Lançados e «em unidade»!

Ângelo Alves

O PS está unido! An­tónio Costa afirma que para já não pensa em ser se­cre­tário-geral. Alegre e So­ares fazem as pazes. A di­recção aprova um do­cu­mento ne­go­ciado entre Costa e Se­guro. De­fine-se as datas do Con­gresso. Tudo pa­rece estar bem na grande e di­versa fa­mília so­ci­a­lista.

Tão bem, que no dia an­te­rior à reu­nião em Coimbra ainda houve tempo para Se­guro, Sam­paio, Pina Moura (sim, o da Iber­drola), Mário Lino, João Pro­ença e vá­rios ou­tros di­ri­gentes e fi­guras do PS par­ti­ci­parem – de braço dado com pro­e­mi­nentes «per­so­na­li­dades» do BE – num jantar a pre­texto do ani­ver­sário de Carlos Brito. Um re­pasto que ficou mar­cado, como era pre­vi­sível, por co­to­ve­ladas ao PCP, des­fe­ridas por um elu­ci­da­tivo grupo de co­men­sais cujo factor de uni­dade era, afinal, res­pon­sa­bi­lizar o PCP pela falta de uni­dade da cha­mada «es­querda». Dos dis­cursos nem sombra de rup­tura com a po­lí­tica de di­reita, de po­lí­tica al­ter­na­tiva. Com­pre­ende-se que assim seja. O que ver­da­dei­ra­mente dis­seram, quando fa­laram de «uni­dade», foi en­volver todos na mesma po­lí­tica de di­reita e no de­sastre na­ci­onal que ela com­porta. E quanto a isso o PCP tem uma po­sição clara: a uni­dade que os tra­ba­lha­dores, o povo e o País pre­cisam não é uma uni­dade de es­tan­darte, é a uni­dade para a rup­tura com a po­lí­tica de di­reita, para uma po­lí­tica e um go­verno pa­trió­ticos e de es­querda, vin­cu­lados aos va­lores de Abril.

Mas vol­tando ao PS. Está unido e lan­çado! Não fosse o «con­tra­tempo» de ter apro­vado um do­cu­mento cujo tí­tulo «Por­tugal pri­meiro» era o mesmo que a Moção de Passos Co­elho no Con­gresso do PSD e tudo teria saído per­feito! Mas a con­fusão de tí­tulos re­mete-nos para o que in­te­ressa. É que o PS saído de Coimbra, o PS das co­to­ve­ladas ao PCP na Casa do Alen­tejo não mudou! É o mesmo que re­jeitou o au­mento do sa­lário mí­nimo e das pen­sões pro­posto pelo PCP, é o mesmo dos PEC, do pacto de agressão, do Tra­tado Or­ça­mental e da pri­va­ti­zação da água! É o mesmo PS que reúne às es­con­didas com o Go­verno e que afinal também quer cortar quatro mil mi­lhões, só que mais de­va­ga­rinho! É o mesmo PS de João Pro­ença e da UGT, aquele que, num es­pí­rito de «pro­funda uni­dade», se di­verte a vei­cular a di­visão, a tor­pe­dear as greves ge­rais e ou­tras lutas, e a vender os di­reitos dos tra­ba­lha­dores! E nisso estão de facto lan­çados e em «uni­dade»…



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