Relatório do FMI admite «falhanços»

Troika sacrificou Grécia à banca

Um re­la­tório pu­bli­cado, dia 5, pelo Fundo Mo­ne­tário In­ter­na­ci­onal ad­mite que o plano de res­gate da Grécia, apli­cado em 2010, se saldou por «fa­lhanços no­tó­rios».

Não é a pri­meira vez que o FMI ad­mite ter er­rado. Há al­guns meses vimos os seus es­pe­ci­a­listas darem a mão à pal­ma­tória, con­fes­sando que cal­cu­laram mal os efeitos re­ces­sivos do au­mento da carga fiscal. Enfim, po­deria pensar-se que errar é hu­mano…

Porém, agora vêm afirmar preto no branco que o res­gate da Grécia foi uma ope­ração mon­tada, não para ajudar o país a sair da ban­car­rota o mais de­pressa pos­sível, mas sim para «dar tempo à zona euro» de se pro­teger.

Logo em 2010, se­gundo o re­la­tório, os téc­nicos do FMI es­tavam cons­ci­entes de que a dí­vida da Grécia era im­pa­gável, de­vendo por isso ser re­es­tru­tu­rada ime­di­a­ta­mente, nos mon­tantes, prazos e juros, de modo a que o país pu­desse cum­prir os seus com­pro­missos e evitar a ca­tás­trofe eco­nó­mica.

Porém, em vez disso, o FMI, a Co­missão Eu­ro­peia, o Banco Cen­tral Eu­ropeu e o go­verno grego mar­te­laram as contas e as pre­vi­sões para fazer crer que a Grécia es­tava em con­di­ções de re­ceber o pri­meiro res­gate de 110 mil mi­lhões de euros de ajuda in­ter­na­ci­onal.

Assim, as pre­vi­sões for­jadas ini­ci­al­mente apon­tavam para uma re­cessão con­tro­lada de 5,5 por cento entre 2009 e 2012. Na ver­dade, o Pro­duto In­terno Bruto grego caiu 17 por cento, e o de­sem­prego, pre­visto para 15 por cento, galgou para 25 por cento na­quele pe­ríodo.

Ci­ni­ca­mente, o FMI re­vela o jogo, re­me­tendo as culpas por esta po­lí­tica para al­guns países da zona euro, cujos bancos ti­nham in­ves­tido for­te­mente na dí­vida grega.

A acu­sação azedou as re­la­ções com Bru­xelas. O co­mis­sário eu­ropeu para os As­suntos Eco­nó­micos, Olli Rehn, re­tor­quiu ex­pres­si­va­mente que o FMI está «a lavar as mãos e deitar a água suja para os eu­ro­peus».

No en­tanto, a coisa não ficou sa­nada. No sá­bado, 8, o eco­no­mista chefe do FMI in­sistiu aos mi­cro­fones da rádio France Inter que se «perdeu tempo».

Para Oli­vier Blan­chard é agora evi­dente que «teria sido pre­ciso estar pronto para re­ne­go­ciar a dí­vida à par­tida, dar um pouco mais de ar à Grécia de modo a que pu­desse sair mais fa­cil­mente da si­tu­ação, mas no con­texto eu­ropeu da época, as con­di­ções não es­tavam reu­nidas».

Esta so­lução impôs-se um ano mais tarde mas, acres­centa Blan­chard, não de uma ma­neira de­ci­siva: «A dí­vida con­tinua a ser muito ele­vada», e isso «re­tarda o re­gresso da Grécia a um equi­lí­brio acei­tável».

E con­clui que a prin­cipal lição a tirar é de que se deve en­carar a re­a­li­dade: «Quando um país tem um peso da dí­vida in­sus­ten­tável, é pre­ciso aceitar a re­a­li­dade e re­duzir o peso da dí­vida».

To­davia a re­a­li­dade mostra que as in­ter­ven­ções do FMI sempre se sal­daram por «fa­lhanços»: mais po­breza, de­sem­prego, re­cessão eco­nó­mica, etc. E isto, claro, não se deveu a ale­gados erros mas, tal como na Grécia ou Por­tugal, é a con­sequência ine­vi­tável de po­lí­ticas des­trui­doras, cujo ob­jec­tivo pri­mor­dial é de­fender os in­te­resses dos cre­dores, isto é, do grande ca­pital.

A dí­vida grega per­ma­nece in­sus­ten­tável, mesmo após a re­es­tru­tu­ração de 2012. A di­fe­rença é que agora ela é de­tida pelo FMI e pelos países da UE, em vez dos bancos ou fundos de in­ves­ti­mento que lu­craram com a sua cri­ação. Dito de outro modo, o fardo passou para os om­bros dos povos.



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