Fernanda Lapa, membro da Comissão Promotora

Uma obra que é património do povo

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Boa tarde a todos e o nosso agradecimento pela vossa participação nesta sessão cultural evocativa – a dimensão intelectual, artística, humana e militante de Álvaro Cunhal. Uma homenagem a que se associou um conjunto de personalidades – homens, mulheres, jovens – oriundos das mais diversas expressões artísticas, da cultura, da ciência e do ensino, do desporto e do trabalho.

Sessão que, ao longo de cerca de três horas vai percorrer os aspectos mais marcantes da grande e variada intervenção artística de Álvaro Cunhal, num espectáculo em que vai participar cerca de uma centena de artistas, das mais variadas expressões que desta forma quiseram associar-se a esta evocação. Dança, música popular e de intervenção, canto lírico, jazz, fado e poesia, vão passar por este palco com a presença de alguns dos melhores intérpretes nas respectivas áreas em Portugal.

Álvaro Cunhal, homem de fortes convicções, possuidor de uma densa cultura e dimensão humanista, é uma das figuras mais marcantes da sociedade portuguesa no século XX e na passagem para o século XXI. São muitos os testemunhos de reconhecimento e admiração, não apenas dos que com ele privavam e ou partilhavam as mesmas ideias políticas. O legado de Álvaro Cunhal não é apenas património do seu Partido de sempre, o PCP, mas dos trabalhadores, dos intelectuais, do nosso povo, de todos os que aspiram à concretização de um mundo melhor.

Nesta sessão evocativa vamos sobretudo destacar o homem, o intelectual e o artista com um apaixonado interesse por todas as esferas da vida, nomeadamente pela actividade de criação artística que se expressa nas suas obras, quer no plano da literatura, com o romance e o conto, quer no plano das artes plásticas com o desenho e a pintura, quer ainda na reflexão teórica sobre a estética e a criação cultural, numa afirmação da arte como expressão de liberdade.

Defender a cultura

Num País em que as políticas de agressão à cultura seguidas pelos últimos governos criaram uma situação insustentável, com a ameaça de catástrofe num sector já em profunda crise, com centenas de criadores e outros trabalhadores da cultura a verem a sua actividade cerceada e frustrada, a reflexão de Álvaro Cunhal inserida na sua obra «A Arte, o Artista e a Sociedade» assume particular relevância no debate que se trava na sociedade portuguesa.

Na sua obra literária, embora em graus diferentes, estão presentes a defesa e o desejo de uma arte socialmente comprometida, uma arte como valor humano que se transforma num valor social quando passa para sociedade, a par de uma total compreensão sobre a autonomia própria de fenómenos de criação artística, dentro da ideia de que é de desejar e defender que o artista se bata politicamente com a sua arte ao lado dos trabalhadores e do povo. Tal como o fascismo não conseguiu apagar a sede de saber e beleza e o talento criador do nosso povo, nem amordaçar a voz livre e independente dos escritores e dos artistas, também hoje os escritores e os artistas não perderão o gosto de escrever, de pintar, de tocar um instrumento e fazer da sua obra um apelo à liberdade, à imaginação, à fantasia, à descoberta e ao sonho.

Como está escrito no manifesto em Defesa da Cultura, «defender a cultura é uma das mais inadiáveis formas de fazer ouvir todas as vozes acima do medíocre ruído dos “mercados”.» Esta sessão e a participação de todos nós é também para que a nossa voz seja ouvida em defesa da cultura, dos criadores e de todos os trabalhadores das artes e do espectáculo.

Esta é a melhor homenagem que podemos prestar a Álvaro Cunhal.



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