No reino do disparate…

Aurélio Santos

Se fi­zermos uma breve re­tros­pec­tiva dos úl­timos 30 anos da vida deste País com o cor­tejo de as­neiras e erros de­ci­didos na dança e con­tra­dança do PSD/​CDS-PP e do PS pelo poder é sim­ples per­ceber o es­tado a que o País chegou.

O dis­curso é sempre o mesmo – é no in­te­resse do País que as me­didas são to­madas. É caso para per­guntar: então por que vamos fi­cando sempre pior?

Re­cor­demos al­gumas dessas «boas» me­didas.

Em 1990 o «rei» Ca­vaco pri­va­tizou a banca. Du­rante mais de duas dé­cadas os ban­queiros en­cheram os bolsos com mi­lhões, quando che­garam os pre­juízos – o con­tri­buinte foi cha­mado a pagar.

O mesmo «rei­zinho» pro­moveu a des­truição da agri­cul­tura e das pescas. Hoje, pasme-se, quando os agri­cul­tores já não têm terra e os pes­ca­dores barcos – faz apelos a «virar-nos para o mar» e vem dizer-nos que não po­demos con­ti­nuar a im­portar.

A certa al­tura vi­eram com o dis­curso que o bom era plantar eu­ca­liptos. Hoje somos o país da Eu­ropa com mais área ar­dida graças ao ben­dito eu­ca­lipto que já se tornou uma praga. Foi bom sim, mas apenas para as em­presas de ce­lu­lose.

No rei­nado de Durão Bar­roso li­be­ra­lizou-se o preço da ga­so­lina, que, dis­seram, ia ficar mais ba­rata. O bri­lhante re­sul­tado é que temos um dos preços mais altos da Eu­ropa. A Galp e con­gé­neres fi­caram agra­de­cidas.

En­trámos na «era» de Só­crates e caímos na in­sa­ni­dade. Dizer que somos os cam­peões das PPP é dizer pouco. Em 2009 tí­nhamos mais em­prés­timos com PPP do que a França, a Ir­landa, a Po­lónia e a Es­panha juntas. As auto-es­tradas eram úteis se ti­vés­semos pro­dução e di­nheiro para pagar as por­ta­gens, de con­trário só ser­viram para os «amigos» em­prei­teiros.

Agora vi­vemos numa nova versão da ar­ro­gância. O Go­verno trata o País como se fosse cou­tada sua e tenta a toda a ve­lo­ci­dade passar o pouco que nos resta para as mãos dos amigos. Fan­tasia fa­lando em cres­ci­mento e de­sen­vol­vi­mento mas o único cres­ci­mento que se tem visto é o do de­sem­prego e a po­breza em grande ex­pansão.

O que estes se­nhores têm feito ao longo destes anos é tratar da sua vi­dinha, ga­rantir o seu fu­turo e o dos amigos. O País e o povo, pa­ra­fra­se­ando o pri­meiro mi­nistro – «que se lixem»!



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