GREVE GERAL

«É ne­ces­sário, e é pos­sível, er­guer uma muito grande, forte e par­ti­ci­pada greve geral»

A si­tu­ação eco­nó­mica e so­cial agrava-se e de­grada-se todos os dias e todos os dias o País dá mais um passo para o afun­da­mento. Nunca, de­pois do 25 de Abril, Por­tugal e os por­tu­gueses vi­veram um tempo assim, com a in­de­pen­dência e a so­be­rania do País des­pre­zadas e avil­tadas; com a Cons­ti­tuição da Re­pú­blica mal­tra­tada e vi­o­lada; com o es­pe­zi­nha­mento de di­reitos hu­manos ati­rando a imensa mai­oria dos por­tu­gueses para o de­sem­prego, a ex­plo­ração sem li­mites, o em­po­bre­ci­mento, a mi­séria, a fome.

As causas deste drama ra­dicam, como o PCP tem in­sis­ten­te­mente su­bli­nhado, na po­lí­tica de di­reita pra­ti­cada pelo PS, o PSD e o CDS ao longo dos úl­timos trinta e sete anos, agra­vada desde há dois anos pela brutal en­trada em cena da troica ocu­pante, com a sua de­vas­ta­dora «aus­te­ri­dade» ser­vil­mente apli­cada pelo Go­verno Passos Co­elho/​Paulo Portas.

Também como o PCP não se tem can­sado de re­petir, a so­lução para os graves pro­blemas exis­tentes passa, in­con­tor­na­vel­mente, pela rup­tura com essa po­lí­tica, pela re­jeição inequí­voca do pacto de agressão e pela im­ple­men­tação de uma po­lí­tica pa­trió­tica e de es­querda, as­sente nos va­lores de Abril.

Outra con­clusão para a qual a aná­lise da si­tu­ação ac­tual nos re­mete é a de que – e uma vez mais con­fir­mando as apre­ci­a­ções do PCP - tal ob­jec­tivo só será con­cre­ti­zado através do de­sen­vol­vi­mento, da in­ten­si­fi­cação e do alar­ga­mento da luta or­ga­ni­zada das massas tra­ba­lha­doras e po­pu­lares. Foi a luta de massas que con­duziu ao iso­la­mento do Go­verno e o im­pediu de ir tão longe quanto queria na sua acção de­vas­ta­dora, e será a luta de massas que con­du­zirá à sua de­missão e ao en­con­trar dos ca­mi­nhos do fu­turo – do de­sen­vol­vi­mento, do pro­gresso, da jus­tiça so­cial, do res­peito pelos di­reitos e in­te­resses dos tra­ba­lha­dores, do povo e do País.

É um facto in­con­tes­tável – aliás re­co­nhe­cido pela ge­ne­ra­li­dade dos ob­ser­va­dores, in­de­pen­den­te­mente das suas op­ções po­lí­ticas e ide­o­ló­gicas - que o Go­verno PSD/​CDS está cada vez mais iso­lado e en­fra­que­cido e com o seu campo de ma­nobra cada vez mais re­du­zido. Basta ver como, a todo o lado onde se des­locam em ta­refas go­ver­na­tivas, os mem­bros do Go­verno – do pri­meiro-mi­nistro aos mi­nis­tros e se­cre­tá­rios de Es­tado – são re­ce­bidos por sig­ni­fi­ca­tivas vaias po­pu­lares, bem elu­ci­da­tivas sobre a am­pli­tude do des­con­ten­ta­mento e do pro­testo dos tra­ba­lha­dores e do povo.

Mas esse iso­la­mento é so­bre­tudo vi­sível – e de que ma­neira! - no cres­cendo que a luta de massas tem vindo a re­gistar. Essa luta que tem en­vol­vido mi­lhares e mi­lhares de tra­ba­lha­dores de todas as áreas de ac­ti­vi­dade, no sector pú­blico como no pri­vado, e que se tem ma­te­ri­a­li­zado em gran­di­osas ac­ções de rua – de que o exemplo mais re­cente foi a con­cen­tração do dia 25, em Belém – e em ou­tras múl­ti­plas e di­ver­si­fi­cadas ini­ci­a­tivas – como foram os ple­ná­rios, pa­ra­li­sa­ções, greves, con­cen­tra­ções le­vados a cabo, um pouco por todo País, no pas­sado dia 30, dia do pri­meiro fe­riado rou­bado pelo Go­verno Passos/​Portas aos tra­ba­lha­dores.

É certo que todas essas lutas são, em regra, vo­tadas a um si­len­ci­a­mento ci­rúr­gico, ou a uma cui­dada me­no­ri­zação, por parte dos ór­gãos da co­mu­ni­cação so­cial do­mi­nante, os quais, ao mesmo tempo, des­ferem in­qua­li­fi­cá­veis ata­ques a des­ta­cados e pro­vados di­ri­gentes sin­di­cais – o que não sur­pre­ende tra­tando-se, como se sabe, de jor­nais, rá­dios e te­le­vi­sões que são pro­pri­e­dade dos grandes grupos eco­nó­micos e fi­nan­ceiros e, por­tanto, fi­de­lís­simos pa­pa­gaios da voz dos donos (que são, afinal, os grandes be­ne­fi­ci­ados com a po­lí­tica de di­reita, que só a eles, e a mais nin­guém, serve)

Mas esse si­len­ci­a­mento, essa me­no­ri­zação, esses ata­ques, para além de não anu­larem a re­a­li­dade, ou seja, a exis­tência, a força e a di­mensão das lutas re­a­li­zadas, são o sinal claro do medo que a acção or­ga­ni­zada das massas pro­voca ao grande ca­pital – que sabe, como cada vez mais tra­ba­lha­dores sabem, que a luta é o ca­minho para der­rotar a po­lí­tica das troicas e impor uma po­lí­tica pa­trió­tica e de es­querda.

Estamos a três se­manas da Greve Geral con­vo­cada pela CGTP-IN – e à qual, pos­te­ri­or­mente, aderiu a UGT - que de­verá cons­ti­tuir um novo passo em frente na cons­ci­en­ci­a­li­zação e na mo­bi­li­zação dos tra­ba­lha­dores e um mo­mento alto da luta de massas. A cons­trução desta im­por­tante jor­nada de com­bate é, desde já, a ta­refa fun­da­mental dos di­ri­gentes e ac­ti­vistas sin­di­cais e dos mem­bros das co­mis­sões de tra­ba­lha­dores, que a ela devem de­dicar todas as suas forças e es­forços, de modo a su­perar com êxito os muitos obs­tá­culos er­guidos pelo ini­migo de classe. É ne­ces­sário que em todas as em­presas e lo­cais de tra­balho se leve por di­ante uma vasta e es­cla­re­ce­dora acção de mo­bi­li­zação, ga­nhando o maior nú­mero de tra­ba­lha­dores para a par­ti­ci­pação na greve, ven­cendo he­si­ta­ções e medos, se­me­ando a con­fi­ança e a con­vicção, de­mons­trando que nada é capaz de vencer a força or­ga­ni­zada das massas tra­ba­lha­doras. No pró­ximo dia 27, é ne­ces­sário – e é pos­sível, com tra­balho e con­fi­ança - er­guer uma muito grande, forte e par­ti­ci­pada Greve Geral, através da qual os tra­ba­lha­dores por­tu­gueses ex­pressem o seu re­púdio pela po­lí­tica de di­reita e exijam aquilo a que, en­quanto ci­da­dãos e pro­du­tores da ri­queza do País, têm di­reito: uma po­lí­tica que res­peite os seus di­reitos e in­te­resses.

Isto, tanto no sector pú­blico como no sector pri­vado, porque a Greve Geral é de todos, e para todos, os tra­ba­lha­dores, sendo certo que quanto maior, mais ampla e mais forte for a adesão, mai­ores e mais po­si­tivos serão os seus efeitos ime­di­atos e fu­turos.