- Nº 2071 (2013/08/8)
Novas medidas acentuam desgraça nacional

Despedimento fácil e barato

Assembleia da República

A maioria PSD/CDS-PP aprovou, com os votos contra de todos os outros partidos, o diploma que diminui o valor da compensação (passa para 12 dias por cada ano de trabalho, num limite de 12 anos) devida pela cessação do contrato de trabalho.

Image 13780

Com esta alteração ao Código do Trabalho – a quinta, sempre para pior –, mais um passo é dado no «caminho de desgraça nacional» trilhado pelo Governo e sua maioria.

É para «fomentar a modernização da economia», «garantir crescimento e competitividade às empresas», disse a deputada Clara Marques Mendes (PSD). O objectivo visado é «tornar mais fácil e barato os despedimentos, afinal tudo o que o País não precisa», ripostou o deputado comunista Jorge Machado, convicto de que «não vamos ser mais competitivos, nem criar emprego, nem tornar o País mais moderno facilitando e embaratecendo os despedimentos».

Ao reduzir as indemnizações, quando o País tem um milhão e meio de desempregados, o Governo o que está a fazer é «um convite ao despedimento em massa de trabalhadores», agravando o flagelo, denunciou o parlamentar do PCP.

Igualmente aprovados, em votação final global, com os votos do PS, PSD e CDS-PP, foram os regimes jurídicos do fundo de compensação de trabalho e do fundo de garantia de compensação do trabalho. De adesão obrigatória pelo empregador, o fundo é constituído com uma contribuição das empresas de 0,925% da remuneração de cada trabalhador.

Depois de o Governo ter reduzido de forma substancial o montante das indemnizações, este fundo assegura apenas até metade o valor a pagar das indemnizações por despedimento.

Para o PCP, que votou contra (tal como o PEV e BE), do que se trata, de «forma subtil», é de transferir para a gestão privada dinheiro que pertence aos trabalhadores e que decorre dessa responsabilidade absoluta dos patrões que é o pagamento das indemnizações.

Jorge Machado chamou ainda a atenção para o facto de não haver na lei nada que garanta que «os patrões não exijam aos trabalhadores o pagamento desse fundo ou que venha a ser a Segurança Social a pagar os seus custos».

Na perspectiva do PCP, a porta fica assim aberta à gestão privada daqueles fundos de compensação, ou seja à especulação da banca e das companhias de seguro, com os perigos daí inerentes que a realidade noutros países já comprovou serem reais.

 

Ataque brutal

A marcar de forma muito negativa a recta final dos trabalhos parlamentares esteve ainda a aprovação final dos diplomas que, por um lado, aumentam o horário de trabalho e, por outro, visam o despedimento de milhares de funcionários públicos, sob o eufemístico termo de «requalificação».

Ao aumentar o horário de trabalho de 35 para 40 horas semanais o que o Governo faz é aumentar a exploração, diminuindo 14% do salário, referiu no debate Jorge Machado, não vendo outra palavra para esta situação que não seja a de «roubo».

Como o Avante! referiu na passada semana, este diploma sobre «requalificação» impõe um novo regime de mobilidade especial que prevê um período máximo de 12 meses, findo o qual os trabalhadores são confrontados com a opção de ficar em lista de espera para eventual colocação (sem rendimento) ou escolher cessar o contrato de trabalho, tendo neste caso direito ao subsídio de desemprego. A remuneração corresponde a dois terços do salário nos primeiros seis meses e metade nos restantes, enquanto a situação se mantiver.

A gravidade destas medidas, que considera inconstitucionais, levou ainda Jorge Machado a catalogá-las como o «mais violento ataque à administração pública e aos seus trabalhadores».