LUTAR É O CAMINHO

«É tempo de con­cre­tizar a ne­ces­sária al­ter­na­tiva pa­trió­tica e de es­querda»

A eleição de Ni­colás Ma­duro para pre­si­dente da Re­pú­blica Bo­li­va­riana da Ve­ne­zuela cons­ti­tuiu, à es­cala in­ter­na­ci­onal, o acon­te­ci­mento de maior re­le­vância dos úl­timos dias – e foi, sem dú­vida, uma muito boa no­tícia para todos os que, em todo o mundo, lutam pelo pro­gresso, pela jus­tiça so­cial, pela paz, por um mundo me­lhor.

Tratou-se, como pode ler-se na men­sagem de fe­li­ci­ta­ções en­viada pelo se­cre­tário-geral do PCP, de «uma im­por­tante vi­tória que con­si­de­ramos in­dis­so­ciável dos avanços de­mo­crá­ticos, no plano eco­nó­mico, so­cial, po­lí­tico e cul­tural e de afir­mação da so­be­rania do povo ve­ne­zu­e­lano, que con­firma a ex­pressa von­tade do povo ve­ne­zu­e­lano em pros­se­guir o pro­cesso de trans­for­mação so­cial ini­ciado pelo Co­man­dante Hugo Chávez».

A vi­tória de Ni­colás Ma­duro é tanto mais sig­ni­fi­ca­tiva quanto ela foi al­can­çada no quadro de for­tís­sima pressão in­ter­na­ci­onal co­man­dada pelo im­pe­ri­a­lismo norte-ame­ri­cano e de uma in­tensa ope­ração in­terna re­cheada das mais ab­jectas ma­ni­pu­la­ções me­diá­ticas, em que o vale-tudo foi rei.

Pressão e ope­ração a que o povo ve­ne­zu­e­lano soube res­ponder de­fen­dendo, através do voto, as suas con­quistas, a sua so­be­rania e in­de­pen­dência, o seu di­reito ina­li­e­nável a de­cidir o pró­prio des­tino.

Pressão e ope­ração que, como era ex­pec­tável, se man­teve e acen­tuou logo que foram co­nhe­cidos os re­sul­tados elei­to­rais e que tem vindo a as­sumir cres­cente e pe­ri­goso ca­rácter pro­vo­ca­tório.

Tudo con­fi­gu­rando uma si­tu­ação que co­loca aos ho­mens, mu­lheres e jo­vens co­mu­nistas, de­mo­cratas, pa­tri­otas, de es­querda; aos tra­ba­lha­dores e aos povos do mundo, a exi­gência de ex­pres­sarem a sua firme so­li­da­ri­e­dade com a re­vo­lução bo­li­va­riana e com a luta dos tra­ba­lha­dores e do povo da Ve­ne­zuela.

A Marcha contra o Em­po­bre­ci­mento, pro­mo­vida pela CGTP-IN, foi no plano in­terno o acon­te­ci­mento de maior im­por­tância e sig­ni­fi­cado. Cons­ti­tuindo uma forte res­posta dos tra­ba­lha­dores e das po­pu­la­ções à po­lí­tica de de­sastre na­ci­onal do go­verno PSD/​CDS, a Marcha trouxe para as ruas mi­lhares de ho­mens, mu­lheres e jo­vens de­ter­mi­nados a lutar pela de­fesa dos seus di­reitos e in­te­resses, numa inequí­voca afir­mação do papel de­ci­sivo da luta or­ga­ni­zada das massas na res­posta à si­tu­ação dra­má­tica em que a po­lí­tica de di­reita mer­gu­lhou Por­tugal – e foi, so­bre­tudo, a afir­mação e a ga­rantia de que a luta vai con­ti­nuar. Du­rante uma se­mana, mi­lhares de pes­soas per­cor­reram o País exi­gindo a re­jeição do pacto das troikas, a de­missão do Go­verno, a re­a­li­zação de elei­ções e uma mu­dança de rumo para Por­tugal – e foram essas mesmas exi­gên­cias que eco­aram, no sá­bado, em Lisboa, na grande ma­ni­fes­tação de en­cer­ra­mento da Marcha.

A Marcha foi si­len­ciada ou de­pre­ciada pela ge­ne­ra­li­dade dos media do­mi­nantes, o que não cons­titui sur­presa sa­bendo-se que os ditos media são pro­pri­e­dade dos grandes grupos eco­nó­micos e fi­nan­ceiros e estes são, afinal, os grandes res­pon­sá­veis e os grandes be­ne­fi­ciá­rios da po­lí­tica que em­purra para o em­po­bre­ci­mento a imensa mai­oria dos por­tu­gueses.

Agora, vêm aí as co­me­mo­ra­ções do 25 de Abril e, com elas, serão o Dia da Li­ber­dade e a Re­vo­lução que se lhe se­guiu – com as suas his­tó­ricas con­quistas po­lí­ticas, so­ciais, eco­nó­micas e cul­tu­rais – a pon­tuar as pa­la­vras de ordem e a de­ter­mi­nação dos muitos e muitos mi­lhares de por­tu­gueses que, em todo o País, irão viver Abril, ins­pi­rados nos seus va­lores car­re­gados de fu­turo e, por isso, tão avil­tados pela po­lí­tica de di­reita; em­pu­nhando como im­por­tante arma de luta a Cons­ti­tuição da Re­pú­blica Por­tu­guesa, que su­ces­sivos go­vernos pra­ti­cantes dessa po­lí­tica têm vindo a des­prezar e es­pe­zi­nhar; gri­tando que Abril está vivo na me­mória e no co­ração dos tra­ba­lha­dores e do povo.

E de­pois virá Maio, com o seu pri­meiro dia feito grande, grande jor­nada de luta e, ao mesmo tempo, im­pulso e es­tí­mulo po­de­rosos ao pros­se­gui­mento, in­ten­si­fi­cação e alar­ga­mento da luta das massas tra­ba­lha­doras e po­pu­lares.

Nunca é de­mais re­petir que, como afirmou o ca­ma­rada Je­ró­nimo de Sousa, «é na luta que está a res­posta para der­rotar esta po­lí­tica e este Go­verno». E a afir­mação é tanto mais per­ti­nente quanto, como é sa­bido, no mo­mento ac­tual e em jeito de pres­tação de vas­sa­lagem à troika ocu­pante, o Go­verno de Passos Co­elho e Paulo Portas pre­para-se para per­pe­trar mais um as­salto aos sa­lá­rios, às pen­sões e às re­formas; para lançar para o de­sem­prego mais e mais tra­ba­lha­dores; para lançar mais uma in­ves­tida contra os ser­viços pú­blicos; para dar mais um passo no afun­da­mento de Por­tugal – ou seja: pre­para-se para, sempre vi­o­lando a Lei Fun­da­mental do País, des­truir o mais que puder antes de se de­mitir ou de ser de­mi­tido. Para o que conta com o Pre­si­dente da Re­pú­blica, como este con­firmou, em de­cla­ra­ções pro­du­zidas na Colômbia, onde se en­contra em vi­agem de ne­gó­cios. E há que re­co­nhecer ainda que, para levar essa obra de des­truição até aos li­mites má­ximos, o Go­verno tem na «opo­sição vi­o­lenta» do PS um pre­cioso trunfo, já que o par­tido de Se­guro não sonha noutra coisa que não seja o re­cor­rente de­sejo de cum­prir o seu turno de al­ter­nância na exe­cução da velha po­lí­tica de di­reita comum aos par­tidos da troika na­ci­onal.

É, então, na luta or­ga­ni­zada das massas que se en­contra o ca­minho para der­rotar este Go­verno e esta po­lí­tica, seja ela pra­ti­cada por este ou por outro go­verno.

Na ver­dade, das forças po­lí­ticas que, de há trinta e sete anos a esta parte, vêm de­vas­tando o País e rou­bando di­reitos hu­manos fun­da­men­tais aos tra­ba­lha­dores e ao povo, só pode-se es­perar a con­ti­nu­ação dessa de­vas­tação e o pros­se­gui­mento desse roubo.

É tempo, por isso, de lutar. E de con­cre­tizar a ne­ces­sária al­ter­na­tiva pa­trió­tica e de es­querda.