Uma semana de motins na Suécia

A ira dos subúrbios

Os mo­tins que aba­laram os su­búr­bios de Es­to­colmo du­rante seis dias con­se­cu­tivos es­ten­deram-se no fim-de-se­mana a ou­tras ci­dades da Suécia, des­nu­dando a questão da de­si­gual­dade

Po­lí­ticas anti-so­ciais au­men­taram po­breza

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Os in­cên­dios de vi­a­turas, ata­ques a es­qua­dras da po­lícia e ou­tros actos de van­da­lismo contra edi­fí­cios pú­blicos co­me­çaram, na noite de dia 20, no su­búrbio de Husby, zona des­fa­vo­re­cida com uma forte pre­sença de imi­grantes.

Alas­traram nos dias se­guintes a ou­tras zonas dos ar­re­dores de Es­to­colmo e nos úl­timos dias re­ben­taram nou­tras ci­dades.

Esta ex­plosão de vi­o­lência, que não é iné­dita (já em 2008 se ha­viam re­gis­tado graves in­ci­dentes em Malmo, bem como em Rin­keby em 2010), traz para a ac­tu­a­li­dade o apro­fun­da­mento das de­si­gual­dades num país que, até há pouco, go­zava de uma imagem pa­cí­fica e igua­li­tária.

Porém, a re­a­li­dade da Suécia mudou muito nas úl­timas dé­cadas. E estes mo­tins ur­banos, em tudo se­me­lhantes aos de Lon­dres há dois anos ou aos de Paris em 2005, não são a única prova.

Um re­la­tório da OCDE, di­vul­gado dia 14, sobre a de­si­gual­dade de ren­di­mentos em 34 países, aponta a Suécia como aquele onde a po­breza re­la­tiva au­mentou mais entre 1995 e 2010, tendo du­pli­cado o nú­mero de po­bres.

Tal é o re­sul­tado das po­lí­ticas de re­cu­pe­ração ca­pi­ta­lista que de­ter­mi­naram o corte das des­pesas do Es­tado e o ema­gre­ci­mento do sis­tema de pro­tecção so­cial, ao mesmo tempo que pro­cu­ravam es­ti­mular a eco­nomia com re­du­ções de im­postos às em­presas e outro tipo de van­ta­gens.

Os re­sul­tados eco­nó­micos po­derão ser ani­ma­dores para al­guns, mas não o são para a massa de de­sem­pre­gados que não con­segue obter meios para uma vida digna.

Na lo­ca­li­dade de Husby, onde de­fla­graram os dis­túr­bios, 20 por cento dos jo­vens não tinha qual­quer ac­ti­vi­dade em 2010, se­gundo dados ofi­ciais ci­tados pela AFP. Um em cada cinco in­di­ví­duos, com idades dos 16 aos 19 anos, não tinha tra­balho nem fre­quen­tava a es­cola.

Dos cerca de 12 mil ha­bi­tantes de Husby, apenas 40 por cento têm tra­balho, o que con­trasta com a taxa de em­prego na Suécia que se eleva a 59 por cento da po­pu­lação.

Antes das re­formas, um de­sem­pre­gado podia contar com ren­di­mentos se­me­lhantes aos que tinha quando tra­ba­lhava. Os con­ser­va­dores no poder con­si­de­raram isso in­justo, e cor­taram as pres­ta­ções so­ciais, sob o pre­texto de que era pre­ciso in­citar as pes­soas a pro­curar em­prego.

Mas como con­ti­nuou a não haver em­prego para toda a gente, em poucos anos a Suécia desceu da pri­meira po­sição para a 14ª na lista dos países mais igua­li­tá­rios.



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