Na principal artéria do Espaço Central, uma vintena de lugares sentados, somando as três filas de cadeiras com um ou dois bancos corridos, que se iam movendo ao sabor da sombra, instalou-se o programa À Conversa com... Dois dos seus quatro temas realçaram a importância histórica do ano de 1962 e a actualidade dos seus ensinamentos.
Os motivos por que o PCP o considera um ano de viragem na luta contra o fascismo foram abordados no domingo, à tarde, por Domingos Abrantes, funcionário do Partido desde os anos 50 e hoje membro do Comité Central, e por Manuela Bernardino, do Secretariado do CC, na altura participante activa nas movimentações de estudantes.
Algumas das acções realizadas em 1962 tiveram uma dimensão nunca antes atingida. Mas não ganharam importância apenas pela sua amplitude: elas foram o início de um processo que teve continuação até ao 25 de Abril de 1974, reflectiu-se no derrube do fascismo e influenciou as características da revolução – como assinalou Domingos Abrantes. Lembrou o contexto nacional e internacional que antecedeu 1962, bem como alguns marcos que pontuam aquele ano, destacando o 1.º de Maio, quando a classe operária assume a liderança na luta contra o fascismo, e a conquista da jornada de oito horas nos campos do Alentejo e Ribatejo, mobilizando centenas de milhares de trabalhadores, apesar da feroz repressão policial.
Em 1962 ocorre a entrada dos estudantes para a primeira linha da luta antifascista, realçou Manuela Bernardino, afirmando a necessidade de combater a revisão da história e a menorização do papel determinante dos comunistas no movimento estudantil e na construção da unidade. Evidenciou o «luto académico» que se seguiu à carga policial de 24 de Março e que se prolongou por três meses de greve às aulas, de plenários e assembleias, de comunicados regulares – uma luta que teve o apoio da população e dos professores e que trouxe para a luta política contra o fascismo muitos filhos da pequena, média e até grande burguesia. Mas em todas as direcções associativas havia comunistas e a organização do Partido cresceu muito, dando assim mais força à luta de todos.
Nesse ano, a 12 de Março, começaram as emissões da Rádio Portugal Livre, cuja importância foi lembrada no encontro de domingo e constituiu o tema de sábado, à tarde. À Conversa estiveram Maria da Piedade Morgadinho, que integrou de 1963 a 1974 o colectivo do PCP que assegurou as transmissões, e Luísa Araújo, do Secretariado do Partido. No Auditório de debates, foi criado um painel evocativo dos 50 anos do dia em que «finalmente, ouviu-se a voz de Portugal Livre» – como titulava o Avante!, numa primeira página reproduzida nesta exposição.
As lutas de 1962 foram o tema da exposição no módulo dedicado à imprensa do Partido. Aqui, camaradas que trabalharam em tipografias clandestinas mostraram como então se imprimia, oferecendo aos visitantes uma folha de papel-bíblia com os cabeçalhos do Avante! e d' O Militante, acabada de sair do prelo.