O incidente com o avião de Evo Morales

Decisão de gravidade extrema

Foi com o «mais vivo re­púdio e pro­testo» que Ber­nar­dino So­ares ava­liou a re­cusa do Go­verno de au­to­rizar a ater­ragem em solo por­tu­guês do avião pre­si­den­cial da Bo­lívia. Uma tal ati­tude «viola todas as re­gras do di­reito in­ter­na­ci­onal, de gestão do es­paço aéreo e de re­la­ci­o­na­mento entre países so­be­ranos e que têm re­la­ções di­plo­má­ticas ac­tivas», con­si­derou o líder par­la­mentar do PCP, apre­en­sivo que está ainda de que este la­men­tável epi­sódio deixe Por­tugal «mal visto pe­rante o Mundo».

Não des­cor­ti­nando ne­nhuma razão vá­lida para tal gesto hostil, Ber­nar­dino So­ares, que de­dicou a parte ini­cial da sua de­cla­ração po­lí­tica a este tema, in­ter­rogou-se quanto ao papel aqui jo­gado pelos de­ci­sores di­rectos, «se ainda foi Paulo Portas ou se já nem isso é pre­ciso e é de facto a ad­mi­nis­tração dos EUA que con­trola o nosso es­paço aéreo e os nossos com­pa­tri­otas».

Con­tes­tada pelo pre­si­dente da for­mação co­mu­nista foi também a ideia de que a re­cusa se deveu ao rumor de que es­taria a bordo da ae­ro­nave Edward Snowden, que de­nun­ciou actos de es­pi­o­nagem dos EUA sobre países da União Eu­ro­peia e sobre co­mu­ni­ca­ções pri­vadas de mi­lhões de ci­da­dãos. «Afinal não vinha a bordo, mas per­gun­tamos: e se vi­esse? Como é que se jus­ti­fica que, pe­rante a de­núncia de que os EUA es­piam vá­rios países da Eu­ropa e ins­ti­tui­ções da União Eu­ro­peia, Por­tugal e ou­tros países eu­ro­peus se de­di­quem a per­se­guir (aliás sem qual­quer man­dado ju­di­cial) aquele que pôs a nu a vi­o­lação das suas so­be­ra­nias?», in­quiriu, não he­si­tando em elevar o caso à ca­te­goria de «es­cân­dalo».

Um voto de con­de­nação do PCP pela ati­tude do Exe­cu­tivo de Passos e Portas neste caso foi en­tre­tanto chum­bado pela mai­oria PSD/​CDS-PP na úl­tima sexta-feira e o mesmo veio a su­ceder com ini­ci­a­tivas si­mi­lares do BE e do PS. No texto, onde se clas­si­fica de «imensa gra­vi­dade» o in­ci­dente po­lí­tico e di­plo­má­tico pro­vo­cado pelo com­por­ta­mento do Go­verno, é cha­mada a atenção para as suas re­per­cus­sões in­ter­na­ci­o­nais e para as pos­sí­veis «graves con­sequên­cias na po­sição de Por­tugal no quadro da Ci­meira Ibero Ame­ri­cana, cuja ma­nu­tenção já foi posta em causa, e na pró­pria CPLP».

Por outro lado, para an­te­ontem, re­que­rida pelo PCP (que usou um agen­da­mento po­tes­ta­tivo), es­tava mar­cada na co­missão par­la­mentar de Ne­gó­cios Es­tran­geiros uma au­dição do mi­nistro da tu­tela, Paulo Portas, des­ti­nada a obter es­cla­re­ci­mentos sobre esta la­men­tável ocor­rência.

Sendo uma «de­cisão de gra­vi­dade ex­trema» e tendo em conta o «in­só­lito co­mu­ni­cado do Mi­nis­tério dos Ne­gó­cios Es­tran­geiros, que aludia a ra­zões téc­nicas sem ex­plicar quais são, en­ten­demos que a AR não pode deixar de exigir do Go­verno um es­cla­re­ci­mento total sobre este caso», assim jus­ti­fi­cava o de­pu­tado An­tónio Fi­lipe no final da se­mana tran­sacta a ini­ci­a­tiva da sua ban­cada.

 

 



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