De repente a Venezuela desapareceu da grelha mediática dominante. Outra seria a história se Capriles tivesse vencido o sufrágio de 7 de Outubro. Mas não. Chávez foi reeleito com mais de oito milhões de votos e 11 pontos de avanço numas eleições em que votaram oito em cada 10 venezuelanos recenseados. Nas hostes do candidato da direita ainda se enxugam as lágrimas. Se a vitória bolivariana se afigurava mais do que previsível para qualquer observador minimamente avisado, a verdade é que a campanha dirigida desde os centros da conspiração ultrapassou todas as marcas para fazer passar a ideia do «empate técnico». A falsa perspectiva ajudou ao auto-engano dentro e fora da Venezuela. Mas a limpidez do triunfo popular cortou as vazas aos planos que visavam deslegitimar os resultados e desestabilizar o país. A torrente de infâmia voltará por certo dentro de momentos.
Ao fim de 14 anos de intensa luta de classes, o processo venezuelano continua a dar lições de exemplar participação democrática e unidade popular que ninguém pode ignorar. Pacífica mas não desarmada, a revolução bolivariana prossegue o ritmo da marcha emancipadora sem se esgotar no quadro de «democracia representativa» que continua a observar, o que dói particularmente à burguesia e ao imperialismo.
A renovação do mandato constitucional do presidente Chávez até 2019 representa uma janela aberta para continuar a acumular forças no caminho transformador alicerçado na independência nacional e prosseguir o trabalho de consolidação da mudança reclamada pelas grandes massas. Uma vitória transcendental para o movimento libertador na América Latina, os povos do Sul e as forças revolucionárias e progressistas no mundo neste tempo conturbado, pleno de ameaças, de crise estrutural do capitalismo.
Ao mesmo tempo há consciência de que a revolução, com fragilidades e contradições próprias, está longe de ser um dado irreversível. Os 6,5 milhões de votos somados por Capriles, mesmo descontando o saldo demagógico de uma campanha em que se apresentou como campeão da «esquerda democrática», mostram que a direita conserva uma significativa base eleitoral de extracto popular. A profunda capacidade de análise autocrítica e de identificação e correcção de erros e falhas são elementos essenciais num processo revolucionário. Na certeza de que, como afirma o secretário-geral do PCV, Oscar Figuera, os avanços do processo venezuelano «são inquestionáveis e superam quaisquer desacertos» (Correo del Orinoco, 14.10.12).
No plano eleitoral a batalha prossegue para já com as eleições de Dezembro para governadores e conselhos regionais dos 23 estados venezuelanos. No plano estratégico, os olhos estão postos na aprovação, em Janeiro, do II plano de gestão socialista para 2013-19 que se assume como programa da transição socialista e aprofundamento da democracia participativa. No seu preâmbulo pode ler-se: «a formação sócio-económica que todavia prevalece na Venezuela é de carácter capitalista e rentista. Certamente o socialismo apenas começou a implantar o seu próprio dinamismo interno (…) Este é um programa para precisamente assegurá-lo e aprofundá-lo, direccionado para uma radical supressão da lógica do capital que deve ir sendo cumprida passo a passo, mas sem diminuir o ritmo do avanço para o socialismo».
São enormes os desafios teóricos e práticos colocados à revolução venezuelana. A progressão da consciência popular é factor alentador neste processo de dimensão histórica. O PCV insiste na necessidade básica de construção dos instrumentos de unidade e fortalecimento dos espaços de direcção colectiva para a salvaguarda da revolução. A ameaça imperialista não pode ser subestimada no preciso momento em que a directora do FMI afirma em Tóquio que o patamar médio da dívida pública das economias [capitalistas] mais desenvolvidas de 110% do PIB está próximo dos níveis de tempos de guerra…
A solidariedade com a Venezuela bolivariana é um imperativo mais actual do que nunca.