Desigualdade agudiza-se entre os norte-americanos

Ricos prosperam com a miséria da maioria

A dis­tri­buição da ri­queza nos EUA mostra um enorme fosso entre a elite opu­lenta e a imensa mai­oria do povo, cons­tatam dados re­cen­te­mente di­vul­gados num país que todos os in­di­ca­dores mos­tram pre­ci­pitar-se para o de­clínio.

Me­tade da po­pu­lação detém apenas 1,1 por cento da ri­queza

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De acordo com um re­la­tório do Centro de Pes­quisas do Con­gresso dos EUA, di­vul­gado quinta-feira, me­tade da po­pu­lação dos EUA detém apenas 1,1 por cento do total da ri­queza. Em con­traste, a fracção mais res­trita da bur­guesia na­ci­onal pos­suía 34,5 por cento de toda a ri­queza.

Alar­gando a amostra, con­tinua a so­bres­sair a de­si­gual­dade abissal ca­vada pelo ca­pi­ta­lismo entre grandes pos­si­dentes e a res­tante massa de pe­quenos pro­pri­e­tá­rios e pro­le­tá­rios, já que, em 2010, 10 por cento dos pri­meiros ar­re­ba­tavam 74,5 por cento de toda a ri­queza dos EUA.

Se­gundo o mesmo texto, a si­tu­ação tem vindo a agravar-se nos úl­timos anos do sé­culo XX e na pri­meira dé­cada do sé­culo XXI. Em 1995, me­tade da po­pu­lação norte-ame­ri­cana de­tinha 3,6 por cento da ri­queza, mas em 2001 esse ín­dice era já só de 2,8 por cento. Em 2010, como já foi re­fe­rido, a per­cen­tagem si­tuou-se nos 1,1 pontos.

A si­tu­ação não es­capa ao povo norte-ame­ri­cano. Isso mesmo pa­rece con­firmar um inqué­rito re­cente ela­bo­rado pelo Ins­ti­tuto Pú­blico de Pes­quisas Re­li­gi­osas, que afirma que 79 por cento dos in­qui­ridos con­si­dera que a de­si­gual­dade nos EUA tem vindo a au­mentar. A mesma son­dagem, ci­tada pela As­so­ci­ated Press, re­lata que 67 por cento dos ques­ti­o­nados ma­ni­festa-se contra os cortes fe­de­rais e es­ta­tais nos pro­gramas de as­sis­tência, des­ti­nados a mi­tigar a mi­séria dos mais des­fa­vo­re­cidos.

 

Con­sequên­cias para os do cos­tume

 

En­tre­tanto, a mesma agência no­ti­ciosa pro­moveu um es­tudo no qual se afirma que a po­breza nos EUA pode al­cançar um re­corde ab­so­luto, com os agre­gados su­bur­banos, os de­sem­pre­gados e as cri­anças entre os mais atin­gidos pelo fla­gelo ine­rente ao sis­tema ca­pi­ta­lista.

O texto contou com a co­la­bo­ração de mais de uma dúzia de eco­no­mistas e aca­dé­micos, para quem um em cada seis norte-ame­ri­canos, cerca de 47 mi­lhões de pes­soas, vi­viam, em 2011, abaixo do li­miar da po­breza.

A es­ti­ma­tiva de 15,1 por cento da po­pu­lação em si­tu­ação de po­breza ex­trema, re­la­tiva ao ano pas­sado, deve no en­tanto ter sido já ul­tra­pas­sada, ad­mitem os pe­ritos, que notam ainda que, por este ca­minho, o país pros­se­guirá a passos largos a apro­xi­mação ao ín­dice ob­ser­vado em 1959, quando mais de 22 por cento dos norte-ame­ri­canos vi­viam abaixo do mí­nimo ad­mi­tido como sus­ten­tável.

A média dos ren­di­mentos não pára de cair, afirmam, por outro lado, os dados ofi­ciais, cujos nú­meros re­portam, igual­mente, um es­tan­ca­mento na cri­ação de postos de tra­balho. O mês pas­sado terão sido cri­ados pouco mais de 80 mil novos em­pregos, valor in­capaz de ab­sorver a massa de de­sem­pre­gados no ter­ri­tório.

Muitos dos de­sem­pre­gados, sa­li­entam também os es­pe­ci­a­listas con­si­de­rados pela AP, pura e sim­ples­mente de­sis­tiram de manter a ins­crição nos cen­tros de em­prego, factor que de­verá con­tri­buir para a ac­tual taxa de de­sem­prego ofi­cial in­di­cada: 8,2 por cento.

A ver­dade é que, ainda assim, a taxa de de­sem­prego ofi­cial re­gistou uma su­bida em 27 es­tados norte-ame­ri­canos, com as per­cen­ta­gens mais ele­vadas de 11,6 e 10,9 no Ne­vada e em Rhode Is­land, res­pec­ti­va­mente.

 

Si­nais de de­clínio

 

Pa­ra­le­la­mente, nos EUA avo­lumam-se as pre­o­cu­pa­ções sobre a si­tu­ação eco­nó­mica. A As­so­ci­ação Na­ci­onal de Agentes Imo­bi­liá­rios afirma que du­rante o mês de Junho as vendas de casas usadas caiu 5,4 por cento e que o preço médio dos imó­veis con­tinua a tra­jec­tória des­cen­dente que o fez de­crescer, já este ano, 7,9 por cento face a 2011. O sector foi um dos que mais ex­pres­si­va­mente ilus­trou a di­mensão da ac­tual crise ca­pi­ta­lista. A sua evo­lução e es­tado é, por isso, um ba­ró­metro.

Entre o ca­pital fi­nan­ceiro, pros­segue a re­ar­ru­mação de po­si­ções, com os mais pe­quenos e dé­beis a su­cum­birem à im­po­sição do grande ca­pital fi­nan­ceiro no ter­reno dos ne­gó­cios. Só este ano já fa­liram 33 ins­ti­tui­ções de cré­dito nos EUA. O Mis­souri´s Glasgow Sa­vings Bank foi a úl­tima.

O nú­mero está, ainda assim, longe dos 90 bancos que de­cla­raram ban­car­rota em 2011; dos 175 em 2010; dos 140 em 2009, mas, não obs­tante, é um dado que im­porta re­gistar.

De acordo com o Washington Post, o custo das fa­lên­cias ban­cá­rias para a eco­nomia dos EUA rondou, em 2011, os 88 mil mi­lhões de dó­lares.

No que às contas pú­blicas diz res­peito, as mãos rotas das ad­mi­nis­tra­ções Bush e Obama para o grande ca­pital fi­nan­ceiro evi­dencia-se, não apenas, nos cortes nos pro­gramas so­ciais, os quais, re­corde-se, me­recem o re­púdio da mai­oria dos norte-ame­ri­canos.

O mu­ni­cípio de San Ber­nar­dino foi o mais re­cente no rol de au­tar­quias a de­cla­rarem ban­car­rota. O pe­dido de ajuda às au­to­ri­dades deve-se ao facto do con­selho mu­ni­cipal ter cons­ta­tado que não tinha di­nheiro para pagar os sa­lá­rios dos fun­ci­o­ná­rios pú­blicos da ci­dade com cerca de 210 mil ha­bi­tantes.

Antes, já os mu­ni­cí­pios de Stockton e Val­lejo, também na Ca­li­fórnia, ha­viam de­cla­rado fa­lência. No total, nos úl­timos quatro anos, 10 au­tar­quias ti­veram de re­correr a res­gates pú­blicos.

O pro­blema avo­luma-se e há mesmo quem afirme que pesem os do­lo­rosos cortes para as po­pu­la­ções, o ca­minho de im­por­tantes ci­dades como De­troit, Nova York, San Diego, San José, San Fran­cisco, Los An­geles, Cin­cin­nati ou Newark, por exemplo, pode mesmo ser a ban­car­rota. Pelo menos a julgar pelas rup­turas ob­ser­vadas nos já ema­gre­cidos sis­temas de edu­cação e ou­tros ser­viços pú­blicos, alerta-se em ar­tigo pu­bli­cado no Global Re­se­arch.

Num mero exer­cício ilus­tra­tivo da si­tu­ação de­clínio em que se en­con­tram os EUA, se o De­par­ta­mento do Te­souro dos EUA im­ple­men­tasse um plano de pa­ga­mento da dí­vida pú­blica, acu­mu­lada para salvar a banca, re­corde-se –, e o pro­grama de­ter­mi­nasse a trans­fe­rência de um dólar por se­gundo para os cre­dores, então os EUA de­mo­ra­riam 450 anos a saldar as contas.



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