NOS 82 ANOS DO AVANTE!

«Nesse mesmo ano de 1931, aderia ao Par­tido um jovem cha­mado Álvaro Cu­nhal»

Há 82 anos – em 15 de Fe­ve­reiro de 1931 – era pu­bli­cado o pri­meiro nú­mero do Avante!

A de­cisão de criar o órgão cen­tral do Par­tido fora to­mada dois anos antes, na Con­fe­rência de Abril, a partir da qual, com a in­ter­venção de­ci­siva de Bento Gon­çalves, foram dados os pri­meiros passos na cons­trução do PCP como par­tido le­ni­nista. Por essa al­tura, o di­tador Sa­lazar le­vava por di­ante o seu pro­cesso de fas­ci­zação do Es­tado, acom­pa­nhado por uma feroz vaga re­pres­siva que in­cidia es­sen­ci­al­mente sobre os co­mu­nistas e cau­sava graves di­fi­cul­dades à fra­gi­lís­sima or­ga­ni­zação par­ti­dária.

De tudo isso se res­sentiu o Avante! o qual, nos seus pri­meiros dez anos de vida, viu a sua pu­bli­cação in­ter­rom­pida por vá­rias vezes – ja­mais de­sis­tindo, no en­tanto, de tudo fazer para cum­prir o seu papel de porta-voz da re­sis­tência e da luta dos tra­ba­lha­dores e do povo; de as­sumir a sua ma­triz le­ni­nista de in­for­mador, or­ga­ni­zador e pro­pa­gan­dista co­lec­tivo; de cum­prir o seu papel como órgão cen­tral do Par­tido da classe ope­rária e de todos os tra­ba­lha­dores.

E no início da dé­cada se­guinte, na sequência desse mo­mento maior e de­ci­sivo da his­tória do PCP que foi a Re­or­ga­ni­zação de 1940/​41 e os III e IV con­gressos, em 1943 e 1946, o Avante! ini­ciou uma ca­mi­nhada im­pa­rável, tra­du­zida na sua pu­bli­cação inin­ter­rupta até ao 25 de Abril de 1974.

Temos dito – e nunca é de­mais re­petir – que não é pos­sível fazer a his­tória do fas­cismo sem con­sultar este jornal que foi du­rante de­zenas de anos, num país sub­me­tido a uma férrea cen­sura, um exemplo sin­gular de afir­mação do exer­cício do di­reito à li­ber­dade de in­for­mação. Di­reito con­quis­tado pela pos­tura he­róica de um con­junto de ho­mens e mu­lheres – Maria Ma­chado, Jo­a­quim Ra­fael, José Dias Co­elho, José Mo­reira, entre muitos ou­tros – que, en­fren­tando as per­se­gui­ções, as pri­sões, as tor­turas, a morte, con­fir­maram a in­ven­ci­bi­li­dade do ideal co­mu­nista.

E tal como não é pos­sível fazer a his­tória do fas­cismo por­tu­guês sem con­sultar o Avante! clan­des­tino, também a lei­tura e o es­tudo do órgão cen­tral do PCP é in­dis­pen­sável para quem queira co­nhecer os quase qua­renta anos de­cor­ridos desde o 25 de Abril de 1974.

Lá estão, nar­rados se­mana a se­mana por quem os viu e viveu, todos os mo­mentos mar­cantes desse tempo novo de Abril: a con­quista das li­ber­dades e di­reitos so­ciais através do seu exer­cício pelas massas po­pu­lares; os avanços da Re­vo­lução com as suas his­tó­ricas con­quistas po­lí­ticas, so­ciais, eco­nó­micas, cul­tu­rais; a cons­trução da de­mo­cracia de Abril – a mais avan­çada e pro­gres­sista de­mo­cracia al­guma vez exis­tente no nosso País – con­sa­grada nessa outra con­quista da Re­vo­lução que é a Cons­ti­tuição da Re­pú­blica Por­tu­guesa; enfim, todo esse tempo que foi o mais lu­mi­noso da nossa his­tória co­lec­tiva e cujos va­lores per­ma­necem como re­fe­rência es­sen­cial na nossa luta do pre­sente e do fu­turo.

Lá estão, nar­rados se­mana a se­mana por quem os viu e viveu, todos os mo­mentos mar­cantes deste tempo outra vez som­brio e com cheiro a pas­sado que tem sido – que é – a contra-re­vo­lução que há quase trinta e sete anos vem de­vas­tando a de­mo­cracia de Abril: o roubo de di­reitos fun­da­men­tais aos tra­ba­lha­dores; o as­salto às li­ber­dades po­lí­ticas; a li­qui­dação das mais sig­ni­fi­ca­tivas con­quistas e a en­trega do poder e da in­de­pen­dência do País ao grande ca­pital na­ci­onal e trans­na­ci­onal; a se­men­teira negra do de­sem­prego, das in­jus­tiças so­ciais, da po­breza, da mi­séria, da fome – e lá está a luta in­can­sável dos tra­ba­lha­dores e do povo, luta que nos dias ac­tuais se in­ten­si­fica e alarga contra a po­lí­tica an­ti­pa­trió­tica e de di­reita das troikas e por uma po­lí­tica pa­trió­tica e de es­querda ins­pi­rada nos va­lores de Abril.

É o Avante! de hoje dando con­ti­nui­dade plena à gesta he­róica ini­ciada no lon­gínquo ano de 1931.

Nesse mesmo ano de 1931, aderia ao Par­tido um jovem cha­mado Álvaro Cu­nhal. Um jovem cujo cen­te­nário do nas­ci­mento co­me­mo­ramos este ano, por todo o País e em todo o Par­tido, através de um vasto con­junto de ini­ci­a­tivas que, porque in­te­gradas na ac­ti­vi­dade diária do Par­tido, cons­ti­tuem um factor de re­forço da or­ga­ni­zação par­ti­dária e um es­tí­mulo à in­ten­si­fi­cação da luta das massas tra­ba­lha­doras e po­pu­lares. Um jovem que, com a sua adesão ao Par­tido, dava início a uma ca­mi­nhada de 75 anos de exem­plar mi­li­tância re­vo­lu­ci­o­nária, que, pelas suas ca­rac­te­rís­ticas sin­gu­lares, viria a in­flu­en­ciar de forma de­ci­siva o PCP: na dé­cada de 40, no pro­cesso de cons­trução do «par­tido le­ni­nista de­fi­nido com a ex­pe­ri­ência pró­pria», van­guarda de facto da classe ope­rária, o grande par­tido da re­sis­tência e da uni­dade an­ti­fas­cistas; nas pri­sões fas­cistas, com a re­sis­tência vi­to­riosa aos in­ter­ro­ga­tó­rios pi­descos, aos juízes sa­la­za­ristas e ao iso­la­mento cer­rado; nos anos 60, com a ca­rac­te­ri­zação ri­go­rosa e ci­rúr­gica do fas­cismo, a de­fi­nição dos ca­mi­nhos para o seu der­ru­ba­mento e o papel a de­sem­pe­nhar pelo Par­tido da classe ope­rária; na dé­cada se­guinte, com a aná­lise ao ca­rácter e aos ca­mi­nhos da re­vo­lução de Abril e à in­ter­venção de­ci­siva do co­lec­tivo par­ti­dário co­mu­nista e do mo­vi­mento ope­rário e po­pular; de­pois, com o des­mas­ca­ra­mento, de­núncia e com­bate à ofen­siva contra-re­vo­lu­ci­o­nária, aos seus ob­jec­tivos, aos seus man­dantes e exe­cu­tantes.

E sempre, sempre su­bli­nhando a im­por­tância cru­cial da luta or­ga­ni­zada e con­fi­ante das massas tra­ba­lha­doras e po­pu­lares. E sempre, sempre, até ao seu úl­timo dia de vida, numa en­trega total, em todos os mo­mentos e cir­cuns­tân­cias, à de­fesa do Par­tido e da sua iden­ti­dade, à afir­mação do ideal co­mu­nista, à luta pela cons­trução do so­ci­a­lismo e do co­mu­nismo.