A RESPOSTA NECESSÁRIA

«A CGTP-IN sai mais pres­ti­giada; o Go­verno sai mais iso­lado»

À ati­tude pre­po­tente e pro­vo­ca­tória do Go­verno Passos/​Portas, proi­bindo a marcha a pé na Ponte 25 de Abril, deu a CGTP-IN a res­posta ne­ces­sária – com a se­re­ni­dade, a lu­cidez, a de­ter­mi­nação e a fir­meza que a ca­rac­te­rizam e fazem dela a grande cen­tral sin­dical dos tra­ba­lha­dores por­tu­gueses.

A pro­vo­cação ar­di­lo­sa­mente mon­tada pelo Go­verno, via mi­nistro da Ad­mi­nis­tração In­terna, (este em tom e pose a fazer lem­brar os mi­nis­tros do In­te­rior do an­ti­ga­mente) tinha todos os con­di­mentos para levar a água ao moinho dos que, pelo con­teúdo de classe da po­lí­tica que pra­ticam, fazem dos tra­ba­lha­dores o seu alvo pri­mor­dial – e temem, acima de tudo, a luta or­ga­ni­zada das massas tra­ba­lha­doras.

A res­posta da CGTP-IN foi o que se viu: as mar­chas por Abril em Lisboa, no Porto e nas Re­giões Au­tó­nomas, tra­zendo para as ruas cen­tenas de mi­lhares de tra­ba­lha­dores, foram, cada uma à sua ma­neira, po­de­rosas de­mons­tra­ções da força e da ca­pa­ci­dade de mo­bi­li­zação do mo­vi­mento sin­dical uni­tário. Foram, no seu con­junto, uma clara afir­mação de dig­ni­dade e de co­ragem por parte dos tra­ba­lha­dores; uma con­clu­dente afir­mação da com­ba­ti­vi­dade e da uni­dade das massas; uma po­de­rosa jor­nada de luta por Abril, pela Cons­ti­tuição da Re­pú­blica Por­tu­guesa, pela so­be­rania e a in­de­pen­dência na­ci­onal.

E cons­ti­tuíram, por tudo isso, uma inequí­voca exi­gência de de­missão do Go­verno, de re­jeição do pacto das troikas e da po­lí­tica de di­reita – e uma igual­mente inequí­voca afir­mação da dis­po­ni­bi­li­dade dos tra­ba­lha­dores para pros­se­guirem e in­ten­si­fi­carem a luta até à con­quista de uma po­lí­tica ins­pi­rada nos va­lores de Abril, por­tanto ao ser­viço dos in­te­resses dos tra­ba­lha­dores, do povo e do País.

Da grande e po­de­rosa jor­nada de luta, e do ca­rácter his­tó­rico que, por di­versas cir­cuns­tân­cias, as­sumiu, é justo e in­dis­pen­sável sa­li­entar o tra­balho pre­pa­ra­tório que a an­te­cedeu, le­vado a cabo por mi­lhares de sin­di­ca­listas – bem como pelas or­ga­ni­za­ções e mi­li­tantes do PCP, que disso fi­zeram ta­refa pri­o­ri­tária – através de um es­forço gi­gan­tesco e só pos­sível vindo de gente que sabe o que quer e tem cons­ci­ência do papel que lhe cabe face à po­lí­tica de di­reita, ao ter­ro­rismo so­cial, aos roubos nos ren­di­mentos e nos di­reitos dos tra­ba­lha­dores, dos re­for­mados e pen­si­o­nistas, dos jo­vens, enfim da imensa mai­oria dos por­tu­gueses.

Na me­mória dos que cons­truíram esta me­mo­rável acção de luta per­ma­ne­cerão, cer­ta­mente, como si­nais para o fu­turo, a con­vicção e a con­fi­ança evi­den­ci­adas pela ge­ne­ra­li­dade dos ma­ni­fes­tantes; a pos­tura com­ba­tiva as­su­mida, in­clu­sive, por gente que par­ti­ci­pava pela pri­meira vez numa ma­ni­fes­tação da CGTP-IN; a se­rena fir­meza com que foi des­mon­tada a pro­vo­cação en­gen­drada pelo Go­verno – e os mo­mentos de so­li­dária ca­ma­ra­dagem com que a mul­tidão, em Al­cân­tara, re­cebia os au­to­carros que ha­viam atra­ves­sado a Ponte 25 de Abril: com gritos e pu­nhos cer­rados de con­fi­ança e força e com lá­grimas de emoção, que eram também de con­fi­ança e força, em muitos olhos…

Quem não viu nada do que lá se passou e viu, apenas e só, o que, mesmo antes de a marcha se re­a­lizar, já tinha de­ci­dido ver, foram os media do­mi­nantes – salvo raras, hon­rosas e as­si­na­lá­veis ex­cep­ções. Na ver­dade, a ge­ne­ra­li­dade desses ór­gãos de pro­pa­ganda da po­lí­tica das troikas segue as or­dens do dono como as ga­li­nhas se­guem o risco que lhes traçam à frente dos olhos. Uma vez mais, vimos o ine­vi­tável órgão da Sonae a as­sumir a van­guarda no cum­pri­mento da ta­refa: anun­ci­ando o «fa­lhanço» da CGTP-IN e a «vi­tória» do «mi­nistro Mi­guel Ma­cedo»; e dando à es­tampa uma «re­por­tagem» sobre a marcha de Lisboa que, co­zi­nhada de acordo com a re­ceita e os tem­peros dos cri­té­rios «in­for­ma­tivos» em vigor na­quele jornal, só podia dar no que deu…

Nos ata­ques à CGTP-IN também não po­diam faltar, e não fal­taram, os ra­di­ca­listas do verbo fácil, ca­te­drá­ticos em tác­tica, es­tra­tégia & seus de­ri­vados, re­vo­lu­ci­o­ná­rios on­line, irados, acu­sando a Cen­tral de não querer fazer a «re­vo­lução já!» – e em vá­rios casos afi­nando pelo mesmo di­a­pasão dos media do grande ca­pital.

Duas coisas são certas: a CGTP-IN sai mais pres­ti­giada da grande jor­nada do dia 19 – e o Go­verno sai mais iso­lado po­lí­tica e so­ci­al­mente.

E o êxito do dia 19 cons­ti­tuiu um forte es­tí­mulo à in­ten­si­fi­cação da luta. Vejam-se as greves já mar­cadas para este mês de Ou­tubro e iní­cios de No­vembro (CTT, Metro, So­flusa e Trans­tejo, CP, Carris, Ad­mi­nis­tração Pú­blica, Trans­portes, etc., etc.), com des­taque es­pe­cial para a con­cen­tração do dia 1 de No­vembro, junto da As­sem­bleia da Re­pú­blica, quando da vo­tação do Or­ça­mento do Es­tado para 2014 – um OE que é bem a amostra do con­teúdo de classe e das prá­ticas pre­da­doras deste Go­verno e desta po­lí­tica: com mais ex­plo­ração e mais em­po­bre­ci­mento; com mais as­saltos aos di­reitos la­bo­rais e mais be­ne­fí­cios para o grande ca­pital; com mais men­tiras sobre a pre­tensa equi­dade na dis­tri­buição dos sa­cri­fí­cios; com mais um roubo de 3200 mi­lhões de euros aos tra­ba­lha­dores e aos re­for­mados; com mais fa­mí­lias ati­radas para a po­breza e a mi­séria; com mais vi­o­la­ções da Cons­ti­tuição e mais apoio do Pre­si­dente da Re­pú­blica às prá­ticas an­ti­cons­ti­tu­ci­o­nais do Go­verno – é, por­tanto, um OE a exigir mais e mais fortes lutas or­ga­ni­zadas das massas, mais e mais re­forço da uni­dade e acção dos de­mo­cratas e pa­tri­otas. E, por tudo isso, a exigir a con­ti­nu­ação da in­ter­venção in­tensa e cri­a­tiva do co­lec­tivo par­ti­dário co­mu­nista – no pró­ximo fim-de-se­mana em­pe­nhado na re­a­li­zação desse mo­mento alto do Cen­te­nário que é o Con­gresso «Álvaro Cu­nhal, o pro­jecto co­mu­nista e o mundo de hoje».