O CT Vitória no Lisboa Open House

Filipe Diniz

No pri­meiro fim-de se­mana de Ou­tubro, o Centro de Tra­balho Vi­tória es­teve par­ci­al­mente aberto a vi­sitas de pes­soas in­te­res­sadas em co­nhecer me­lhor um dos edi­fí­cios mais em­ble­má­ticos da ci­dade de Lisboa.

A pro­posta partiu da Tri­enal de Ar­qui­tec­tura de Lisboa, que propôs que o CT Vi­tória in­te­grasse um con­junto de cerca de 50 edi­fí­cios que se­riam vi­si­tados no quadro da ini­ci­a­tiva Open House, que se re­a­lizou agora pela pri­meira vez em Lisboa. Esta ini­ci­a­tiva abrangia já doze ou­tras ci­dades tão im­por­tantes do ponto de vista do seu pa­tri­mónio ar­qui­tec­tó­nico como Lon­dres, Bar­ce­lona, Roma ou Nova Iorque.

Foi pre­pa­rada pelo sub­sector dos Ar­qui­tectos do Sector In­te­lec­tual da ORL uma vi­sita guiada com o tema «Do Hotel Vi­tória ao Centro de Tra­balho Vi­tória». Na vi­sita foi dada in­for­mação sobre o autor do pro­jecto, o ar­qui­tecto Cas­siano Branco, uma das per­so­na­li­dades mais no­tá­veis do mo­der­nismo em Por­tugal; sobre a no­tável e au­da­ciosa ino­vação formal que este edi­fício re­pre­senta; sobre o modo e as con­di­ções em que se in­sere no con­junto edi­fi­cado da Ave­nida da Li­ber­dade. Foi feito um breve his­to­rial do edi­fício en­quanto «Hotel Vic­tória», função que de­sem­pe­nhou entre 1936 e me­ados dos anos 60, e da sua de­ca­dência e aban­dono até 1975. Em Março de 1975 o PCP aluga-o, e o edi­fício entra numa nova fase his­tó­rica, a de Centro de Tra­balho Vi­tória.

Essa nova vida não re­sulta apenas da in­tensa ac­ti­vi­dade po­lí­tica e cul­tural que desde então tem lugar no CT Vi­tória. Ad­qui­rindo o edi­fício em 1984 (graças à cam­panha «60 mil contos para o Vi­tória»), o PCP em­pre­endeu desde então di­versas obras de re­cu­pe­ração e rein­te­gração do edi­fício no seu de­senho ori­ginal, bas­tante de­gra­dado so­bre­tudo a partir dos anos 60. Nas obras dos anos 80 é feito um res­tauro de toda a fa­chada, re­pondo a pala cir­cular sobre a en­trada, que fora des­truída, e re­cons­truindo a pér­gola do ter­raço, que ruíra no sismo de 1969. Nas obras dos anos 90 todo o piso térreo é re­cu­pe­rado na base dos ele­mentos de­co­ra­tivos de origem. Com a pas­sagem a Centro de Tra­balho Vi­tória o edi­fício não só ga­nhou uma nova e in­tensa vida, como re­cu­perou toda a dig­ni­dade de um dos mais sin­gu­lares edi­fí­cios da ci­dade de Lisboa.

É com­pre­en­sível assim a grande afluência de pú­blico – cerca de mil vi­si­tantes – que se ve­ri­ficou nos dois dias desta ini­ci­a­tiva. Per­cor­ridos os es­paços que foram abertos (piso térreo, duas salas e va­randa do 1.º andar, ter­raço) os vi­si­tantes terão tido a ex­pe­ri­ência de uma ar­qui­tec­tura e de uma vista no­tá­veis. Mas al­guma coisa terão sen­tido também do que sig­ni­fica para este edi­fício ser hoje uma das sedes do PCP, desde a forma como foram re­ce­bidos até aos epi­só­dios da vida po­lí­tica e cul­tural e da luta de massas que o Vi­tória tem tes­te­mu­nhado ao longo destes 37 anos e que lhes foram lem­brados, e pas­sando pela ex­po­sição sobre os 75 Anos de Guer­nica, pa­tente no Salão.



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