Paraguai

Dilma na posse de Cartes

A pre­si­dente bra­si­leira Dilma Roussef tenta, na to­mada de posse do novo chefe de Es­tado pa­ra­guaio, Ho­racio Cartes, fazer re­gressar aquele país ao seio do Mer­cosul.

A ex­pec­ta­tiva de Rous­seff é que o dis­curso agres­sivo de Franco seja apa­zi­guado

Não são muitos os chefes de Es­tado em As­sunção, quinta-feira, 15, na ce­ri­mónia de to­mada de posse do novo pre­si­dente pa­ra­guaio Ho­racio Cartes. Um pre­si­dente que faz re­gressar ao poder o Par­tido Co­lo­rado, que sus­tentou a di­ta­dura de Al­fredo Stro­es­sener. Ainda assim, a ce­ri­mónia con­tará com a pre­sença de 80 de­le­ga­ções es­tran­geiras. O Uru­guai será um dos que se fará re­pre­sentar ao mais alto nível, através do pre­si­dente José Al­berto Mu­jica, bem como o Chile, com Se­bas­tian Piñera e Taiwan, com Ma Ying-Jeou. Mas será a pre­sença da pre­si­dente bra­si­leira Dilma Rous­seff a que se re­veste de maior im­por­tância. Dilma re­pre­senta o país que mais re­le­vância tem na eco­nomia pa­ra­guaia e, por outro lado, será também porta-voz de uma co­mu­ni­dade de países da Amé­rica do Sul que in­te­gram a Mer­cosul e da qual de­pende 30% do PIB pa­ra­guaio.

É essa co­mu­ni­dade, que não es­quece a des­ti­tuição do pre­si­dente Fer­nando Lugo e a sua subs­ti­tuição pelo seu vice-pre­si­dente Fre­de­rico Franco, num pro­cesso po­lé­mico e de le­ga­li­dade muito du­vi­dosa, con­si­de­rado por vá­rios es­tados e or­ga­ni­za­ções da re­gião como um ver­da­deiro «golpe». Este pro­cesso, que sus­citou dis­cursos azedos por parte de Dilma Rous­seff e também da chefe de Es­tado ar­gen­tina, Cris­tina Kirshner, es­teve na base da sus­pensão do Pa­ra­guai da Mer­cosul e da Unasul. Fre­de­rico Franco agravou a si­tu­ação ao res­ponder com ata­ques ao Brasil, à Ar­gen­tina e à Ve­ne­zuela, pre­ju­di­cando gra­ve­mente a eco­nomia pa­ra­guaia

Nem Kirshner, nem Ni­colás Ma­duro (Ve­ne­zuela) vão estar pre­sentes na posse de Ho­racio, e a ex­pec­ta­tiva de Rous­seff é que o dis­curso agres­sivo de Franco seja agora apa­zi­guado pelo novo pre­si­dente eleito.

Se a pers­pi­cácia di­plo­má­tica de Dilma con­se­guir ate­nuar di­ver­gên­cias pro­fundas entre o Pa­ra­guai e pra­ti­ca­mente toda a res­tante co­mu­ni­dade de es­tados da Amé­rica do Sul, será uma ra­zoável vi­tória, pres­ti­gi­ante para a pre­si­dente bra­si­leira, até porque não são muito ele­vadas as ex­pec­ta­tivas.

Cartes, o Ber­lus­coni da Amé­rica do Sul

O pro­cesso elei­toral de Abril de 2013 le­gi­timou na pre­si­dência do pa­ra­guai Ho­racio Cartes, que re­ce­berá o poder das mãos de Fre­de­rico Franco, pre­si­dente in­te­rino fruto do pro­cesso de des­ti­tuição do ex-bispo ca­tó­lico pro­gres­sista, Fer­nando Lugo. Com Cartes, a di­reita do Par­tido Co­lo­rado re­gres­sará ao poder. E quem é afinal o pre­si­dente do Pa­ra­guai?

Talvez a cir­cuns­tância deste ban­queiro de 56 anos, se­pa­rado e pai de três fi­lhos, ser um dos ho­mens mais ricos num país onde 40 por cento dos seus 6,6 mi­lhões de ha­bi­tantes vivem em es­tado de pro­funda po­breza, e a cir­cuns­tância de ser também de­tentor de um clube de fu­tebol, o Li­bertad, tenha jus­ti­fi­cado, para a AFP, a com­pa­ração de Ho­racio Cartes com o ex-pri­meiro-mi­nistro ita­liano Sílvio Ber­lus­coni. Porém, na ver­dade, as coin­ci­dên­cias são mais evi­dentes.

Se o pro­cesso que es­teve na origem do afas­ta­mento de Fer­nando Lugo e con­duziu Ho­racio Cartes ao poder nas elei­ções de Abril está mar­cado por sus­peitas de ile­ga­li­dade, também o pró­prio pro­cesso de se­lecção do can­di­dato pelo Par­tido Co­lo­rado foi tudo menos de­mo­crá­tico. Cartes, que nunca terá vo­tado até 2009, al­tura em que se fi­liou na­quele par­tido de di­reita com mais de 60 anos de his­tória, 35 dos quais li­gados à di­ta­dura de Stro­es­sener, obrigou o par­tido a pro­ceder a uma al­te­ração es­ta­tu­tária para le­gi­timar a sua can­di­da­tura. Como Ho­racio Cartes só tinha quatro anos de mi­li­tância no Co­lo­rado quando o os es­ta­tutos obri­gavam a que o seu can­di­dato pre­si­den­cial ti­vesse um mí­nimo de 10...mu­daram-se os es­ta­tutos.

Este me­câ­nico de ae­ro­náu­tica, for­mado nos EUA, que detém mais de uma de­zena de em­presas nas áreas das carnes, ta­baco, re­fri­ge­rantes e in­dús­tria ae­ro­náu­tica, terá no seu his­to­rial, se­gundo um dos seus ad­ver­sá­rios, o li­beral Efrain Alegre, uma prisão por evasão de di­visas. É também Efrain que o acusa de con­tra­bando de ci­garros para o Brasil, de trá­fico de droga e de la­vagem de di­nheiro, tudo acu­sa­ções que o então can­di­dato negou.

O que «Scar­face» não pode negar – epí­teto co­lo­cada por ter uma ci­ca­triz no rosto – é, se­gundo a BBC, a pre­sença no seu apa­relho de um in­di­víduo de nome Fran­cisco Cu­adra, que terá feito parte do go­verno do di­tador chi­leno Au­gusto Pi­no­chet.


Pro­fes­sores mantêm pro­testo

O dia da to­mada de posse de Ho­racio Cartes é ainda mar­cado por uma marcha de pro­fes­sores, em greve há duas se­manas. Nesta marcha que terá lugar em As­sunção, no dia 15, os pro­fes­sores pro­curam ga­rantir o au­mento das pen­sões. Esta mo­vi­men­tação, que pro­mete fe­char ruas da ca­pital em dia da to­mada de posse do pre­si­dente, dura há pelo menos duas se­manas com uma greve que será pro­lon­gada até dia 28 e que vem pa­ra­li­sando me­tade dos cen­tros edu­ca­tivos do país.

A ce­ri­mónia, que du­rará dois dias, con­tará com um sis­tema de se­gu­rança com­posto por mais de 4500 po­li­cias e mi­li­tares.




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