PCP na rua exige demissão do Governo

Ninguém pára a força de um povo

Ao apelo do PCP, mi­lhares de pes­soas saíram às ruas de Lisboa, Porto e Évora logo no dia 3 para exigir a dis­so­lução da As­sem­bleia da Re­pú­blica e a re­a­li­zação de elei­ções an­te­ci­padas. Exi­gên­cias que se mantêm, por mais voltas que PSD e CDS dêem para pros­se­guirem no poder a afundar o País.

O PCP mo­bi­lizou mi­lhares de pes­soas em al­gumas horas

Con­vo­cados do final de um dia para a tarde do dia se­guinte, os des­files pro­mo­vidos pelo PCP no dia 3 (dia se­guinte ao pe­dido de de­missão «ir­re­vo­gável» de Paulo Portas e à de­cla­ração de Pedro Passos Co­elho de que não se de­mitia) trou­xeram para as ruas de três das prin­ci­pais ci­dades por­tu­guesas mi­lhares de pes­soas que deram ex­pressão a um clamor que per­corre o País: a exi­gência do fim deste Go­verno e da sua po­lí­tica des­trui­dora de di­reitos, de ser­viços pú­blicos, de tantas e tantas vidas, uma po­lí­tica que põe em causa o pró­prio fu­turo de Por­tugal como País in­de­pen­dente e so­be­rano.

Pro­mo­vidas pela força po­lí­tica que tenaz e co­e­ren­te­mente com­bateu ao longo dos úl­timos dois anos o Go­verno de Passos Co­elho e Paulo Portas e da troika dos cre­dores (FMI, UE e BCE), tal como o fez nas úl­timas dé­cadas contra a po­lí­tica de di­reita pro­mo­vida à vez ou em com­bi­na­ções va­riá­veis por PS, PSD e CDS, estas ma­ni­fes­ta­ções trou­xeram uma vez mais para as ruas a exi­gência de uma nova po­lí­tica, ba­seada nos va­lores de Abril. Uma po­lí­tica que o PCP ca­rac­te­rizou como pa­trió­tica e de es­querda e que terá que romper com a cres­cente sub­missão e su­bor­di­nação ex­ternas, re­co­lo­cando no centro da ori­en­tação po­lí­tica a de­fesa in­tran­si­gente dos in­te­resses na­ci­o­nais, e pôr fim à po­lí­tica de di­reita, va­lo­ri­zando o tra­balho, os tra­ba­lha­dores, os di­reitos so­ciais e as fun­ções so­ciais do Es­tado e pro­mo­vendo a igual­dade, a jus­tiça so­cial e o con­trolo pú­blico dos sec­tores es­tra­té­gicos na­ci­o­nais, to­mando uma opção clara em de­fesa dos tra­ba­lha­dores e das ca­madas e sec­tores não mo­no­po­listas.

Pelo seu con­teúdo, pela energia que deles emanou, pela cor­res­pon­dência das suas rei­vin­di­ca­ções com o sen­ti­mento ge­ne­ra­li­zado do povo por­tu­guês, as ma­ni­fes­ta­ções do pas­sado dia 3 só po­diam ter sido con­vo­cadas e re­a­li­zadas pelo PCP, par­tido di­fe­rente dos que são todos iguais, força de­ter­mi­nante para a cons­trução de um País mais justo, so­be­rano e de­sen­vol­vido – país esse que sur­girá da luta de massas, a mesma que isolou e der­rotou este Go­verno.

Lisboa

Em Lisboa, entre o Largo do Chiado e a Praça do Rossio, a ma­ni­fes­tação do PCP – na qual se­guiram ao lado dos mi­li­tantes co­mu­nistas muitos ou­tros de­mo­cratas e pa­tri­otas – re­cebeu inú­meras de­mons­tra­ções de apoio de di­versas pes­soas que nesse mo­mento pas­savam por aquela con­cor­rida zona da ca­pital e que, par­ti­lhando dos seus ob­jec­tivos e con­ta­gi­ados pela sua energia, não he­si­taram em tirar fo­to­gra­fias, aplaudir e re­petir com en­tu­si­asmo as suas pa­la­vras de ordem. Quanto a estas, eco­aram bem alto ao longo de todo o per­curso: «De­missão»; «Está na hora do Go­verno ir em­bora»; «Mais um em­purrão e o Go­verno vai ao chão»; e «É pre­ciso uma po­lí­tica de es­querda».

No final do per­curso, num pe­queno palco co­lo­cado junto à en­trada da Rua Au­gusta, Je­ró­nimo de Sousa afirmou que a der­rota emi­nente do Go­verno de Passos e Portas mostra que «valeu a pena lutar, que a força dos tra­ba­lha­dores e do povo pode muito, mesmo pe­rante as mai­ores mai­o­rias e os mais po­de­rosos in­te­resses do ca­pital». Sa­li­en­tando que há muito o exe­cu­tivo de­veria ter sido de­mi­tido, pou­pando-se o País ao «ca­minho de ruína e à de­gra­dação eco­nó­mica, so­cial e po­lí­tica», o di­ri­gente co­mu­nista re­alçou ter sido a «luta de todos os dias, nas em­presas e na rua» e «essa luta maior que a greve geral cons­ti­tuiu» que abalou ir­re­me­di­a­vel­mente o Go­verno, mi­nando a sua cre­di­bi­li­dade pú­blica e iso­lando-o so­ci­al­mente. Será essa mesma luta, que con­ti­nuou no sá­bado se­guinte (ver pá­gina 5), que «hoje e em cada dia dos dias pró­ximos, der­ro­tará e en­ter­rará de­fi­ni­ti­va­mente um go­verno ob­ce­ca­da­mente agar­rado ao poder e obri­gará, queira o Pre­si­dente da Re­pú­blica ou não queira, à dis­so­lução da As­sem­bleia da Re­pú­blica e à con­vo­cação de elei­ções». A mesma luta que, jun­ta­mente com o Go­verno, var­rerá para bem longe o pacto de agressão e a po­lí­tica de di­reita.

Porto

A con­cen­tração do PCP, re­a­li­zada em frente ao Via Ca­ta­rina, no Porto, contou com a pre­sença de cen­tenas de co­mu­nistas e ou­tros de­mo­cratas que qui­seram fazer ouvir a sua voz de exi­gência de dis­so­lução da As­sem­bleia da Re­pú­blica e a con­vo­cação de elei­ções an­te­ci­padas como a única forma de con­cre­ti­zação de uma po­lí­tica al­ter­na­tiva pa­trió­tica e de es­querda. O pro­testo contou com a in­ter­venção de Jaime Toga, membro da Co­missão Po­lí­tica do Co­mité Cen­tral do PCP, que re­feriu que está nas mãos do povo, com a sua luta, com a sua opção, com o seu voto, abrir ca­minho à cons­trução dessa al­ter­na­tiva po­lí­tica que res­ponda aos seus justos an­seios e de­volva a es­pe­rança às fu­turas ge­ra­ções.

O di­ri­gente co­mu­nista lem­brou o facto de, pouco mais de uma se­mana antes, o PCP ter es­tado nas ruas do Porto a «de­nun­ciar esta po­lí­tica, a apelar a uma grande par­ti­ci­pação na greve geral e a exigir a de­missão do Go­verno», acres­cen­tando em se­guida que «a vida dá razão ao PCP». A si­tu­ação ac­tual do País com­prova duas grandes ques­tões, adi­antou Jaime Toga: que a po­lí­tica de di­reita dos PEC e do pacto de agressão só des­graça a vida ao povo e des­trói o País; e que «vale a pena lutar, que valeu a pena fazer uma grande greve geral no pas­sado dia 27 de Junho, que a luta dos tra­ba­lha­dores e das po­pu­la­ções abalou ir­re­me­di­a­vel­mente este Go­verno».

Con­cluindo que agora é al­tura de con­ti­nuar, com força re­do­brada, a «lutar pela dis­so­lução da As­sem­bleia da Re­pú­blica, pela de­missão do Go­verno e pela con­vo­cação de elei­ções an­te­ci­padas», o di­ri­gente co­mu­nista ga­rantiu ser essa a «única forma de abrir ca­minho à apli­cação dos va­lores de Abril no nosso País».

Évora

Mais de três cen­tenas de pes­soas par­ti­ci­param na con­cen­tração con­vo­cada pela Di­recção da Or­ga­ni­zação Re­gi­onal de Évora do PCP no dia 3. Muitos foram os de­mo­cratas que con­ver­giram para o Largo Luís de Ca­mões para exigir a de­missão do Go­verno, a dis­so­lução da As­sem­bleia da Re­pu­blica e a con­vo­cação de elei­ções an­te­ci­padas, pes­soas dos mais di­versos qua­drantes po­lí­ticos unidas pelos mesmos ob­jec­tivos ime­di­atos.

Os pre­sentes exi­giram também uma maior res­pon­sa­bi­li­zação do Pre­si­dente da Re­pú­blica, uma vez que este jurou de­fender, cum­prir e fazer cum­prir a Cons­ti­tuição, mas de­pressa se es­queceu desse com­pro­misso as­su­mido com o povo e o País, apoi­ando de forma aberta e par­ti­cu­lar­mente ze­losa as po­lí­ticas do ac­tual Go­verno e as im­po­si­ções da troika es­tran­geira. Do PS co­men­tava-se o seu com­pro­me­ti­mento com a po­lí­tica de di­reita e a troika e os di­versos zi­gue­za­gues efec­tu­ados na exi­gência de de­missão do ac­tual Go­verno. Ge­ne­ra­li­zada era a com­pre­ensão da im­por­tância da luta de massas para a de­sa­gre­gação do Go­verno PSD/​CDS e o seu iso­la­mento so­cial.

Pre­sente na con­cen­tração, João Dias Co­elho, da Co­missão Po­lí­tica, di­rigiu-se aos pre­sentes sau­dando a sua luta contra a po­lí­tica de di­reita e sa­li­en­tando o con­tri­buto dos alen­te­janos neste com­bate de dé­cadas, que se in­ten­si­ficou nos úl­timos anos, re­a­fir­mando aquelas que são, no ime­diato, as rei­vin­di­ca­ções do PCP: a de­missão do Go­verno, a dis­so­lução da As­sem­bleia da Re­pú­blica e a mar­cação de elei­ções an­te­ci­padas – pri­meiros e de­ci­sivos passos para romper com a po­lí­tica de di­reita e em­pre­ender a cons­trução de uma po­lí­tica al­ter­na­tiva, pa­trió­tica e de es­querda.

 

A luta que trans­forma

«É esta luta, esta de­ter­mi­nação e co­ragem dos tra­ba­lha­dores e do povo, este sen­tido e di­mensão mai­ores que ela re­pre­senta en­quanto afir­mação de di­reitos, de so­be­rania e de exi­gência de pro­gresso num Por­tugal com fu­turo que há-de ter também a força bas­tante para que com o Go­verno vá a po­lí­tica de di­reita, vá o pacto de agressão. Está nas mãos dos tra­ba­lha­dores e do povo romper com o rumo de de­sastre na­ci­onal, abrir ca­minho a uma po­lí­tica al­ter­na­tiva pa­trió­tica e de es­querda. O PCP aqui está para as­sumir todas as res­pon­sa­bi­li­dades que os tra­ba­lha­dores e o povo por­tu­guês lhe queiram atri­buir.»

«Não fal­tarão as ma­no­bras para tentar per­pe­tuar, com Passos Co­elho ou sem ele, com os ac­tuais ou com ou­tros pro­mo­tores da po­lí­tica de di­reita, com ou sem elei­ções, a mesma po­lí­tica de ex­plo­ração dos tra­ba­lha­dores, de li­qui­dação de di­reitos, de em­po­bre­ci­mento dos por­tu­gueses, de ca­pi­tu­lação na­ci­onal. Não se iludam os que julgam poder con­ti­nuar a en­ganar para todo o sempre os tra­ba­lha­dores. Mais cedo que tarde o povo por­tu­guês fa­lará mais alto, to­mará em suas mãos a cons­trução de uma po­lí­tica que cor­res­ponda aos seus in­te­resses e di­reitos.»

«Mas a questão cru­cial é a de que com a der­rota deste Go­verno se der­rote a po­lí­tica de di­reita, se abra ca­minho a uma po­lí­tica pa­trió­tica e de es­querda. A ur­gência de uma rup­tura com esta po­lí­tica, de uma mu­dança na vida na­ci­onal que abra ca­minho à cons­trução de uma po­lí­tica al­ter­na­tiva, pa­trió­tica e de es­querda, cons­titui um im­pe­ra­tivo na­ci­onal, uma con­dição para as­se­gurar um Por­tugal com fu­turo, de jus­tiça so­cial e pro­gresso, um País so­be­rano e in­de­pen­dente. (…) Uma po­lí­tica que afirme e as­se­gure que são os povos que de­cidem e es­co­lhem os seus ca­mi­nhos e não os mer­cados, esses mer­cados que têm su­gado o País. Uma po­lí­tica que as­se­gure aquela que é a so­lução que serve o in­te­resse na­ci­onal: a ime­diata re­ne­go­ci­ação da dí­vida toda e em todos os seus termos – mon­tantes, juros e prazos – e pôr fim à im­po­sição de juros agi­otas e pa­ga­mentos ile­gí­timos.»

«Uma po­lí­tica al­ter­na­tiva que exige um go­verno que a con­cre­tize. Um go­verno pa­trió­tico e de es­querda, capaz de romper com a ló­gica e o cír­culo vi­cioso que se ins­talou no país do sis­tema de al­ter­nância sem al­ter­na­tiva de po­lí­ticas. O País não pode ficar refém do ro­ta­ti­vismo entre PS e PSD, com ou sem a mu­leta do CDS, para re­a­lizar no es­sen­cial a mesma po­lí­tica e a co­berto do mesmo pacto de agressão que leva o País ao abismo! Sim, há ou­tras al­ter­na­tivas à ac­tual si­tu­ação. Existem em Por­tugal forças bas­tantes e ca­pazes de romper com o ciclo de go­vernos da po­lí­tica de di­reita, para dar corpo a uma so­lução po­lí­tica, um go­verno pa­trió­tico e de es­querda ao ser­viço dos tra­ba­lha­dores, do povo e do País. Como o PCP, há cen­tenas de mi­lhares de pa­tri­otas e de­mo­cratas, cen­tenas de mi­lhares de tra­ba­lha­dores e de ou­tros por­tu­gueses, que olham com es­pe­rança essa pro­funda as­pi­ração de ver no País uma po­lí­tica pa­trió­tica e de es­querda.»

(Ex­certos da in­ter­venção de Je­ró­nimo de Sousa na ma­ni­fes­tação de Lisboa, 3.7.2013)

 



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Povo reclama poder decidir

«Um Go­verno que agrava a ex­plo­ração e o em­po­bre­ci­mento, junta mais crise à crise, am­plia a gri­tante de­si­gual­dade so­cial no nosso País e pro­move um ajuste de contas com Abril, com a de­mo­cracia e a so­be­rania na­ci­onal, não pode con­ti­nuar em fun­ções, mesmo que surja agora em versão re­cau­chu­tada», afirmou Ar­ménio Carlos, no pro­testo que a CGTP-IN pro­moveu sá­bado, junto ao Pa­lácio de Belém, para exigir a de­missão do exe­cu­tivo PSD/​CDS e a re­a­li­zação de le­gis­la­tivas an­te­ci­padas.