ABRIL É FUTURO

«Foi este Abril de festa e de luta que nos disse que Abril está vivo»

Abril veio para a rua, em massa, de Norte a Sul de Portugal, no Continente e nas Regiões Autónomas. Confirmando que está vivo na memória e no coração dos portugueses. Recordando o quase meio século de resistência heróica dos trabalhadores e do povo ao ignominioso regime fascista. Lembrando os valentes Capitães de Abril, o derrubamento do governo fascista de Marcelo Caetano e a imensa festa colectiva que inundou Portugal. Tendo na memória o primeiro 1.º de Maio, expressão da força determinante do poderoso movimento operário e popular e primeiro e decisivo passo do processo revolucionário. Evocando as históricas conquistas democráticas alcançadas na base da unidade Povo/MFA e consagradas na Constituição de Abril. Confirmando-se como componente indispensável e insubstituível na construção do nosso futuro colectivo. Afirmando a sua inequívoca rejeição à política de direita que, desde 1976, vem tentando liquidar Abril, as suas conquistas históricas, os seus valores. Exigindo com determinação o fim dessa política e do governo que no momento actual a executa às ordens da troika FMI/BCE/UE. Mostrando que há uma alternativa a essa política e a esse governo antipatrióticos e de direita: uma política e um governo patrióticos e de esquerda.

E lembrando sempre que, como escreveu Álvaro Cunhal, «o futuro de Portugal democrático só com os valores de Abril pode ser assegurado».

Do outro lado das comemorações, ou seja, no lado oposto a Abril, teve presença destacada o Presidente da República. Sem surpresa, aliás, já que, como desde há muito sabemos, Cavaco Silva não só não morre de amores pelo 25 de Abril como disfarça mal as suas preferências pelo 24…

O seu discurso na Assembleia da República «parecia um discurso de primeiro-ministro ou de um primeiro-ministro adjunto», como afirmou, certeiro, o Secretário-geral do PCP. Com efeito, o Presidente da República aproveitou a comemoração de Abril para enaltecer a política anti-Abril do Governo e defender a sua continuação – com mais austeridade, mais desemprego, mais roubos nos rendimentos e nos direitos da imensa maioria dos portugueses, mais destruição dos serviços públicos, mais afundamento de Portugal, mais submissão aos ditames da troika ocupante, mais ataques à independência e à soberania nacional, mais desprezo pela Constituição da República Portuguesa – a Lei Fundamental do País que ele, em acto de tomada de posse, jurou, pela sua honra, cumprir e fazer cumprir…

Tratou-se, enfim, de um discurso bem ao jeito de Cavaco Silva – e que, por isso mesmo, foi devidamente vaiado e assobiado pelos muitos milhares de portugueses que, em festa e em luta, comemoravam Abril com a consciência de que, como escreveu Álvaro Cunhal, «o regime democrático ao qual a contra-revolução conduziu Portugal não é um regime final e irreversível. Por duas razões principais: porque está minado de contradições insolúveis e porque a luta do povo português continua».

E é aí, na continuação da luta de massas, no seu alargamento e na sua intensificação, que se encontra o caminho que conduzirá à derrota desta política de desastre nacional e deste Governo cuja ambição maior é a de ser coveiro do País; que se encontra o caminho que conduzirá à construção da democracia avançada que Abril mostrou ser possível – sendo certo que as comemorações deste 39.º aniversário constituíram um poderoso estímulo à prossecução da luta por esse objectivo. Uma luta difícil, muito difícil, se tivermos em conta os muitos e fortes obstáculos que se colocam aos trabalhadores e ao povo: as chantagens, as ameaças, as represálias; o uso e abuso do poder para impor medidas antidemocráticas e antipopulares; a intensa ofensiva ideológica veiculada pelos media dominantes, espalhando o medo, a resignação, a passividade, o conformismo, apresentando como «inevitabilidades» a austeridade, os roubos nos salários e reformas, o desemprego, a exploração brutal, menorizando a importância da luta organizada das massas trabalhadoras e populares. Uma luta difícil, sem dúvida, mas, sem dúvida, para vencer.

E que no 1.º de Maio, Dia do Trabalhador, assumiu inevitavelmente significativa expressão de massas, trazendo às ruas de várias localidades o protesto e as exigências dos trabalhadores e do povo – que assim constroem a consciência de que, como escreveu Álvaro Cunhal, «as massas populares têm força invencível, quando unidas, organizadas e em movimento».

Foi neste Abril de festa e de luta – precisamente no dia 25 – que o Teatro de Almada estreou a peça «Um dia os réus serão vocês: o julgamento de Álvaro Cunhal», segundo uma ideia de Joaquim Benite, com dramaturgia de Rodrigo Francisco e interpretação de Luís Vicente.

E não podia escolher-se dia mais adequado para a estreia de um espectáculo – de um magnífico espectáculo – que tem como tema central a defesa/acusação produzida por Álvaro Cunhal perante o tribunal fascista, em Maio de 1950 – e que, certamente, irá ser visto e aplaudido por milhares de pessoas.

Foi ainda neste Abril de festa e de luta que, no dia 27, se procedeu à inauguração, no Pátio da Galé, da Exposição evocativa de Álvaro Cunhal – «Vida, Pensamento e Luta: exemplo que se projecta na actualidade e no futuro» – donde emergem as dimensões política, humana, intelectual e artística daquele que foi uma figura maior da nossa história.

Foi este Abril de festa e de luta que nos disse que Abril está vivo e que «a história das realizações, conquistas, valores e lições da Revolução de Abril, contém elementos fundamentais da experiência necessária para, na situação actual, optar por um caminho do futuro» – como escreveu Álvaro Cunhal.