Mistérios

João Frazão

Das entrevistas que António José Seguro dá esta semana sobra um insondável mistério.

O secretário-geral do PS animado por umas sondagens que agora lhe atribuem um resultado favorável, afivela a sua melhor pose de Estado e discorre sobre a situação do País. Muito crítico e assertivo anuncia uma possível moção de censura, talvez se, diz que vota contra o Orçamento e critica o Governo, quanto baste.

O mistério começa quando Seguro é questionado sobre se considerava útil a realização de eleições antecipadas. Que não, que se deveria garantir que este Governo leva o mandato até ao fim, que eleições antecipadas não são desejáveis. Que a estabilidade é um valor a preservar e que ele não tem pressa de ir para o Governo.

Ora o jornalista não perguntou, e Seguro não respondeu, para quê, então, apresentar a dita moção, se quer que o Governo não caia.

E também não perguntou como é que Seguro compagina as críticas que faz ao Governo e o voto contra o Orçamento com o desejo de que PSD e CDS continuem a concretizar a sua política, alegremente, por mais três anos.

Ou Seguro não sabe que a política de direita, expressa no pacto de agressão de que ele é um dos subscritores, tem consequências directas e dramáticas na vida dos trabalhadores e do povo?

Ou Seguro não sabe que essa política se salda já em 1,3 milhões de desempregados, num cortejo de dificuldade, fome e miséria?

Ou Seguro não sabe que este rumo arrasta atrás de si um rasto de insegurança, incerteza, desesperança?

A questão é que Seguro sabe. Mas, como em devida altura assinalámos, não se quer libertar da aliança de ferro com que está preso ao pacto de agressão que assinou com a troika estrangeira.

Das duas, uma. Ou Seguro acha que é indiferente a continuação das malfeitorias e os impactos que isso tem na vida de milhões de portugueses, vítimas desta política, ou considera que, com Passos, Portas & companhia, é possível uma política que ele (Seguro) considere aceitável.

O problema é que aquilo que Seguro (bem como o grande capital) considera aceitável é inaceitável para os trabalhadores, o povo e o País.

E estes têm dado a devida resposta, nas empresas e na rua. E vão voltar a dizê-lo já no dia 29, no Terreiro do Paço.

 

 



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