Aldeia polaca resiste à Chevron

A terra e a água

Os ha­bi­tantes da al­deia de Zu­ra­wlow, no dis­trito de Gra­bowiec, Su­do­este da Po­lónia, ocupam desde dia 3 de Junho uma área onde a norte-ame­ri­cana Che­vron pre­tende ex­plorar gás de xisto.

Agri­cul­tores temem po­luição do gás de xisto

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Numa luta de David contra Go­lias, os agri­cul­tores de Zu­ra­wlow já ga­nharam uma ba­talha no ano pas­sado, quando acu­saram a mul­ti­na­ci­onal pe­tro­lí­fera de vi­olar a di­rec­tiva eu­ro­peia sobre a con­ser­vação das aves sil­ves­tres.

Mas a Che­vron não se deu por ven­cida. Apoiada pelo go­verno de Do­nald Tusk (centro-di­reita), voltou à re­gião e, para não ser in­co­mo­dada, co­meçou por tentar vedar a zona da con­cessão.

Os ha­bi­tantes lo­cais ofe­re­ceram-lhe re­sis­tência, man­tendo os ter­renos sob ocu­pação desde há dois meses. Alegam que a Che­vron não pode vedar a pro­pri­e­dade que lhe foi con­ce­dida para fins pú­blicos e exigem que a co­mu­ni­dade tenha co­nhe­ci­mento prévio e possa es­cru­tinar as suas ac­ti­vi­dades.

Neste braço-de-ferro de­si­gual, a razão está se­gu­ra­mente do lado dos po­pu­lares, que temem com fun­da­mento que a ex­plo­ração do gás de xisto des­trua as suas terras e re­cursos hí­dricos.

Tanto mais que, ao abrigo da le­gis­lação po­laca, as au­to­ri­dades nem se­quer con­si­de­raram ne­ces­sário re­a­lizar es­tudos de im­pacto am­bi­ental.

Os in­te­resses en­vol­vidos têm uma tal di­mensão que po­pu­la­ções in­teiras correm o risco de serem sim­ples­mente ex­pulsas das suas terras.

Se­gundo um tra­balho da IPS (Inter Press Ser­vice), a Po­lónia é um dos países mais pro­mis­sores para a ex­plo­ração do gás de xisto.

Es­ti­ma­tivas da Ad­mi­nis­tração de Energia dos Es­tados Unidos in­dicam que o sub­solo po­laco po­derá conter 187 bi­liões de pés cú­bicos de gás de xisto (100 pés cú­bicos = 2,83 me­tros cú­bicos).

Ora como o con­sumo de gás da Po­lónia se situa nos 600 mil pés cú­bicos por ano, tais re­servas sig­ni­fi­ca­riam o abas­te­ci­mento do país du­rante cerca de 300 anos.

Não é assim de ad­mirar que o go­verno po­laco e as classes do­mi­nantes se mos­trem ren­didos ao novo «el do­rado», apos­tando na sua ex­plo­ração custe o que custar.

Com esse ob­jec­tivo, o go­verno tem vindo a pre­parar le­gis­lação, exi­gida pelas mul­ti­na­ci­o­nais, que prevê isen­ções fis­cais e lhes per­mite operar com toda a li­ber­dade, des­cu­rando os altos riscos am­bi­en­tais que a ac­ti­vi­dade im­plica.

A téc­nica para ex­trair gás de xisto é ha­bi­tu­al­mente de­sig­nada de «frac­king» ou frac­tura hi­dráu­lica e con­siste em in­jectar água e pro­dutos quí­micos no sub­solo para li­bertar o gás con­tido nas ro­chas.

As per­fu­ra­ções atingem mi­lhares de me­tros de pro­fun­di­dade e nem sempre o êxito está ga­ran­tido. Por isso, os agri­cul­tores afirmam que «po­demos ficar sem gás e sem água».

Aos pro­testos dos agri­cul­tores, o mi­nistro do Am­bi­ente, Marcin Ko­rolec, ci­tado pela IPS, re­tor­quiu: «O gás de xisto cons­titui uma enorme opor­tu­ni­dade para a Po­lónia. A mai­oria dos as­suntos am­bi­en­tais são ex­tre­ma­mente sen­sí­veis, como vemos na al­deia de Zu­ra­wlow, mas temos de manter a nossa rota e con­cre­tizar a nossa po­lí­tica».

 



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