Mais do que uma homenagem a Álvaro Cunhal, o CD evocativo do centenário do seu nascimento, promovido pela JCP, é de certa forma a concretização daquela que seria, para o histórico dirigente do PCP, uma verdadeira política cultural: em vez da imposição, a liberdade; ao invés do garrote, o estímulo.
A um conjunto de artistas e bandas foi colocado o desafio de criarem temas originais a partir da frase de Álvaro Cunhal «Nas nossas mãos os destinos das nossas vidas», que dá nome ao CD. Nada mais. Nem a frase teria de surgir nas letras das canções (nem elas teriam que ter uma letra, tão-pouco), nem estas teriam de referir o nome de Álvaro Cunhal. Ela era, acima de tudo, uma inspiração, um mote, um ponto de partida.
O resultado é uma feliz compilação de temas, dos mais variados estilos musicais – do rock ao hip-hop, da música tradicional ao punk –, em que a revolta contra as injustiças e a esperança (activa!) por um futuro melhor impera nas palavras e na atitude colocada em cada uma das canções. Ou não fossem os seus autores vítimas, eles próprios, da política de direita e do pacto de agressão, que destrói e precariza o emprego, que elitiza e degrada a escola, que empurra dezenas de milhares de jovens para a emigração. Que transforma a criação cultural num privilégio de poucos, transformando num verdadeiro calvário a vida de jovens bandas e artistas, como aquelas que participam neste CD.
Na apresentação da compilação, realizada no sábado ao início da tarde na Cidade da Juventude, participaram Tiago Vieira, do Secretariado da Direcção Nacional da JCP, Vanessa Borges, dirigente da JCP e membro da banda «Chão da Feira», que integra o disco, e JP, baterista dos «Gazua», outro dos grupos participantes. Depois de Vanessa Borges ter afirmado que não foi difícil convencer os restantes artistas e bandas a integrarem o disco, JP confessou o «prazer enorme» que sentiu em fazer parte deste projecto e da «causa que lhe está por detrás». O músico valorizou ainda a iniciativa da JCP, ao dar a oportunidade a bandas que, não sendo da «primeira liga» da música portuguesa, têm qualidade e merecem todo o apoio.
Integram o CD evocativo do centenário de Álvaro Cunhal os seguintes projectos: 10 000 Russos (Nikolai); An X Tasy (I am free); C4 (Marcha do Tempo); Chão da Feira (Que Seja Nosso o Nosso Destino); Concierge (Dedo na Ferida); Duplo Manifesto (O Silêncio); Gato por Lebre (O Tempo); Gazua (Loucos); God Bless Jack (Paradise to Be); Homem de Marte & os Invasores (2013 AC); KSF (Comunicado à População); mendigos & Ladrões (Revolução); Never End (The Script); Set (Vandalismo); Smoking Beer (Se Não Vai, Empurra-se); Valu (Alvorada). A produção é de Fernando Matias e Rui Guerra.