Golpe fracassou

Albano Nunes

A solidariedade com o processo revolucionário bolivariano tem de continuar.

Seguindo guião previamente traçado, a oposição reaccionária e o imperialismo recusaram reconhecer a sua derrota nas eleições presidenciais na Venezuela e lançaram-se numa vasta operação de desestabilização. Bandos fascistas provocaram vítimas mortais. Chegou a temer-se o pior. Mas os golpistas mediram mal a real correlação de forças, seguramente ainda mais favorável ao processo bolivariano que a expressa nas urnas. Perante a condenação popular, a firmeza do poder democrático e o isolamento internacional, tiveram de encolher as garras. Não desistiram porém dos seus propósitos contra-revolucionários.

Uma revolução não é um acto, é um processo, e o que está em discussão na aguda luta de classes que percorre o processo revolucionário venezuelano é o do seu próprio destino para além da morte de Hugo Chávez, e não só quanto à sua continuação mas também quanto ao seu aprofundamento. Trata-se de uma situação profundamente original em que, como não podia deixar de ser numa revolução genuína, o grande protagonista são as massas. Quem assistiu aos funerais de Hugo Chávez não pôde deixar de ver, a par do imenso prestígio de Hugo Chávez, a determinação popular em defender, prosseguir e aprofundar o processo bolivariano. Um processo que tem vindo a evoluir na sua própria concepção, seja quanto à sua dimensão anti-capitalista e à compreensão de que só no caminho do socialismo é possível realizar os seus ideais de soberania nacional e progresso social, seja quanto à necessidade de o dotar de uma força política de vanguarda, um colectivo revolucionário que articule todas as forças comprometidas com a revolução. Após o falecimento do seu líder incontestado esta tarefa decisiva de um ponto de vista marxista adquire ainda maior importância.

Não admira por isso que, apesar da transparência da nova vitória bolivariana em 14 de Abril (19 em 20 actos eleitorais) as forças reaccionárias e o imperialismo se tenham lançado numa ambiciosa operação visando criar dificuldades ao processo de transição e de consolidação da direcção bolivariana e provocar hesitações, clivagens, divisões na aliança cívico-militar que tem sido garante do processo revolucionário. A reacção teve de recuar mas não vai desistir. E se encontrar espaço, não hesitará se necessário em recorrer à intervenção externa e afogar a revolução num banho de sangue.

Porque o que está em jogo é muitíssimo. A começar pela força do exemplo. Ao incentivo de Cuba socialista junta-se o da Venezuela bolivariana que, com os regimes progressistas da Bolívia, Equador e Nicarágua se uniram na ALBA, valiosa aliança libertadora. Por todo o subcontinente, com a decisiva contribuição solidária da Venezuela, ergue-se um conjunto de instituições de cooperação e integração de carácter profundamente anti-imperialista. Enquanto noutros continentes avançam sinistros projectos de recolonização, no «pátio das traseiras» dos EUA os povos dão passos históricos no caminho da sua emancipação nacional e social.

Daí a acção subversiva do imperialismo norte-americano assim como da UE que, também ela, se atreveu a pôr em causa os resultados eleitorais. Daí golpes de Estado como nas Honduras e no Paraguai, a instalação das bases militares na Colômbia, o reforço da IV esquadra naval norte-americana e muitas outras medidas de subversão e agressão.

Por isso a solidariedade com o processo revolucionário bolivariano tem de continuar. A sua defesa e aprofundamento é do interesse, não apenas do povo venezuelano, mas dos povos da América Latina e de todo o mundo.



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