O fascismo no banco dos réus

 

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O Avante! deu grande atenção à de­fesa de Álvaro Cu­nhal pe­rante o tri­bunal ple­nário, que se trans­formou numa co­ra­josa e frontal acu­sação do fas­cismo e da sua po­lí­tica de ab­di­cação na­ci­onal e numa firme ex­po­sição da linha po­lí­tica do Par­tido e dos seus ob­jec­tivos. Na edição de Junho de 1950, na pri­meira pá­gina, surge uma pri­meira re­fe­rência a esta in­ter­venção, va­lo­ri­zando-se a «cla­reza, vigor e fir­meza re­vo­lu­ci­o­nária» de­mons­tradas pelo di­ri­gente co­mu­nista.

Na edição se­guinte, o tema volta a ser tra­tado, e com grande des­taque: man­chete – «A de­fesa de Álvaro Cu­nhal foi uma acu­sação im­pla­cável contra a po­lí­tica an­ti­na­ci­onal da ca­ma­rilha sa­la­za­rista» – e mais duas pá­ginas in­te­ri­ores, onde se re­sume os pontos es­sen­ciais da de­fesa de Álvaro Cu­nhal. Nessa no­tícia, afirma-se que «o acu­sado passou a acu­sador», tal foi a de­núncia dos «crimes he­di­ondos da ca­ma­rilha sa­la­za­rista contra os mais ab­ne­gados pa­tri­otas» e da «po­lí­tica an­ti­na­ci­onal» por ela le­vada a cabo.

O ri­go­roso re­gime de iso­la­mento e as tor­turas a que foi su­jeito foram também re­ve­lados. Aí sa­li­enta-se também o inequí­voco des­men­tido feito por Álvaro Cu­nhal das «ca­lú­nias e men­tiras in­sis­ten­te­mente di­vul­gadas pela im­prensa e rádio fas­cistas contra os co­mu­nistas».

A de­fesa de Álvaro Cu­nhal cons­ti­tuiu, na prá­tica, um texto pro­gra­má­tico do PCP, es­cla­re­cendo-se o po­si­ci­o­na­mento dos co­mu­nistas por­tu­gueses face ao mo­vi­mento ope­rário in­ter­na­ci­onal, ao pe­rigo de guerra, à si­tu­ação eco­nó­mica, so­cial e cul­tural do povo e ao re­gime, bem como os seus ob­jec­tivos e meios de ac­tu­ação. Pelo seu al­cance po­lí­tico e ide­o­ló­gico e pela cla­reza com que de­nuncia o fas­cismo e expõe a po­lí­tica do Par­tido, a de­fesa de Álvaro Cu­nhal foi pu­bli­cada em vá­rios países: em Fe­ve­reiro de 1951, o Avante! dá conta da sua pu­bli­cação pela re­vista teó­rica do PCUS, «Bol­che­vique». 



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