dos pilares fundamentais da política energética do país, sustentam os organizadores.
Após o acidente de Fukushima, que deixou vastas áreas do território inabitáveis por décadas, o governo suspendeu a produção de energia eléctrica em 49 dos 50 reactores espalhados pelo Japão.
Recentemente, as empresas a quem está concessionada a exploração das centrais incrementaram a pressão sobre o executivo para que levante o embargo e permita a laboração como antes.
No início deste mês, um relatório elaborado por dez especialistas sob os auspícios do parlamento concluiu que a catástrofe de Fukushima não se deveu, no fundamental, ao tsunami que atingiu o território japonês a 11 de Março de 2011.
«O acidente não pode ser atribuído ao desastre natural. Foi um desastre provocado pelo homem, que deveria ter adoptado medidas preventivas», diz o texto.
No documento, os peritos acusam «os governos anteriores e o de então, as autoridades de regulação e a Tokyo Electric Power (Tepco) de fracassarem no seu dever de proteger as pessoas», e, neste contexto, «o acidente foi consequência da cumplicidade entre o governo, a agência de regulação e o operador, a Tepco. Traíram a nação porque não a protegeram», acrescenta-se.
A Tepco sempre defendeu que a catástrofe nuclear em Fukushima resultou do maremoto, mas a já referida comissão rejeitou liminarmente tal argumentação, considerando que «poderiam ter sido tomadas medidas», contudo, «a agência reguladora e a Tepco nada fizeram deliberadamente», nem sequer «adoptaram nenhuma medida de segurança no momento do acidente», acusa-se no texto.
Recorde-se que já este ano o governo japonês aprovou um pacote de ajuda à Tepco de aproximadamente 10 mil milhões de euros, não reembolsáveis. O plano prevê que a empresa regresse aos lucros no prazo de dois anos, o que pressupõe que tenha de voltar à actividade.