Viva o 7 de Novembro!

Albano Nunes

As der­rotas no ca­minho da li­ber­tação são tem­po­rá­rias e com­portam sempre li­ções

Cele­brar as he­róicas jor­nadas de 7 de No­vembro de 1917 é muito mais do que exer­cício de me­mória e justa ho­me­nagem ao pro­le­ta­riado russo e à van­guarda bol­che­vique que o guiou na con­quista do poder. É uma opor­tu­ni­dade para re­flectir sobre o ca­minho per­cor­rido desde aqueles «dez dias que aba­laram o mundo» e daí ex­trair en­si­na­mentos para a luta no pre­sente pela re­a­li­zação dos mesmos ideais de eman­ci­pação so­cial e hu­mana que agi­gan­taram os re­vo­lu­ci­o­ná­rios que se lan­çaram, com in­des­cri­tível en­tu­si­asmo e de­ter­mi­nação, no em­pre­en­di­mento iné­dito de cons­trução de uma so­ci­e­dade sem ex­plo­ra­dores nem ex­plo­rados

É in­con­tes­tável que o novo sis­tema eco­nó­mico e so­cial, as­sente na in­ter­venção e cri­a­ti­vi­dade das massas, mos­trou ra­pi­da­mente a sua su­pe­ri­o­ri­dade e se pro­jectou entre os ex­plo­rados e opri­midos de todo o mundo como um farol de es­pe­rança, con­creta pos­si­bi­li­dade de re­or­ga­nizar a so­ci­e­dade no in­te­resse dos tra­ba­lha­dores e es­tí­mulo po­de­roso à sua luta. O fas­cismo e a guerra de agressão à pá­tria de Lé­nine foi a re­acção cri­mi­nosa do poder dos mo­no­pó­lios ao avanço im­pe­tuoso do so­ci­a­lismo, mas a sua der­rota, com a de­ci­siva con­tri­buição da URSS, sig­ni­ficou um novo salto li­ber­tador. Os anos que se se­guiram à 2.ª Guerra Mun­dial fi­caram mar­cados por um novo ciclo de de­sen­vol­vi­mento ca­pi­ta­lista pro­pi­ciado pela gi­gan­tesca des­truição de forças pro­du­tivas que a guerra pro­vocou. Mas fi­caram so­bre­tudo mar­cados pelo avanço do mo­vi­mento ope­rário nos países ca­pi­ta­listas, pelas po­de­rosas lutas de li­ber­tação na­ci­onal que con­du­ziram à der­ro­cada dos im­pé­rios co­lo­niais, pela ex­tensão do campo dos países so­ci­a­listas a um terço da Hu­ma­ni­dade.

Perante as trá­gicas der­rotas do so­ci­a­lismo no final do sé­culo XX e as re­cor­rentes cam­pa­nhas sobre a «morte» e a «in­vi­a­bi­li­dade» do ideal e do pro­jecto co­mu­nista, e mesmo a sua cri­mi­na­li­zação, é opor­tuno re­cordar estas re­a­li­dades. Porque é ne­ces­sário com­bater as men­tiras anti-co­mu­nistas e o re­vi­si­o­nismo his­tó­rico que está a ali­mentar o cres­ci­mento da ex­trema di­reita po­pu­lista e fas­ci­zante por essa Eu­ropa fora. Por dever de so­li­da­ri­e­dade para com os co­mu­nistas que estão a ser dis­cri­mi­nados, per­se­guidos e mesmo ile­ga­li­zados em vá­rios ex-países so­ci­a­listas. Porque o res­ta­be­le­ci­mento da ver­dade sobre as ex­pe­ri­ên­cias his­tó­ricas do so­ci­a­lismo, com­por­tando em­bora atrasos, erros e graves de­for­ma­ções, é da maior im­por­tância para re­lançar na cons­ci­ência e na von­tade dos povos a atracção pelo ideal e o pro­jecto co­mu­nista.

Os êxitos do novo sis­tema so­cial e a sua grande con­tri­buição para o pro­gresso so­cial e a paz no mundo le­varam a es­quecer a pre­venção de Lé­nine de que se­riam ne­ces­sá­rias vá­rias ten­ta­tivas para al­cançar a vi­tória de­fi­ni­tiva sobre o ca­pi­ta­lismo, e no mo­vi­mento co­mu­nista à ge­ne­ra­li­zação da ideia da ir­re­ver­si­bi­li­dade das con­quistas do so­ci­a­lismo. O trá­gico de­sa­pa­re­ci­mento da so­ci­e­dade ini­ciada pela Re­vo­lução de Ou­tubro, veio mos­trar que o pro­cesso re­vo­lu­ci­o­nário mun­dial é mais com­plexo, aci­den­tado e de­mo­rado do que foi pre­visto. Mas como já Marx su­bli­nhara a pro­pó­sito da Co­muna de Paris, as der­rotas no ca­minho da li­ber­tação são tem­po­rá­rias e com­portam sempre li­ções para a con­ti­nu­ação de uma luta que tem a seu favor a ne­ces­si­dade his­tó­rica.

É bem co­nhe­cida a afir­mação de Lé­nine de que todas as na­ções che­garão ao so­ci­a­lismo mas que, no quadro de leis ge­rais co­muns, cada uma o fará à sua ma­neira. Na con­ti­nui­dade his­tó­rica da Re­vo­lução de Abril, a de­mo­cracia avan­çada que o PCP aponta aos tra­ba­lha­dores e ao povo é parte in­te­grante e in­dis­so­ciável da luta pelo so­ci­a­lismo em Por­tugal.




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