Das palavras que poucos entendem ao regresso à escravidão…

Jorge Messias

«O li­be­ra­lismo não é uma ideia nova. Me­lhor: dir-se-ia que se pro­cura apre­sentá-lo, agora, como uma au­sência de ideias, porque convém de­fini-lo como ex­pressão sem ide­o­logia que erige em ide­o­logia a au­sência de ide­o­logia. O que co­meça por ser de uma con­tra­dição in­su­pe­rável. Uma men­tira a dizer a ver­dade...» (Sérgio Ri­beiro, De­bates da In­ter­venção De­mo­crá­tica, Junho de1988).

«Ainda que a glo­ba­li­zação seja mais in­tensa na eco­nomia, ela também ocorre na in­for­mação, na cul­tura, na ci­ência, na po­lí­tica e no es­paço. Não se pode, con­tudo, pensar que ela tenda a ni­velar a so­ci­e­dade. Pelo con­trário, ela é se­lec­tiva. En­quanto vá­rios grupos se ni­velam, ou­tros ficam ex­cluídos do pro­cesso. Por isso, no seu de­sen­vol­vi­mento, a glo­ba­li­zação tende a trans­formar o es­paço mun­dial num mundo cada vez mais con­fuso. Por outro lado, a glo­ba­li­zação tem pro­vo­cado uma imensa con­cen­tração da ri­queza. Deste modo, au­mentam as di­fe­renças entre os países e, no in­te­rior de cada um deles, entre classes e seg­mentos so­ciais» (Sílvia Oli­veira, «Glo­ba­li­zação, a nova ordem mun­dial»).

«O Ter­ceiro Sector ins­tru­men­ta­li­zado pelo ne­o­li­be­ra­lismo, tem a função de fra­gi­lizar as es­tru­turas da Se­gu­rança So­cial do Es­tado e de trans­formar as lutas contra a Re­forma Ne­o­li­beral do Es­tado em par­ce­rias com o pró­prio Es­tado. Assim, não só en­fra­quece a re­sis­tência ao au­mento do de­sem­prego, como li­mita a questão so­cial a as­pectos re­si­duais do dia-a-dia. Pro­move o Es­tado ne­o­li­beral, am­pli­fica os en­ten­di­mentos entre classes an­ta­gó­nicas – tra­balho, poder e em­pre­sa­riado – e pro­cura fra­gi­lizar as opo­si­ções às es­tra­té­gias ne­o­li­be­rais» (Carlos Mon­taño, co­or­de­nador da Bi­bli­o­teca La­tino-Ame­ri­cana).

Todo o gi­gan­tesco po­derio dos ca­pi­tais mo­no­po­listas re­vela, no en­tanto, pa­decer de graves con­tra­di­ções e está longe de pré-anun­ciar uma es­ma­ga­dora vi­tória final. Pelo con­trário – e Por­tugal é disso um exemplo – não há beco nem viela que os mi­li­o­ná­rios in­vadam sem que lhes não surjam bar­reiras im­pre­vi­sí­veis. As contas pú­blicas dos es­tados-mem­bros da glo­ba­li­zação re­gistam pre­juízos bru­tais. As suas eco­no­mias tro­peçam a cada passo e ba­ra­lham-se com in­te­resses pró­prios e alheios. De­sem­prego e mi­séria são im­pa­rá­veis. As «Re­formas do Es­tado», re­ac­ci­o­ná­rias e fas­ci­zantes, atingem massas im­por­tantes das bur­gue­sias, as tra­di­ci­o­nais bases de apoio do sis­tema ca­pi­ta­lista. Con­se­quen­te­mente, as fa­lên­cias em ca­deia juntam-se ao de­sem­prego; a mi­séria en­grossa com os «novos po­bres»; e os jo­vens va­gueiam ao acaso da sorte, sem tra­balho nem es­pe­rança no fu­turo.

Para ne­nhum dos pro­blemas bá­sicos da so­ci­e­dade o ne­o­li­be­ra­lismo en­contra so­lu­ções. Até porque não pode en­contrá-las. O des­ca­labro re­sulta de uma fraude gi­gan­tesca a que os ne­o­li­be­rais chamam linha po­lí­tica. E dela não querem abrir mão. São a máfia do poder. Por­tugal ca­pi­ta­lista é uma in­de­cente ca­ri­ca­tura da de­mo­cracia.

A es­can­da­leira é o pão nosso de cada dia. Hora a hora vêm a pú­blico no­tí­cias de in­trigas, roubos, su­bornos, des­fal­ques, men­tiras, tudo à custa do ci­dadão que quanto menos tem mais paga. Nascem em todas as áreas que par­ti­lham entre si o poder: go­verno, banca, eco­nomia e igrejas. O des­taque vai para os par­tidos da «di­reita», para as po­lí­ticas do go­verno (com a cum­pli­ci­dade das suas mai­o­rias par­la­men­tares), para os ban­queiros e para os aven­tu­reiros es­pe­cu­la­dores – ca­tó­licos, lu­te­ranos, ma­çó­nicos, ma­fi­osos, opus­deístas, do clube de Bil­der­berg ou das «lojas» se­cretas que pu­lulam em toda a Eu­ropa.

No en­tanto, muitos ca­pi­ta­listas pensam (e bem...) que o povo é sen­sível aos va­lores éticos e ao de­sem­penho moral das classes do­mi­nantes. O grande se­gredo para o êxito do as­salto ao poder de uma Nova Ordem, é a con­tenção da pa­lavra.

Por isso, na fase ac­tual, vi­vemos afo­gados numa onda de novos con­ceitos, quase todos ex­pressos em in­glês, a língua ca­nó­nica dos pa­trões: swards, crowd­fun­dings, com­mo­di­ties, agro­bu­si­ness, tra­ders, primes, cha­ritys, market shares, etc., etc. A co­mu­ni­cação de­mo­crá­tica fala muito mas não se faz en­tender. E é por de­trás desta cor­tina de ver­bor­reia que se es­conde o livre ban­di­tismo e o culto do saque.

O Va­ti­cano é uma das mais im­por­tantes cen­trais que di­rigem todo o pro­cesso de ins­ta­lação da Nova Ordem Mun­dial. É para a sua rede de or­ga­ni­za­ções que os po­lí­ticos cor­ruptos pro­curam trans­ferir os po­deres do Es­tado, no­me­a­da­mente na área agrí­cola onde a fome re­pre­senta lucro e a de­si­gual­dade so­cial se pro­move através da ca­ri­dade cristã.



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