Mais sinais

Anabela Fino

A con­fi­ança que João Pro­ença de­po­sita no Go­verno e, em par­ti­cular, no pri­meiro-mi­nistro chega a ser co­mo­vente. É certo que por vezes va­cila, ou pa­rece va­cilar no cré­dito dado a Passos Co­elho, che­gando mesmo, como su­cedeu ainda há poucos dias, a ame­açar romper os es­treitos laços que os unem, que é como quem diz rasgar o acordo que as­si­naram com os pa­trões na con­cer­tação so­cial e ao abrigo do qual os tra­ba­lha­dores têm vindo a ser des­po­jados de di­reitos du­ra­mente con­quis­tados ao longo de ge­ra­ções. Mas isso são ar­rufos, amuos, que, como a ex­pe­ri­ência tem de­mons­trado, mesmo quando pa­recem dar forte passam de­pressa, sem ou­tras con­sequên­cias para além de uma ou outra frase mais agres­siva ou – para sermos mais exactos – menos di­a­lo­gante. No fundo, qual­quer coisa do tipo «agarrem-me se não eu mato-o» que tão bem ca­rac­te­riza certos per­so­na­gens. Adi­ante.

Temos então que esta se­mana – de­pois de um certo agitar de águas – Pro­ença e Co­elho ti­veram um tête-à-tête do qual o pri­meiro saiu «po­si­ti­va­mente» im­pres­si­o­nado com o se­gundo e con­ven­cido de que o Go­verno está «em­pe­nhado» em re­solver com a troika o im­bró­glio criado com o envio para o Par­la­mento, no final do ano, de uma pro­posta de lei que reduz para 12 dias as in­dem­ni­za­ções por des­pe­di­mento. De con­creto o di­ri­gente da UGT não re­cebeu nada, de tal modo que afirma não saber se o pri­meiro-mi­nistro «vai re­solver ou não o pro­blema», mas pelos vistos de­tectou «si­nais» que terão bas­tado para acalmar os ânimos. Pro­ença ga­rante ainda que ob­teve a «ga­rantia de que a al­te­ração das com­pen­sa­ções ocor­rerá em si­mul­tâneo com a en­trada em vigor do fundo» de com­pen­sação dos des­pe­di­mentos, jus­ta­mente uma ma­téria que está blo­queada pelos pa­trões na con­cer­tação so­cial.

Pode pa­recer es­tranho a al­guns que Pro­ença se apa­zigue com tão pouco, pode mesmo dizer-se com uma mão cheia de nada, mas isso é andar muito, muito dis­traído. Na ver­dade a UGT – par­ceiro in­dis­pen­sável de Go­verno e pa­trões para que se possa dizer, lá fora e cá dentro, que existe um «acordo so­cial» – já aceitou subs­crever mais uma re­dução nas in­dem­ni­za­ções por des­pe­di­mento de tra­ba­lha­dores com con­tratos ce­le­brados após No­vembro de 2011, ou seja uma re­dução dos 20 dias ac­tu­al­mente em vigor. O que diz não aceitar, ja­mais!, é que tal re­dução seja para 12 dias. Ou seja, o cerne da questão não está na re­dução, está na fatia a cortar. Se for para 13 dias, 14 ou mesmo 15 – é um exemplo – volta-se à paz so­cial e amigos como dantes. É assim uma es­pécie de opo­sição vi­o­lenta como a que o PS pra­tica na As­sem­bleia da Re­pú­blica ao abster-se.

Quanto ao outro ca­valo de ba­talha de Pro­ença – o fundo de com­pen­sação – ocorre per­guntar se vale tanto como as ga­ran­tias le­gais que até à data dei­xaram mais de 43 mil tra­ba­lha­dores «a arder» com mais de 316 mi­lhões de euros a que ti­nham di­reito por perda do posto de tra­balho, isto para já não falar dos 28 mil tra­ba­lha­dores que em Ou­tubro úl­timo, se­gundo dados ofi­ciais do Fundo de Ga­rantia Sa­la­rial, ti­nham pro­cessos pen­dentes ul­tra­pas­sando os 423 mi­lhões.

Mesmo para quem gosta de «si­nais», como Pro­ença, há que convir que o que anda no ar é muito sinal de fumo.



Mais artigos de: Opinião

O País aguenta uma banca privada?

Num momento em que se discute, ou melhor, se afirma de forma massacrante que o País não comporta o Estado social, que para não aumentar mais os impostos é urgente cortar na despesa; que há escolas, creches, hospitais, juntas de freguesia, estradas, tribunais, teatros e museus a mais;...

Gestão de excelência

Dizem os jornais que, por efeito do recente temporal, milhares de famílias ficaram sem electricidade durante três dias. À primeira leitura, a notícia parece normal: sabemos a força e a intensidade do temporal que flagelou o País de Norte a Sul, os prejuízos que causou, os...

E não querem mais nada?

Os senhores do FMI estão preocupados com a situação de Portugal e fizeram questão de dar a conhecer essa preocupação que os atormenta, coitados, no relatório da sexta avaliação do chamado memorando de entendimento. Esperam, por ventura, comover o «bom...

A ocultação do PCP e da luta consequente – algumas notas

A ocul­tação no Pú­blico e a me­no­ri­zação nou­tros media do­mi­nantes da aber­tura das co­me­mo­ra­ções do Cen­te­nário de Álvaro Cu­nhal mostra como os grandes in­te­resses vão tentar es­conder e mis­ti­ficar este acon­te­ci­mento ex­tra­or­di­nário, que per­cor­rerá todo o País e en­vol­verá muitos mi­lhares de tra­ba­lha­dores e largos sec­tores e ca­madas do povo por­tu­guês.

Mais uma guerra imperialista

O Mali está a ser alvo de uma intervenção militar estrangeira imperialista. A França, a sua aviação e legião estrangeira são a face mais visível de uma intervenção que envolve várias outras potências da NATO – como a Alemanha...