Apresentada a «Fotobiografia de Álvaro Cunhal»

O livro das nossas vidas

O lan­ça­mento pelas Edi­ções Avante! da «Fo­to­bi­o­grafia de Álvaro Cu­nhal», que teve lugar no pas­sado dia 22, em Lisboa, é um acon­te­ci­mento edi­to­rial mar­cante e um ponto alto das co­me­mo­ra­ções do cen­te­nário do nas­ci­mento do his­tó­rico di­ri­gente do Par­tido Co­mu­nista Por­tu­guês e do mo­vi­mento co­mu­nista in­ter­na­ci­onal. Para além de ser, in­ques­ti­o­na­vel­mente, uma edição de grande qua­li­dade grá­fica e enorme in­te­resse e rigor his­tó­rico, a «Fo­to­bi­o­grafia de Álvaro Cu­nhal» per­mite também co­nhecer me­lhor a vida, o pen­sa­mento e a luta de uma fi­gura fas­ci­nante (que se con­funde com o Par­tido do qual foi o mais des­ta­cado cons­trutor) e, ao mesmo tempo, a pró­pria his­tória do País e do mundo em que vi­vemos, da qual foi um des­ta­cado pro­ta­go­nista.

A Fo­to­bi­o­grafia consta de 860 ima­gens, muitas iné­ditas

O au­di­tório da Es­cola Se­cun­dária Ca­mões foi pe­queno para aco­lher as largas cen­tenas de pes­soas que fi­zeram questão de par­ti­cipar, ao fim da tarde do dia 22, na sessão de lan­ça­mento da «Fo­to­bi­o­grafia de Álvaro Cu­nhal». Entre a as­sis­tência que trans­bordou aquele es­paço es­tavam di­ri­gentes e mi­li­tantes do PCP, fa­mi­li­ares e amigos de Álvaro Cu­nhal, re­pre­sen­tantes de sin­di­catos e as­so­ci­a­ções, per­so­na­li­dades das mais va­ri­adas áreas da vida na­ci­onal. Gente de todas as idades, ex­pe­ri­ên­cias e for­mação, unidos na ho­me­nagem a Álvaro Cu­nhal, de quem Je­ró­nimo de Sousa diria, na sua in­ter­venção, ser um «homem de cul­tura in­te­gral e in­vulgar in­te­li­gência, de firmes con­vic­ções hu­ma­nistas, in­tei­reza de ca­rácter».

Va­lo­ri­zando a qua­li­dade da edição, o Se­cre­tário-geral do PCP con­si­derou que ela «con­tendo uma his­tória pes­soal de um homem ex­tra­or­di­nário, co­mu­nista con­victo, re­vela não apenas o tra­jecto de uma vida de tra­balho, luta, co­ragem e dig­ni­dade, vi­vida em nome da con­cre­ti­zação do ideal de cons­trução de uma so­ci­e­dade li­berta da ex­plo­ração do homem pelo homem, mas também a his­tória das nossas pró­prias vidas no úl­timo sé­culo». Nesta his­tória, acres­centou Je­ró­nimo de Sousa, Álvaro Cu­nhal foi um «pro­ta­go­nista des­ta­cado, pre­sente nos mais sig­ni­fi­ca­tivos e im­por­tantes acon­te­ci­mentos da nossa vida co­lec­tiva».

Mas não é só de his­tória que se fala nesta «Fo­to­bi­o­grafia». É também, e muito, de fu­turo: desse fu­turo que Álvaro Cu­nhal legou às ge­ra­ções que o su­ce­deram com o seu exemplo, com a sua obra, com o seu Par­tido, o Par­tido Co­mu­nista Por­tu­guês, do qual foi o mais des­ta­cado cons­trutor e ao qual deu, nas pa­la­vras de Je­ró­nimo de Sousa, um «con­tri­buto no­tável na de­fi­nição do seu pro­jecto po­lí­tico», desde os anos 40 do sé­culo pas­sado até ao ac­tual Pro­grama do PCP, «Uma De­mo­cracia Avan­çada – os Va­lores de Abril no Fu­turo de Por­tugal».

O Se­cre­tário-geral do Par­tido sa­li­entou ainda que no mo­mento em que vi­vemos, mar­cado pela mais vi­o­lenta ofen­siva desde o fas­cismo contra di­reitos e con­quistas que re­sultam da luta de vá­rias ge­ra­ções, tem par­ti­cular ac­tu­a­li­dade aquela que foi (em grande me­dida de­vido à con­tri­buição de Álvaro Cu­nhal) a pa­lavra de ordem do PCP nessa já dis­tante dé­cada de 40, e a partir dela: «estar onde estão as massas, tra­ba­lhar e aprender com elas, e com elas agir na de­fesa dos seus in­te­resses.»

 

O valor do tra­balho co­lec­tivo

 

Ca­berá uma vida como a de Álvaro Cu­nhal num livro? A res­posta deu-a Ma­nuel Ro­dri­gues, membro do Co­mité Cen­tral e do grupo de tra­balho que ela­borou a «Fo­to­bi­o­grafia», ao re­a­firmar a im­pos­si­bi­li­dade de verter na obra a «to­ta­li­dade de uma vida tão in­ten­sa­mente vi­vida , sob a força pro­pul­sora de um ideal». Por essa razão, ex­pli­citou, foram feitas «op­ções e su­bli­nhados sobre áreas, do­mí­nios e acon­te­ci­mentos sig­ni­fi­ca­tivos no quadro dos va­lores que nor­te­aram a sua acção, numa com­bi­nação di­a­lé­tica entre o in­di­vi­dual e o co­lec­tivo».

Ao longo dos 10 ca­pí­tulos que com­põem esta Fo­to­bi­o­grafia cruzam-se os acon­te­ci­mentos po­lí­ticos, so­ciais e cul­tu­rais com as­pectos da vida pes­soal e fa­mi­liar de Álvaro Cu­nhal, pro­cu­rando-se assim, pre­cisou Ma­nuel Ro­dri­gues, «evi­den­ciar todas as di­men­sões da sua per­so­na­li­dade, in­cluindo a sua forte ver­tente hu­mana» – como afir­maria de­pois Je­ró­nimo de Sousa, Álvaro Cu­nhal «amou os seus com a mesma in­ten­si­dade com que foi amado», o que so­bressai com «cris­ta­lina trans­pa­rência nesta Fo­to­bi­o­grafia».

Na mesa que pre­sidiu à sessão es­tavam ainda Fran­cisco Melo, di­rector das Edi­ções Avante! e membro do Co­mité Cen­tral do PCP, e José Araújo, ar­tista grá­fico e par­ti­ci­pante no grupo de tra­balho levou por di­ante a exe­cução do livro. Fran­cisco Melo va­lo­rizou o «tra­balho ab­ne­gado de vá­rios ca­ma­radas» e o «tra­balho co­lec­tivo que ca­rac­te­riza o nosso Par­tido» como fac­tores es­sen­ciais para que a «Fo­to­bi­o­grafia de Álvaro Cu­nhal» seja, hoje, uma re­a­li­dade, onde se alia a «qua­li­dade grá­fica a dois ou­tros pre­di­cados cuja re­le­vância cumpre sa­li­entar: o in­dis­cu­tível valor his­tó­rico, pela quan­ti­dade e im­por­tância da in­for­mação nela reu­nida e sis­te­ma­ti­zada; e o ele­vado valor pe­da­gó­gico e for­ma­tivo». Em Álvaro Cu­nhal, a «in­te­gri­dade de ca­rácter e a moral tra­du­zida numa con­duta sem con­ces­sões, atin­giram o nível da exem­pla­ri­dade«, re­alçou Fran­cisco Melo, ga­ran­tindo que isso será claro para quem, sem pre­con­ceitos, parta desta «Fo­to­bi­o­grafia» para a apre­ensão do sig­ni­fi­cado pro­fundo da vida, do pen­sa­mento e da obra do fo­to­bi­o­gra­fado e do ideal ao qual de­dicou toda a sua vida.

Um mundo a ex­plorar

A «Fo­to­bi­o­grafia de Álvaro Cu­nhal» consta de 860 ima­gens, grande parte das quais iné­ditas: cerca de 600 fo­to­gra­fias e 260 do­cu­mentos, de­se­nhos, pin­turas e ilus­tra­ções, al­guns dos quais nunca antes pu­bli­cados. A obra está or­ga­ni­zada em 10 ca­pí­tulos, oito dos quais se­quen­ci­ados de forma cro­no­ló­gica: «In­fância e ado­les­cência (1913-1929)»; «Ju­ven­tude (1929-1949)»; «PCP, grande par­tido na­ci­onal (1940-1949)»; «A re­sis­tência na prisão (1949-1969)»; «Rumo à Vi­tória (1960-1974)»; «Na Re­vo­lução de Abril (1974-1976)»; «Na luta dos tra­ba­lha­dores e do povo (1976-1992)«; «Uma in­tensa ac­ti­vi­dade até ao fim da vida (1992-2005)».

O nono ca­pí­tulo, in­ti­tu­lado «A arte, o ar­tista e a so­ci­e­dade», evi­dencia a di­mensão ar­tís­tica de Álvaro Cu­nhal e o dé­cimo, «Vida, pen­sa­mento e luta», des­taca di­men­sões mar­cantes da sua con­cepção e prá­tica po­lí­ticas de re­cusa de van­ta­gens e pri­vi­lé­gios pes­soais, a sua no­tável obra teó­rica mar­xista-le­ni­nista, a sua con­tri­buição de­ci­siva na cons­trução do PCP e a in­ter­venção con­victa e per­ma­nente na afir­mação do ideal e do pro­jecto co­mu­nistas.

 



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Ao longo de mais de 290 pá­ginas, a «Fo­to­bi­o­grafia» re­vela as múl­ti­plas fa­cetas da per­so­na­li­dade de Álvaro Cu­nhal (mi­li­tante e di­ri­gente re­vo­lu­ci­o­nário, teó­rico do mar­xismo-le­ni­nismo, in­te­lec­tual, ar­tista, filho, irmão, pai, com­pa­nheiro) e os múl­ti­plos com­bates que travou, ao longo de mais de sete dé­cadas de de­di­cada mi­li­tân­tica co­mu­nista, pela li­ber­dade, a de­mo­cracia, a paz e o so­ci­a­lismo.
Nestas duas pá­ginas mos­tramos al­gumas das 820 ima­gens pu­bli­cadas nesta «Fo­to­bi­o­grafia», sig­ni­fi­ca­tivas da in­tensa e exem­plar vida de Álvaro Cu­nhal, que se con­funde com a he­róica luta do Par­tido Co­mu­nista Por­tu­guês, do qual foi o mais des­ta­cado cons­trutor, e do povo por­tu­guês.