Há mais caminho para além da esquina

Aponta-se nas Teses as «condições determinantes e dialecticamente interdependentes» para que a alternativa patriótica e de esquerda seja concretizável: reforço do PCP, desenvolvimento da luta de massas, alteração da correlação de forças favorável à ruptura e à mudança. Não é, portanto, para amanhã…

Nós não temos data. Afirmamos obviamente que se trata de um processo de grande complexidade, eventualmente demorado, e que sem esses elementos e condições, que são interdependentes entre si, naturalmente que essa alternativa fica mais distante. Mas a questão de fundo é saber se a nossa proposta assenta em razões válidas ou não, e nós consideramos que esta proposta serve os trabalhadores, o povo e o País.

 

Mas ainda não estão reunidas as tais condições.

As coisas evoluem. Já referimos o desenvolvimento, num ano, da luta de massas, que é uma questão estratégica, bem como da própria convergência, ainda que de forma insuficiente.

O reforço do nosso Partido é uma questão fundamental. As pessoas dão-nos razão, apelam à nossa luta e à nossa intervenção, mas muitas ainda não deram o passo de dar mais força ao PCP para que a correlação de forças se altere, para o PCP ter mais força para intervir e transformar. Mas há uma evolução positiva.

 

Ou seja, se não podemos dizer que vai ser num determinado dia, também não podemos dizer que não vai ser…

Essa é uma imagem correcta. Pensamos que não está ali ao virar da esquina, mas a seguir à esquina há mais caminho.

 

E esse caminho passa ou não por uma revolução?

Não gosto de responder a uma pergunta com outra pergunta, mas em primeiro lugar interessa saber o que se entende por Revolução. O Partido, ao mesmo tempo que reconhece as leis gerais do processo revolucionário, nomeadamente as que se referem ao papel da classe operária, da intervenção das massas, do Partido, do poder, da propriedade, há muito que formulou a tese de que não há nem pode haver modelo de revolução e de socialismo.

Olhemos para a originalidade da revolução de Abril. Marx e Lénine não a teorizaram, ela resultou da realidade concreta do nosso País, da luta e das análises deste partido comunista e, nesse sentido, tendo nós presente na nossa acção e na nossa luta a revolução e a transformação, pensamos que as questões concretas da edificação da nova sociedade e da conquista do poder não se exportam e não se copiam, antes serão construídas de acordo com as situações concretas de cada país.

E em relação à revolução, poderia utilizar a imagem que usámos há pouco: não está ao virar da esquina mas há mais caminho para além da esquina. O que é, na concepção leninista, uma revolução senão um impetuoso movimento das massas?

Estamos hoje numa situação muito difícil e quem não estiver preocupado anda distraído. Somos a única força que afirma o princípio de que a par de grandes perigos convivem grandes potencialidades. É uma tese central que colocamos, seja no plano internacional seja no plano nacional, e que devemos valorizar muito.

 

É isso que significa a expressão que, nas alterações ao Programa, destaca a importância decisiva da luta de massas «com todos os desenvolvimentos e expressões que venha a assumir»?

Claro. A revolução de Abril, que poderia ter sido apenas um levantamento militar, transformou-se numa revolução com ampla participação das massas. Com base na nossa teoria, rejeitamos o esquematismo e o dogmatismo, fazemos uma leitura criativa da teoria que nos guia, e também, como dizia o camarada Álvaro, somos um partido «com experiência própria»...

 

Que no entanto não deixa de analisar as experiências dos outros. Que análise se faz das experiências que neste momento ocorrem em certos países, nomeadamente na América Latina, e que não passaram pelos processos revolucionários «clássicos»?

Ninguém tem dúvidas de que hoje o capitalismo e o imperialismo desencadeiam uma ofensiva tremenda procurando impor à humanidade retrocessos brutais tanto no plano dos direitos como no plano da soberania dos povos. E tem um grande significado que, particularmente na América Latina, se desenvolvam processos progressistas, e até revolucionários, onde a questão da defesa da soberania é um elemento importantíssimo, que têm levado a recuos significativos por parte do imperialismo.

Já não estamos a falar só de Cuba ou da Venezuela. Há outros processos em grandes países da América Latina, que hoje já não são o quintal dos Estados Unidos nem o servente da sua política externa.

Para os comunistas, a reflexão sobre a evolução dessa realidade em movimento é fundamental. Nós, em relação ao socialismo, não temos um modelo. Reflectimos com base na nossa própria experiência, e acompanhamos outras experiências aprendendo com elas…



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