Nós

Manuel Gouveia

Não há li­ber­dade onde há medo. Não im­porta de que medo fa­lamos – medo de não comer, medo de não ter onde dormir, medo de perder o em­prego, medo de ficar sem acesso aos cui­dados de saúde, medo de falar, medo de tomar po­sição, medo de lutar – se fa­lamos de medo não fa­lamos de li­ber­dade. E hoje o medo su­foca-nos a todos, menos a uma elite que fez da ri­queza rou­bada a sua se­gu­rança so­cial par­ti­cular e ilu­sória.

«Nin­guém me im­pede de sin­di­ca­lizar, mas eles des­pedem-me», «se faço greve, vou para a lista deles», «eu sei que não me podem obrigar a tra­ba­lhar de borla, mas se não as faço, des­pedem-me», «eu não quero emi­grar, mas aqui não há fu­turo, eles estão a des­truir tudo», «eles querem subir a renda, não sei como vou pagar», «quero ter um filho, mas estou há oito anos pre­cária e eles não me metem no quadro», «eles...», «eles...», «eles...», o ini­migo que pre­cisa de ser ma­te­ri­a­li­zado, que pre­cisa de ga­nhar corpo na cons­ci­ência de quem já o sente, já o des­preza, já o odeia, mesmo quando ainda não o com­bate. «Eles», a bur­guesia, os ca­pi­ta­listas, os pa­ra­sitas, os ex­plo­ra­dores, e toda a sua corja de la­caios. «Eles». E os par­tidos d'«eles». O PSD, o CDS e o PS.

E ao con­trário do que «eles» apre­goam, ne­nhum de nós der­ro­tará o medo so­zinho. Há um nós que tem que nascer com ainda mais força da opo­sição a «eles». Um nós que já existe, mas que pre­cisa de ser agru­pado, uni­fi­cado, que pre­cisa de ga­nhar cons­ci­ência de si pró­prio. Um nós cons­truído em torno dos que não se sub­metem a «eles». Dos que lhes re­sistem. Dos que lutam contra «eles». Dos que querem um Por­tugal livre d'«eles». Livre. Eman­ci­pado. Onde o nosso tra­balho cria a nossa ri­queza e de­sen­volve o nosso País.

Há li­vros es­critos com todas as le­tras que nos ex­plicam como aqui che­gámos e o que temos de fazer para ir até onde temos de ir. Desses, o mais im­por­tante é o Pro­grama do nosso Par­tido. Mas nos dias que correm, car­re­gada de fu­turo, sím­bolo do fu­turo que cons­trui­remos contra «eles» e sem «eles», está essa pa­lavra enorme de apenas três le­tras: Nós.

Povo. Classe. Par­tido. Nós!



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