Venezuela

Maduro expulsa diplomatas dos EUA

Três di­plo­matas dos EUA foram esta se­mana ex­pulsos da Ve­ne­zuela, acu­sados de cons­pirar contra o go­verno de Ma­duro. Com os di­plo­matas se­guiu o re­la­tório com­pleto e mi­nu­ci­osos da cons­pi­ração.

Ni­colas Ma­duro as­se­gurou ter na sua posse todas as provas da cons­pi­ração da di­plo­macia norte-ame­ri­cana

O re­la­tório sobre a ten­ta­tiva de cons­pi­ração contra o go­verno ve­ne­zu­e­lano de Ni­colas Ma­duro é ex­tenso e mi­nu­cioso e des­tina-se ao se­cre­tário de Es­tado norte-ame­ri­cano John Kerry. Nele a di­plo­macia ve­ne­zu­e­lana for­nece fo­to­gra­fias, de­cla­ra­ções e tes­te­mu­nhos de todas as mo­vi­men­ta­ções dos di­plo­matas norte-ame­ri­canos, de­sig­na­da­mente reu­niões que os três fun­ci­o­nário das em­bai­xada dos EUA em Ca­racas, Kelly Kei­der­lang, en­car­re­gada de ne­gó­cios, David Moo, vice-cônsul e Eli­za­beth Hus­sman ti­veram com o go­ver­nador do es­tado de Bo­lívar, Li­bório Gua­ruya, um opo­sitor ao go­verno de Ma­duro e que, se­gundo as au­to­ri­dades ve­ne­zu­e­lanas, é uma das fi­guras fun­da­men­tais da cons­pi­ração.

«O re­la­tório está à ordem do se­cre­tário de Es­tado dos EUA, John Kerry», disse o chefe da di­plo­macia ve­ne­zu­e­lana, Elias Jaua: «Se ele quer saber o que fazem os fun­ci­o­ná­rios aqui, se é que não sabe, aqui está toda a in­for­mação, com fotos, com de­cla­ra­ções de tes­te­mu­nhas, carros (usados), reu­niões gra­vadas e fo­to­gra­fadas, da ac­tu­ação ab­so­lu­ta­mente ilegal destes fun­ci­o­ná­rios da em­bai­xada dos Es­tados Unidos», re­velou Elias Jaua, ci­tado pela Lusa.

Se­gundo o mi­nistro ve­ne­zu­e­lano, de­pois desta vi­sita dos três fun­ci­o­ná­rios agora ex­pulsos ao go­ver­nador Li­bório Gua­ruya «co­meçou uma onda de pro­testos, a ocu­pação vi­o­lenta do Hotel Ama­zonas, quando es­tavam pre­sentes mi­nis­tros do go­verno bo­li­va­riano», afirmou Jaua.

Das mo­vi­men­ta­ções de­vi­da­mente ex­pla­nadas e re­fe­ridas como do­cu­men­tadas, o mi­nistro das Re­la­ções Ex­ternas afirma que os di­plo­matas dos EUA terão reu­nido com di­ri­gentes in­dí­genas, «para pro­mover uma re­be­lião no es­tado de Ama­zonas» e que, de­pois, neste mesmo es­tado, terão reu­nido «na sede da or­ga­ni­zação (opo­si­tora) Sú­mate», facto que, afirmam, está de­vi­da­mente com­pro­vado com fotos, gra­va­ções e de­poi­mentos que se­guiram no re­la­tório en­viado a Washington.

De­pois, re­fere ainda o mi­nistro Jaua, na ci­dade de Bo­lívar os re­fe­ridos di­plo­matas dos EUA «reu­niram-se com lí­deres sin­di­cais da di­reita para in­cen­tivar e atiçar a pa­ra­li­sação da Sidor (Si­de­rúr­gica Na­ci­onal) e ou­tras em­presas fun­da­men­tais da re­gião de Guayana, para fo­mentar blo­queios de ave­nidas e pro­vocar frus­tração nas pes­soas».

Ordem de ex­pulsão

Aos di­plo­matas norte-ame­ri­canos em questão foi dado um prazo de 48 horas, que ex­pirou quarta-feira, 2, para aban­do­narem a Ve­ne­zuela. Essa ordem de ex­pulsão partiu do pre­si­dente ve­ne­zu­e­lano Ni­colas Ma­duro que, du­rante a ce­ri­mónia do bi­cen­te­nário da ba­talha de Bár­bula (ba­talha pela in­de­pen­dência da Ve­ne­zuela onde caiu Anas­tacio Gi­rardot, com­pa­nheiro de Simon Bo­lívar), as­se­gurou ter na sua posse todas as provas da cons­pi­ração da di­plo­macia norte-ame­ri­cana: «Tenho as provas na minha mão», disse Ma­duro ex­pli­cando que estes três di­plo­matas dos EUA se de­di­caram, du­rante vá­rios meses, a reunir-se com os sec­tores da ex­trema-di­reita, fi­nan­ci­ando-os e es­ti­mu­lando-os a de­sen­ca­de­arem ac­ções de sa­bo­tagem do sis­tema eléc­trico ve­ne­zu­e­lano e da pró­pria eco­nomia do país. E, pros­segue o pre­si­dente Ma­duro: «Disse ao mi­nistro dos Ne­gó­cios Es­tran­geiros, Elías Jaua, que pro­ce­desse de ime­diato à ex­pulsão, dando-lhes 48 horas para saírem do país. Fora da Ve­ne­zuela, ‘yan­kees go home'», pre­cisou.

Na sequência deste in­ci­dente o pre­si­dente ve­ne­zu­e­lano, se­gundo a Prensa La­tina, anun­ciou a cri­ação de um Centro Es­tra­té­gico de Se­gu­rança e Pro­tecção da Pá­tria, en­ti­dade para a qual, ex­plicou, con­tri­buirão todos os or­ga­nismos de in­ves­ti­gação do país.


Pro­grama para o so­ci­a­lismo

En­tre­tanto, Ni­colas Ma­duro apre­sentou esta se­mana, para dis­cussão no par­la­mento ve­ne­zu­e­lano, um pro­grama de go­verno para ser exe­cu­tado nos pró­ximos seis anos. Ela­bo­rado pelo ex-pre­si­dente, en­tre­tanto fa­le­cido, Hugo Chavez, este pro­jecto de tran­sição do país para uma so­ci­e­dade so­ci­a­lista as­senta em cinco ob­jec­tivos es­tra­té­gicos: de­fesa, ex­pansão e con­so­li­dação da in­de­pen­dência na­ci­onal; pros­se­gui­mento na cons­trução do so­ci­a­lismo; con­versão da Ve­ne­zuela numa po­tência so­cial, eco­nó­mica e po­lí­tica; de­sen­vol­vi­mento de uma nova ge­o­po­lí­tica in­ter­na­ci­onal e con­tri­buição do país para a pre­ser­vação da vida no pla­neta.

É um pro­grama que in­cor­pora pro­postas que foram che­gando, de­sig­na­da­mente através de um portal na web, num pro­cesso de con­sulta po­pular con­vo­cado pelo ex-pre­si­dente Hugo Chavez logo após a sua re­e­leição para um quarto man­dato, em 7 de Ou­tubro de 2012. No úl­timo tri­mestre do ano pas­sado, re­a­li­zaram-se, em todo o país, re­fere a Prensa La­tina, as­sem­bleias po­pu­lares, das quais che­garam mais de 10 mil pro­postas agora con­den­sadas nestes cinco ob­jec­tivos es­tra­té­gicos plas­mados no pro­grama de go­verno en­tregue esta se­mana pelo go­verno ve­ne­zu­e­lano ao pre­si­dente da As­sem­bleia Na­ci­onal, Di­os­dado Ca­bello.

 



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